SAÚDE

"Temos produção e estoque de doses", diz única farmacêutica que produz vacina de mpox

Vice-presidente de relações com investidores da Bavarian Nordic avalia, porém, que quantidade de 25 mil doses anunciada pelo Ministério da Saúde parece 'muito pouco' para o Brasil

Vacina de Mpox combate vírus que causou surto no ano passado no país - Mario Tama/AFP

A única empresa a comercializar a vacina da mpox, a dinamarquesa Bavarian Nordic, está em situação diferente de 2022 — a primeira vez que a Organização Mundial de Saúde (OMS) decretou uma emergência de saúde relacionada à infecção.

Ao menos é o que diz seu vice-presidente de relações com investidores Rolf Sass Sørensen, que participa das negociações de compra de vacinas por países e entidades.

Em entrevista por telefone, Rolf afirmou que há o interesse de 10 milhões de aplicações para países da África (ao menos 14 nações), além dos Estados Unidos, Canadá e algumas localidades da Europa.

Ele disse que há acordos em andamento extrapolam o ano de 2024. Ou seja, que preveem entregas para os próximos anos.

 

— Em 2022, nossos parques de produção estavam fechados, estávamos produzindo outras vacinas que não a mpox. Desde então, nós expandimos nossas instalações de fabricação na Dinamarca. Portanto, temos uma capacidade muito maior (agora). Nossa unidade de fabricação está operando em plena capacidade e está muito bem preparada — afirmou. — Temos doses em estoque e capacidade de produção disponível para este ano e os próximos, caso haja necessidade de contratos. Portanto, é uma situação bem diferente de 2022.

Em relação às conversas com o Brasil - o Ministério da Saúde informou na semana passada que está negociando com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) uma compra emergencial de 25 mil doses -, Rolf avalia que o volume é “muito pouco” para o país. Embora, vale dizer, a nação ainda não tenha identificado casos da nova variante que causa preocupação em localidades na África.

— Já vendemos diversas doses para o governo dos EUA, Europa, para o Canadá e vários outros países e organizações. Então, para o restante deste ano, podemos produzir mais 2 milhões de doses.Temos centenas de milhares de doses. Então, 25.000 doses não é nada (para produzir). Parece muito pouco para um país como o Brasil — disse.

A empresa, na última sexta, pediu à European Medicines Agency (EMA) — a reguladora de medicamentos na União Europeia — a liberação do uso de sua vacina para adolescentes de 12 a 17. Até agora, vale dizer, a vacina tem sido dedicada ao público adulto. A mudança de estratégia, diz o vice-presidente, está atrelada à mudança de comportamento da doença no atual surto. Se antes ela estava relacionada ao comportamento sexual (sobretudo de homens que fazem sexo com homens), agora a doença tem aparecido como infecção preocupante para as crianças.

Em documento indicado encaminhado à imprensa, a farmacêutica indicou que a submissão é baseada em resultados interinos de “um estudo clínico patrocinado pelo Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas do Instituto Nacional de Saúde dos EUA (NIH), envolvendo 315 adolescentes de 12 a 17 anos e 211 adultos com 18 anos ou mais, demonstrando a não inferioridade das respostas imunológicas”. A análise, diz a farmacêutica, também levou em conta a segurança do imunizante.

— Embora seja a mesma doença chamada mpox é uma outra variante que estamos vendo — diz. — Você pode até considerar que é uma doença diferente. Agora a maioria das pessoas infectadas, como você vê na África, são mulheres e crianças. E a maioria das mortes são de crianças. É uma situação totalmente diferente do que vivemos em 2022.

Por enquanto, a vacina seguirá tendo produção restrita na Dinamarca, embora seja possível (em caso de emergência) fazer o envase de doses nos Estados Unidos. Uma transferência de tecnologia, ou seja: passar a receita de fabricação para outra empresa produtora, não é um projeto atual da empresa.

— A transferência de tecnologia levaria anos, não funcionaria para o atual surto.