Recife

Incêndio em Campina do Barreto: famílias buscam apoio após perderem tudo nas chamas

Comunidade em Campina do Barreto foi atingida por incêndio de grandes proporções nessa quarta-feira (14)

Incêndio em comunidade na rua Constança, em Campina do Barreto - Clarice Melo / Folha de Pernambuco

Moradores da ocupação popular conhecida como Merca, no bairro Campina do Barreto, Zona Norte do Recife, procuram por ajuda para se reerguerem. A área foi atingida por um incêndio de grandes proporções na manhã da quarta-feira (14).

Um dia após o incidente, mais de 300 famílias seguem desoladas em meio a um cenário devastador. O que antes era uma ocupação forte, de pé há sete anos, agora se encontra aos pedaços. Muitos moradores, inclusive, perderam tudo que tinham. Cerca de 30 casas foram atingidas.

Uma dessas pessoas foi Irlane Sabino da Silva, empregada doméstica de 44 anos. À Folha de Pernambuco, ela relatou como foi o momento em que percebeu que sua casa estava em chamas.

 
 
 
 
 
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"Foi um desespero. Nós mesmos da comunidade tentamos apagar o fogo, mas já estava muito alto, e não teve o que fazer. Ligamos para os bombeiros, mas não deu tempo. Perdemos tudo. Está sendo muito difícil. Era a moradia que nós tínhamos", disse.

 

No momento, ela depende de doações, assim como tantos outros moradores. Nesse meio tempo, precisa cuidar do filho, que tem apenas 10 anos. Durante o incêndio, ele estava na escola, mas, quando chegou, precisou ouvir da mãe que a família havia perdido tudo.

"Quando as crianças viram a situação, perguntaram 'cadê minhas roupas, minhas coisas?'. Tudo pegou fogo. Não teve como salvar nada. É difícil demais para eles, que são crianças, esse momento", contou.

Uma das pessoas que compareceram ao local nesta quinta (15) foi o pensionista Lenildo Ferreira de Santana, 47 anos. Ele era vizinho dos moradores, e conhecia todas as pessoas que perderam tudo com o fogo.

"Eles construíram com esforço. Arrumaram tábuas, telhas, pregos. Foram colocando a madeira para morar com seus filhos, parentes. Agora muitos prenderam. Só sobrou Cinzas. Graças a Deus não houve vítimas. Agora eles vão se esforçar para começar tudo do zero. Não morava aqui, mas me coloco no lugar de cada um deles", contou, com lágrimas no rosto.

Ajuda às famílias
Após o incêndio, moradores da comunidade se uniram para tentar resgatar os pertences que restaram. Ainda na quarta, chegaram a receber doações de alimentos e água de igrejas das proximidades.

Uma das maneiras de ajudar a comunidade é por meio de doações. A obra social Oratório da Divina Providência, localizada na Rua dos Peixinhos, 951, Campina do Barreto, está funcionando como um ponto de coleta de itens de higiene básica, alimentos e roupas para os moradores da ocupação. Rações para os animais do local também são bem-vindas.

"O que recebemos por meio de doação, repassamos para os moradores. Trouxemos comida, água, coisas que eles estão precisando nesse momento, já que muitos perderam tudo", explicou a diretora da obra social, Jucilene de Souza.

O Centro de Operações do Recife (COP) orientou, ainda na quarta-feira, que as famílias que tiveram moradias afetadas foram orientadas a procurar casas de amigos ou parentes. Há também a opção de abrigamento público no Centro Social Urbano Bidu Krause. Essa opção, no entanto, não é bem aceita pelos moradores.

"Querem que a gente desocupar a área, mas aí vamos para onde? Não tem para onde ir. O jeito é ficar no mesmo local. A gente não pode ir para esse Centro oferecido porque ele é muito longe. Ficaríamos distantes de tudo. Vamos nos juntar aqui, pegar na mão de cada um, e ver o que vamos conseguir fazer. Queremos que o governo tome uma providência para nos ajudar. Precisamos disse aqui", disse a moradora Fernanda Soares, 34 anos.

"A pergunta que fica é e a moradia? Estamos recebendo doações de roupas, calçados, alimentos. Mas e a moradia? Temos que saber isso. Não queremos desocupar. O abrigo é muito distante para a gente porque trabalhamos nas redondezas e nossos filhos estudam por aqui. Não queremos sair", completou, emocionada, Irlane.

Em contato com a Folha de Pernambuco, a Prefeitura do Recife afirmou que, por conta do período eleitoral, não pode ativar a prestação de auxílio emergencial para os moradores, que ocupavam um terreno privado. 

Com isso, além do Centro Social Urbano Bidu Krause, a Secretaria de Habitação do município (Sehab) se comprometeu em "encaminhar - quando a legislação eleitoral permitir - o processo de desapropriação e doação do terreno para inclusão no programa habitacional Minha Casa Minha Vida - Entidades, do Governo Federal".

Confira, abaixo, a nota na íntegra:
O Centro de Operações do Recife (COP) informa que diversas secretarias e órgãos municipais foram imediatamente mobilizados devido ao incêndio na Campina do Barreto. Equipes das secretarias de Governo e Participação Social (Segov) e Habitação (Sehab); das secretarias executivas de Assistência Social, Controle Urbano (Secon) e Defesa Civil (Sedec); e da Assistência Militar compareceram ao local para prestar o atendimento às famílias afetadas.

Após a liberação da área pelos Bombeiros, a Defesa Civil iniciou as vistorias para avaliar a segurança estrutural dos imóveis. Caso necessário, serão feitas interdições e o proprietário do terreno será notificado para executar os serviços de recuperação. As famílias que tiveram suas moradias afetadas foram orientadas a procurar casas de amigos ou parentes, havendo também a opção de abrigamento público no Centro Social Urbano Bidu Krause. A Prefeitura dará apoio para as mudanças. Uma mulher de 44 anos recebeu atendimento na policlínica do bairro devido à fumaça e já foi liberada.

A Sehab acrescenta que a ocupação foi feita num terreno particular. A gestão municipal mantém diálogo permanente com o movimento e, em reunião ocorrida há 15 dias, comprometeu-se a encaminhar - quando a legislação eleitoral permitir - o processo de desapropriação e doação do terreno para inclusão no programa habitacional Minha Casa Minha Vida - Entidades, do Governo Federal.