Guerra

Cessar-fogo em Gaza: Secretário de Estado americano desembarca em Israel para pressionar por acordo

Nona viagem de Blinken ao Oriente Médio ocorre poucos dias após retomada das negociações em Doha, das quais o Hamas não participou; grupo exige implementação do plano original, apresentado em maio

Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, acena ao desembarcar de seu avião em Tel Aviv em 18 de agosto de 2024 - Kevin Mohatt/POOL/AFP

Em sua 9ª viagem ao Oriente Médio desde o início da Guerra em Gaza, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, desembarcou em Israel neste domingo para se reunir com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu na segunda-feira antes da retomada das negociações para um acordo de cessar-fogo entre Israel e Hamas, programadas para a próxima semana no Cairo.

As conversas estavam paralisadas devido a um impasse entre as partes e estão sendo retomadas à medida que a guerra avança pelo 10º mês e paira na região o temor de uma escalada sem precedentes frente à resposta anunciada pelo Irã ao assassinato do líder do Hamas em sua capital.

Segundo o Departamento de Estado, Blinken buscará "concluir o acordo de cessar-fogo e a libertação de reféns e detidos".

EUA, Catar e Egito, principais mediadores do conflito, citaram o progresso nas conversações após uma primeira rodada na quinta e sexta-feira em Doha, e os negociadores israelenses disseram que estavam “moderadamente otimistas”.

Um funcionário americano que acompanhava Blinken disse que "o sentimento, particularmente entre aqueles que fizeram parte da mediação em Doha, é que os vários pontos de atrito que existiam antes podem ser superados e que os esforços continuarão".

Washington apresentou uma "proposta de ponte" na sexta-feira que visava fechar as lacunas restantes entre as partes, informou o jornal The New York Times.

O presidente Joe Biden disse que o acordo estava "próximo", e seu governo sugeriu que as negociações estavam "na rodada final".

A descrição foi rebatida por Netanyhu neste domingo.

Antes da chegada do secretário, o premier disse que as negociações eram "muito complexas" e pediu que “a pressão seja direcionada ao Hamas" e "não ao governo israelense".

— Há algumas coisas em que podemos ser flexíveis e outras não — disse Netanyhau, afirmando que sua abordagem é de "dar e receber" e não "dar e dar".— É por isso que, além de nossos esforços consideráveis para recuperar nossos reféns, permanecemos firmes nos princípios (...) essenciais para a segurança de Israel.

Criticado por algumas autoridades por supostamente protelar um cessar-fogo ao acrescentar novas condições à proposta, Netanyahu também denunciou a "recusa obstinada" do grupo em concordar com uma trégua.

O Hamas não participou das últimas negociações e rejeitou as "novas condições" incluídas na proposta.

O grupo exige a implementação do plano original apresentado por Biden no fim de maio, que previa uma primeira fase de seis semanas de trégua com a retirada do Exército israelense das zonas densamente povoadas de Gaza e uma troca de reféns por prisioneiros palestinos detidos em Israel.

Na segunda fase, o acordo inclui a retirada total das tropas israelenses do enclave.

— Não estamos lidando com um acordo ou negociações reais, mas com a imposição de ditames americanos — disse Sami Abu Zohri, membro do escritório político do Hamas, no sábado.

 

Com uma trégua em Gaza, os mediadores também buscam diminuir as tensões no restante do Oriente Médio. O Irã e seus aliados, incluindo o Hezbollah, prometeram vingar a morte do líder do Hamas, Ismail Haniyeh, em um ataque atribuído a Israel em Teerã, um dia depois que um chefe militar do movimento xiita libanês foi morto em um bombardeio israelense em Beirute.

Além dos ataques nas capitais, o que foi considerado uma provocação por esses países, a própria morte de Haniyeh levantou receios de que pudesse pôr em risco qualquer perspectiva de avanço nas negociações, já que o líder do Hamas era considerado essencial para as conversas e a diplomacia de alto risco do grupo.

Para Biden, que desenhou um grau de ligação entre os esforços de cessar-fogo e a ameaça de retaliação iraniana, a viagem de Blinken ao Oriente Médio enfatiza "que com o acordo abrangente de cessar-fogo e libertação de reféns agora à vista, ninguém na região deve tomar medidas para minar esse processo".

O secretário de Estado seguirá para o Egito na terça-feira na esperança de levar adiante uma proposta de cessar-fogo, informou o porta-voz do Departamento de Estado, Vedant Patel.

Os tanques estão chegando
Em campo, a ofensiva israelense não cessou durante as negociações.

A Defesa Civil da Faixa de Gaza, que é governada pelo Hamas desde 2007, informou neste domingo que 11 pessoas foram mortas em bombardeios em Jabaliya, no norte, e em Deir al-Balah, no centro.

— Essas mulheres e crianças fazem parte da resistência, elas estavam lutando enquanto dormiam? São mulheres e crianças e agora estão no necrotério — disse Ahmed Abu Jeir, uma testemunha do bombardeio que matou uma mãe e seus seis filhos.

Imagens da AFP mostraram palestinos fugindo de um acampamento improvisado na região de Khan Younis, no sul de Gaza, a pé, de carro ou em carroças depois que os tanques israelenses se posicionaram em uma colina próxima.

— O fogo de artilharia é incessante e os tanques israelenses não estão muito longe — disse Lina Saleha no acampamento al-Mawasi para pessoas deslocadas perto de Khan Younis, e acrescentou: — Os tanques estão se aproximando, estamos muito assustados, não sabemos para onde ir.

A guerra em Gaza estourou em 7 de outubro, quando combatentes do Hamas invadiram o sul de Israel e mataram quase 1,2 mil pessoas, a maioria civis, e sequestraram 251, de acordo com uma contagem da AFP baseada em dados oficiais israelenses.

Do total de sequestrados, 111 ainda estão no enclave, embora 39 tenham sido declarados mortos pelo Exército israelense.

A represália israelense deixou mais de 40 mil pessoas mortas, de acordo com o Ministério da Saúde do enclave, e levou a uma situação humanitária desastrosa, com a maioria de seus 2,2 milhões de habitantes deslocada.