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Ucrânia afirma que incursão na Rússia busca negociações "justas"

Na quinta-feira, Kiev assinalou que suas tropas já controlavam 1.150 km² e 82 cidades russas

Um tanque russo destruído do lado de fora da cidade russa de Sudzha, controlada pela Ucrânia, na região de Kursk, em meio à invasão russa na Ucrânia - Yan Dobronosov / AFP

A Ucrânia garantiu nesta sexta-feira (16) que suas tropas seguem avançando na província russa de Kursk e indicou que um dos objetivos desta inédita ofensiva é pressionar Moscou para negociações "justas" que encerrem quase dois anos e meio de guerra.

As tropas ucranianas lançaram um ataque surpresa no oblast (província) fronteiriço em 6 de agosto, a maior incursão de um Exército estrangeiro em solo russo desde o fim da Segunda Guerra Mundial.

O comandante do Exército ucraniano, Oleksandr Sirski, afirmou nesta sexta que suas tropas "seguem combatendo e chegaram a avançar de um a três quilômetros em algumas áreas".

Na quinta-feira, Kiev assinalou que suas tropas já controlavam 1.150 km² e 82 cidades russas, incluindo Sudzha, a 10 km da fronteira e fundamental para o transporte de gás para a União Europeia através da Ucrânia.

A operação deslocou para o território russo a guerra iniciada em fevereiro de 2022, quando a Rússia invadiu a Ucrânia, ocupando vastas regiões do leste e sul da ex-república soviética.

A Ucrânia deu vários motivos para justificar seu ataque, incluindo forçar Moscou a retirar tropas de outras partes da linha da frente ou criar uma "zona de segurança" contra os bombardeios do território russo.

Porém, está cada vez mais claro que Kiev também pretende utilizar os territórios russos tomados como moeda de troca em possíveis negociações com o Kremlin.

"A ferramenta militar é usada objetivamente para persuadir a Rússia a entrar em um processo de negociações justas", disse nesta sexta-feira Mykhailo Podoliyak, conselheiro do presidente Volodimir Zelensky, na rede social X.

Um diplomata ucraniano já havia instado a Rússia na terça-feira a aceitar "uma paz justa", sob as condições da Ucrânia.

Exigências incompatíveis 
As negociações estão completamente estagnadas desde o início do conflito, devido a exigências difíceis de se conciliar.

Zelensky indicou que pretende elaborar um plano antes das eleições presidenciais de novembro nos Estados Unidos, seu principal aliado, que servirá de base para uma futura cúpula de paz.

O presidente repete que a paz só será possível se o Exército russo se retirar completamente do território ucraniano, incluindo a península da Crimeia anexada em 2014.

Seu homólogo russo, Vladimir Putin, condiciona as negociações à renúncia da Ucrânia aos territórios ocupados por Moscou e também à desistência de adesão à Otan, requisitos inaceitáveis para a Ucrânia e seus aliados ocidentais.

"Deixamos tudo para trás"
Pelo menos 12 civis foram mortos e 121 feridos nos primeiros dias da ofensiva ucraniana, segundo autoridades russas, que não atualizam o número de vítimas desde a segunda-feira.

Moscou afirma que mais de 120 mil pessoas foram deslocadas pelo ataque e os combates.

Além disso, as autoridades russas anunciaram que, a partir de segunda-feira, vão evacuar cinco povoados próximos à fronteira com a Ucrânia no oblast de Belgorod, vizinho ao de Kursk.

Na cidade de Kursk, longe dos combates, dezenas de pessoas se aglomeravam em um abrigo temporário.

"Não sabemos o que fazer. Choramos dia e noite", disse à AFP Zinaida Tarasiuk, uma aposentada de 70 anos. "Deixamos tudo para trás."

As evacuações, com meios próprios ou com a ajuda das autoridades, ocorrem em meio aos combates na região. Um bombardeio de Moscou matou dois trabalhadores humanitários russos que participavam de uma evacuação nesta sexta-feira, segundo sua organização.

Avanço russo no leste 
Embora a ofensiva atraia todas as atenções, a maior parte dos combates continua no leste da Ucrânia, onde as tropas russas mantêm a liderança frente ao Exército ucraniano, com escassez de soldados e munições.

Nesta sexta-feira, Moscou reivindicou a tomada de outra cidade, Serhiivka, a cerca de 15 quilômetros de Pokrovsk, eixo logístico na rota para as localidades de Chasiv Yar e Kostantinovka.

Na terça-feira, as forças russas relataram a tomada de outra cidade nessa região, onde avançam desde o início de maio.

O Exército indicou nesta sexta-feira que frustrou um ataque durante a noite com 12 mísseis ATACMS dos Estados Unidos disparados pelas forças ucranianas contra a ponte da Crimeia, que liga a península à Rússia.

Ademais, autoridades russas indicaram que sete civis ficaram feridos em um ataque ucraniano contra um centro comercial em Donetsk, cidade no leste da Ucrânia controlada por Moscou desde 2014.