opinião

Cana-de-açúcar, adequação aos novos tempos

Pontificando durante mais de quinhentos anos, como o carro chefe de nossas atividades econômicas, principalmente no Nordeste, a cana-de-açúcar do alto de sua multissecular autoridade sócio econômica começa a se adequar aos novos tempos.
 
Com efeito, dividindo espaço técnico e geográfico com protagonistas surgidos de noutro dia pra cá, representados pelos novos agentes, o milho e o trigo, como alternativas ou mesmo como coadjuvantes das matérias-primas à produção de açúcar e etanol, a cana rende-se às novidades adequando-se ou recomendando ajustes impostos pelos novos tempos, nos aspectos técnicos, políticos econômicos e sociais, mostrando que ainda pode ampliar sua comprovadíssima contribuição à sociedade, as comunidades onde se situam, muitas das quais, nasceram e se expandiram graças a cana-de-açúcar.
 
Vale como exemplo desse fenômeno de importância inconteste, que conferiu tamanha longevidade à atividade agroindustrial canavieira, as pequenas vilas transformadas em cidades que herdaram seus nomes de batismo das unidades canavieiras, no passado representados pelos engenhos, e adiante pelas Usinas tais como, Catende, Aliança, Ipojuca, e tantos outros, presentes no contexto histórico cultural, no universo dos poetas e cancioneiros populares a exemplo de Ascenso Ferreira, que foi “danado pra Catende”, falando dos engenhos de sua terra, que “só os nomes fazem sonhar, Estrela D’alva,         Flor do Bosque, Bom Mirar”.
 
Adequando e adequando-se as novidades das últimas décadas, resta à atividade agroindustrial canavieira, por uma questão de sobrevivência, inclusive das sociedades dela dependentes, preparar-se tecnologicamente para o convívio harmônico com as novas regras de natureza econômica e ambiental tais como, as restrições impostas pelas características topográficas e ambientais do Nordeste canavieiro, a automação do corte, a otimização de custos de transporte e sua contribuição à questão ambiental, a exemplo do consumo de diesel poluente, para o transporte de matéria-prima e produto final, que precisa evoluir para o uso do álcool combustível limpo de CO, como elemento aliado a limpeza ambiental.
 
Por outro lado, a expansão urbana na periferia dos grandes centros populacionais, avança velozmente sobre as áreas canavieiras, tornando impossível a competição do metro quadrado com o hectare, representando perigo de morte às usinas situadas nesses perímetros, recomendando em caráter emergencial elevar o rendimento agrícola nas áreas remanescentes, antes que estas sejam completamente absorvidas pelos projetos habitacionais em curso.
 
Finalmente, preocupa-nos sobremodo a crescente carência de mão de obra para o trato cultural e o corte da cana no Nordeste canavieiro, situação que pode ser mitigada em parte pelo cultivo ou complemento com o milho e o sorgo, culturas menos agressivas ao esforço físico dos trabalhadores do campo canavieiro.
 
Vale ressaltar que o processo de transição das práticas seculares para os novos tempos, vem sendo empreendido através da pecuária, que nem de longe substituiu em expressão econômica e social o fenômeno canavieiro até então imbatível como gerador de emprego e renda na região mais carente do Brasil.
 
Por tudo isso compete aos Governos Estadual e Federal, conhecer e interpretar o risco que o importante Setor Agroindustrial Canavieiro atravessa, criando em caráter emergencial condições que permitam uma sobrevida estratégica de forte efeito socioeconômico para o Nordeste Canavieiro. 
 
No contexto da resiliência setorial, nasceu a UNIDA — União Nordestina dos produtores de Cana, congregando a representação classista de mais de vinte mil produtores dos nove estados do Nordeste, não podendo deixar de mencionar a grande novidade da revitalização de Unidades Produtoras desativadas, pelos Fornecedores de Cana agrupados em Cooperativas gestoras, restaurando o status de industriais produtores de passado distante, quando eram os poderosos “Senhores de Engenho”.

* Consultor de empresas (mgmaranhao@gmail.com).

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