Catar acolherá novas negociações por uma trégua entre Israel e Hamas em Gaza
Israel detalhou na terça-feira suas condições para uma trégua, que incluem "um veto" à libertação de alguns prisioneiros palestinos
As negociações indiretas para uma trégua entre Israel e Hamas em Gaza, bem como para a libertação dos reféns mantidos em cativeiro pelo grupo islamista, serão retomadas na quinta-feira no Catar, disseram, nesta quarta (14), três fontes a par das conversas, em meio aos crescentes temores de que o conflito se espalhe pelo Oriente Médio.
As conversas ocorrerão em Doha, capital do Catar, informaram uma fonte próxima ao Hamas e outra conhecedora das negociações.
Ainda não está claro se o grupo islamista, que desencadeou a guerra com sua letal incursão ao sul de Israel em 7 de outubro, participará da reunião.
Uma terceira fonte, dos Estados Unidos, afirmou que o diretor da CIA, William Burns, estará em Doha.
Pelo lado israelense, comparecerão os chefes dos serviços de inteligência, Mossad, e da agência de segurança interna, Shin Bet, informou à AFP o gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
Israel detalhou na terça-feira suas condições para uma trégua, que incluem "um veto" à libertação de alguns prisioneiros palestinos em uma eventual troca por reféns israelenses.
Uma trégua de uma semana no final de novembro, a única desde o início da guerra, permitiu o intercâmbio de centenas de presos palestinos por reféns mantidos em cativeiro pelo Hamas, que governa Gaza.
O Hamas, considerado uma organização "terrorista" por Estados Unidos, Israel e União Europeia, pediu no domingo aos mediadores que "apliquem" o plano proposto em maio pelo presidente americano, Joe Biden, para uma trégua, "em vez de realizar mais negociações ou apresentar novas propostas".
Segundo o porta-voz do Departamento de Estado americano, Vedant Patel, o Catar assegurou que "trabalha para garantir que também haja representação do Hamas" em Doha.
Israel em "alerta máximo"
Esse último impulso às negociações ocorre em meio aos temores cada vez maiores de uma conflagração regional, após o ataque que matou em 31 de julho o líder político do Hamas, Ismail Haniyeh, no Irã.
Tanto Teerã quanto seus aliados acusam Israel pelo ataque e pedem vingança pela morte. Os israelenses, no entanto, ainda não reivindicaram o ataque.
Líderes de potências ocidentais instaram Teerã a não atacar Israel para vingar Haniyeh, cuja morte coincidiu com um bombardeio israelense em Beirute que matou um alto comandante militar do movimento libanês pró-iraniano Hezbollah.
Uma trégua em Gaza, baseada no "acordo-quadro que está sobre a mesa", poderia reduzir as tensões regionais e "evitar o desencadeamento de uma guerra mais ampla", declarou o enviado dos EUA, Amos Hochstein, em visita a Beirute nesta quarta-feira.
Biden assegurou na véspera que uma trégua em Gaza poderia dissuadir o Irã de atacar Israel.
O Irã, por sua vez, se recusou a abandonar suas ameaças contra Israel. Teerã "está determinado a defender sua soberania", declarou Naser Kanani, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores iraniano.
O presidente de Israel, Isaac Herzog, escreveu na rede social X que o país está em "alerta máximo".
O aumento das tensões na região levou os governos ocidentais a desaconselharem viagens ao Líbano e a preparar evacuações de seus cidadãos caso ecloda uma guerra em grande escala.
"Esperamos o fim da guerra"
Em apoio a Israel, os Estados Unidos enviaram um grupo de ataque de porta-aviões e um submarino de mísseis guiados para a região.
Washington também aprovou na terça-feira mais de 20 bilhões de dólares (cerca de R$ 110 bilhões) em novas vendas de armas para Israel, incluindo 50 aviões de combate F-15.
O conflito eclodiu em 7 de outubro com o ataque do Hamas ao sul de Israel, que provocou a morte de 1.198 pessoas, na sua maioria civis, segundo um levantamento baseado em dados oficiais israelenses.
Os milicianos islamitas também sequestraram 251 pessoas. O Exército israelense afirma que 111 ainda estão em cativeiro em Gaza, incluindo 39 que estariam mortos.
Israel prometeu destruir o Hamas e lançou uma campanha militar em Gaza que já deixou 39.965 mortos, segundo o Ministério da Saúde deste território, que não especifica as mortes de civis e combatentes.
Nas últimas 24 horas, o Exército israelense afirma ter atacado "mais de 40" alvos na Faixa de Gaza.
A agência de defesa civil do território palestino declarou que suas equipes resgataram quatro pessoas de uma mesma família dos escombros de um complexo residencial perto de Khan Yunis.
"Esperamos o fim da guerra", disse à AFP Ibrahim Makhamer em Deir al Balah, no centro da Faixa de Gaza.