EUA

Ex-deputado George Santos se declara culpado em uma série de crimes para evitar julgamento nos EUA

Republicano brasileiro teve mandato cassado em dezembro após uma série de acusações

George Santos, congressista republicano de origem brasileira - Mandel Ngan / AFP

O ex-congressista republicano de origem brasileira George Santos, que teve o mandato cassado após uma série de acusações, incluindo falsificar seu currículo, se declarou culpado nesta segunda-feira de fraude e lavagem de dinheiro, entre outros crimes, para evitar ir a julgamento a partir do dia 9 de setembro, que poderia culminar em até 22 anos de prisão.

A declaração de culpabilidade, confirmada à imprensa por fontes ligadas ao processo e divulgada no último sábado, foi feita em um tribunal federal de Nova York.

Segundo dois advogados e duas outras pessoas familiarizadas com o caso, Santos chegou ao tribunal Central Islip antes de uma audiência às 15h (horário local).

Até agora, ele havia se declarado inocente das 23 acusações feitas pela promotoria e chegou a afirmar que a acusação era "uma caça às bruxas", em esforço aparente para simular o ex-presidente Donald Trump, alvo de quatro processos de caráter criminal.

Na semana passada, o ex-deputado fez uma publicação em inglês em sua conta no X no qual parecia disposto à declaração. "Terminei", escreveu Santos, com a frase seguida de um emoji fazendo um sinal de "v", que remete a paz ou a vitória.

Em seguida, ele compartilhou um trecho da poetisa Mya Angelou: "Você pode encontrar muitas derrotas, mas não deve ser derrotado. Na verdade, pode ser necessário encontrar as derrotas para que você saiba quem você é, do que você pode se levantar, como você ainda pode sair disso".

Quem é George Santos?
Filho de imigrantes brasileiros, George Santos, de 36 anos, se apresentou como a "nova cara do Partido Republicano" e construiu uma figura de candidato nas eleições legislativas de novembro de 2022, baseada em mentiras sobre sua educação, religião, experiência profissional, bens e salários.

Ele chegou a falsificar sua história familiar, afirmando ser descendente de judeus sobreviventes do Holocausto que fugiram da barbárie nazista durante a Segunda Guerra Mundial.

Uma investigação realizada pelo jornal The New York Times, quando ele já estava no Congresso dos EUA, revelou suas mentiras. Entre os crimes pelos quais Santos é acusado estão fraude eletrônica, lavagem de dinheiro, apropriação indevida de fundos públicos e mentir ao comitê eleitoral federal.

Segundo a promotoria, o ex-deputado enganou doadores de sua campanha ao transferir dinheiro para sua própria conta e usá-lo para pagar dívidas pessoais, comprar roupas de grife ou fazer pagamentos com os cartões de crédito de seus próprios apoiadores sem autorização.

Ele também é acusado de receber benefícios de desemprego aos quais não tinha direito durante a pandemia de coronavírus, antes de sua eleição.

Em dezembro passado, a Câmara dos Representantes expulsou o republicano, tornando-o o sexto congressista a ser obrigado a abandonar seu cargo na história da instituição.

Mais de dois terços de seus colegas votaram para expulsá-lo, incluindo mais de cem republcianos. A comissão de ética da Câmara o acusou de ter "desacreditado gravemente" o órgão legislativo.

Sua ex-tesoureira de campanha, Nancy Marks, se declarou culpada no ano passado por manipular os registros financeiros da campanha em coordenação com Santos, incluindo a declaração fraudulenta de um empréstimo fictício de 500 mil dólares (R$ 2,73 milhões, na cotação atual) que Santos afirmou ter feito à sua campanha. Ela pode ser sentenciada a três ou quatro anos de prisão.

O ex-congressista compareceu no início desta semana a uma audiência no tribunal para finalizar os preparativos para o julgamento. O tribunal convocou cerca de 800 candidatos para compor o júri, e os promotores anunciaram que reuniram cerca de trinta testemunhas.