opinião

A dualidade entre duas cidades notáveis

A cidade de Chicago, localizada no Meio-Oeste americano, no estado de Illinois (capital, Springfield), costeira do Lago Michigan, e a cidade do Recife, capital do estado de Pernambuco, no Nordeste brasileiro, costeira do Oceano Atlântico, guardam semelhanças, entre si, como a inclinação progressista.

Os mistérios dessa dualidade vamos deixar para os deuses… Em verdade, essa particular visão está baseada em passagens vividas na “Cidade dos Ventos”, por mais de uma década, de modo que vamos mostrá-la, em relação à “Cidade Maurícia”, considerando, sucintamente, aspectos da geografia, da música e da cidadania; com um apêndice, a imaginologia.

Tal qual o rio Capibaribe, na parte final, a recifense, próxima à foz, em que une as suas águas com as do rio Beberibe para desembocar no Atlântico, o homônimo rio Chicago, na parte final, a “chicagoan”, une suas águas com as do Lago Michigan e segue em direção à bacia do rio “Mississippi” (o fluxo natural foi invertido em 1900). Os leitos dos históricos rios cortam, literalmente, as respectivas cidades… Estrategicamente, pontes foram construídas para facilitar o deslocamento urbano – elas emolduram a paisagem. Neles, há passeios em barcos turísticos, para as pessoas desfrutarem, no privilegiado ângulo, de um belo panorama de Chicago ou do Recife, em cada território, natureza e perfil; para isso, existem vários pontos de embarque, nas margens correntes, além das marinas em operação.

A musicalidade é uma referência que anima as duas metrópoles. O “blues” (“authentic Chicago blues") está na alma dos “chicagoans” com a mesma intensidade que o frevo está na dos recifenses. Têm origem popular. Se o “blues” evoca a melancolia e o frevo evoca a euforia, os dois ritmos, nas canções, se acercam, de modo peculiar, ao entoarem louvores e esperança na vida. Igualmente, reverenciam os pioneiros e os grandes nomes da modalidade artística… Evoé!

Do ponto de vista da cidadania, duas exemplares personalidades antiescravistas, Abraham Lincoln (“Hodgenville”, 12/02/1809 – “Washington, D.C.”, 15/04/1865) e Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo (Recife, 19/08/1849 – “Washington, D.C.”, 17/01/1910), registradas e respeitadas, para sempre, na história, distinguiram suas vidas em defesa da mesma causa humana: o fim da escravidão. Advogados por formação, também exerceram a carreira política. Eram excelentes oradores. Ficaram conhecidos, nas respectivas pátrias, EUA e Brasil, como “Abolicionistas”. Ambos morreram na capital americana, quis o destino (Lincoln, como chefe de estado, foi assassinado.   Nabuco, como diplomata, por uma grave doença hematológica).  

Abraham Lincoln, embora nascido no estado de Kentucky, fez sua vida, desde bem jovem, no estado de Illinois, um estado antiescravista, quando já pensava assim. Atuou, principalmente, entre as cidades de “Springfield”, onde residia, e Chicago, local em que se tornou bastante cultuado, com muitas homenagens em memória, à altura e extensão da importância. Para Lincoln, “não podemos ser homens livres enquanto este for, por nossa escolha nacional, um país de escravidão”.

Joaquim Nabuco, nasceu no Recife (na rua da Imperatriz), em berço escravocrata, mas desde cedo adotou uma postura contrária à escravidão, mesmo sendo um monarquista. Aos oito anos partiu para viver com os pais no Rio de Janeiro, onde completou a educação. Começou a estudar Direito em São Paulo, mas voltou ao Recife para concluir o curso e trabalhar, lugar em que também é bastante cultuado (são vários os reconhecimentos), com homenagens de diversas formas, que se estendem por todos os estados brasileiros, pela grandeza da obra (também foi jornalista, escritor e diplomata) e dos gestos em toda a vida.

Para Nabuco, “o verdadeiro patriotismo é o que concilia a pátria com a humanidade”. 
Quanto à imaginologia, transcrevo o texto do primeiro parágrafo da crônica, “Chicago, o congresso e a urbe” (12/12/2014): “Anualmente, no início de dezembro, na cidade de Chicago, nos EUA, é realizado o Congresso Internacional de Radiologia, o “RSNA” (“Radiological Society of North America”) – que agora em 2014 completou 100 anos.

O evento consiste em programas científicos e de educação e na exposição de equipamentos e sistemas destinados à atividade de diagnóstico médico por imagem. Reúne em torno de setecentas empresas e sessenta mil pessoas. O Brasil está entre os quatro primeiros países em número de participantes inscritos. Pernambuco, relevante neste segmento da saúde, sempre se faz presente com médicos e empresários do setor, a fim de manter-se a par do estado da arte da imaginologia”.

O fato é que a busca e a troca de experiência e conhecimentos, em Chicago, o principal centro da referida atividade no mundo, e o consequente investimento tecnológico nas operações, aproximou profissionais, pessoas em especializadas funções, das respectivas cidades, de modo que, hoje, o polo de imagem médica (de radiologia) do Recife está ranqueado entre os quatro melhores do Brasil; nesse pleno estágio, encontra-se apto para realizar eventos compatíveis, a infraestrutura existe.

 

* Administrador de empresas (UFPE) e cervantista (f.dacal@hotmail.com)

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