Maduro

Após falas de Lula e Petro, diplomacia de Brasil e Colômbia busca diálogo entre Maduro e oposição

Mauro Vieira e o chanceler colombiano Luis Gilberto Murillo tentam mediar uma solução para a crise

O presidente venezuelano e candidato presidencial Nicolás Maduro - Yuri Cortez / AFP

Enquanto os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Gustavo Petro, da Colômbia, adotam um discurso num tom mais firme e criticam diretamente o comportamento do líder venezuelano, Nicolás Maduro, as chancelarias dos dois países trabalham para abrir um canal de diálogo entre a oposição e, "sobretudo", o governo da Venezuela.

Segundo resumiu um importante integrante do governo, Lula e Petro falam sobre ideias, enquanto os diplomatas buscam saídas com discrição, dada a delicadeza da situação.

As instruções dadas pelos presidentes aos diplomatas é manter a cobrança dos resultados, mesa por mesa, da eleição que ocorreu em 28 de julho último.

Desde que a vitória de Maduro, declarada pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) do país caribenho, passou a ser questionada pela oposição e parte da comunidade internacional, o Brasil e a Colômbia — que antes tinham o México — exigem a divulgação das atas eleitorais antes de reconhecerem como vencedor o atual presidente, ou o candidato da oposição, Edmundo González.

Mas interlocutores com conhecimento das discussões, mantidas sob sigilo na diplomacia, avaliam que uma negociação pode ser iniciada dentro de alguns dias. A fase atual é de "criar condições" para que isso ocorra.

Maduro foi proclamado reeleito pelo CNE para um terceiro mandato de seis anos, até 2031, com 52% dos votos. A oposição, liderada por María Corina Machado, considera a declaração fraudulenta e criou um portal em que diz ter apresentado mais de 80% de atas eleitorais, coletadas por testemunhas no dia da votação, que provariam a vitória de González com quase 70% dos votos.

Interlocutores da área diplomática afirmam que o mais importante, para iniciar uma conversa, seria o governo venezuelano, que tem sob sua responsabilidade o CNE, atender a demanda da comunidade internacional e apresentar os resultados. Sem isso, não há como reconhecer governo algum.

O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, discute o assunto, desde ontem, com o chanceler da Colômbia, Luis Gilberto Murillo. Eles passaram grande parte do dia em reunião, em Bogotá, e Murillo pegou carona no avião de Vieira até a República Dominicana, para a posse do presidente Luís Abinader, nesta sexta-feira.

Vieira tem mantido contatos com colegas de diversos países. Nesta manhã, conversou com o chanceler holandês, Caspar Veldkamp, sobre temas globais e regionais, inclusive as gestões de Brasil e Colômbia para contribuir com uma solução para a Venezuela. A Holanda participou das negociações para o Acordo de Barbados — firmado em outubro do ano passado, por representantes de Maduro e oposição, que se comprometeram com uma eleição livre, justa, transparente e aceita por todos.

Pessoas próximas ao chanceler revelaram que a proposta do assessor para assuntos internacionais do Palácio do Planalto, Celso Amorim, de se realizar uma nova eleição na Venezuela, não faz parte das possibilidades em cogitação na esfera diplomática, pelo menos até este momento. O motivo é que tanto Maduro como a principal líder da oposição do país vizinho, María Corina Machado, não aceitam outro processo eleitoral.

Porém, tanto Lula como Petro sugeriram esse caminho nesta semana. Desde que ouviu a sugestão de Amorim, Lula tem considerado o assunto e chegou a tratar do tema na última reunião ministerial, realizada na semana passada. Na ocasião, afirmou que Maduro deveria ter tido, ele próprio, a iniciativa de convocar um novo pleito, segundo pessoas presentes no encontro.

Na quinta-feira, em uma entrevista a uma emissora de rádio, Lula citou a possibilidade de um governo de coalizão ou a realização de novas eleições no país. Ele também afirmou que não reconhece Maduro como presidente até que as atas eleitorais sejam apresentadas.

No mesmo dia, após a fala de Lula, o presidente da Colômbia também defendeu novas eleições na Venezuela. Segundo ele, um novo pleito seria parte de um acordo que incluiria a suspensão das sanções econômicas contra o país, uma anistia geral e internacional e uma transição de governo negociada.

Nesta sexta-feira, Lula afirmou, em entrevista à Rádio Gaúcha, de Porto Alegre que a Venezuela vive um “regime desagradável” sob a presidência de Maduro, mas frisou que o país vizinho não é uma ditadura.

"Eu acho que a Venezuela vive um regime muito desagradável. Não acho que é uma ditadura, é diferente de uma ditadura. É um governo com viés autoritário, mas não é uma ditadura como a gente conhece tantas ditaduras nesse mundo", afirmou o presidente.