VARÍOLA

Mpox: União Europeia não recomenda controle de fronteiras ou vacinação em massa; entenda

A avaliação de "baixo risco" para a população europeia significa que os esforços estão agora concentrados no diagnóstico e na monitorização

Vacina de Mpox combate vírus que causou surto no ano passado no país - Mario Tama/AFP

União Europeia não aconselha o controle das fronteiras ou a vacinação da população em geral para conter o surto de mpox (anteriormente conhecido como varíola dos macacos) que está se espalhando por toda a África.

As recomendações acordadas numa reunião do Comitê de Segurança da Saúde, realizada na segunda-feira (19), são muito semelhantes às já emitidas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pelo Centro Europeu de Controle de Doenças (ECDC).

Estas ações baseiam-se sobretudo em medidas de vigilância epidemiológica e na informação à população e aos viajantes que se dirigem à República Democrática do Congo (RDC) e aos países vizinhos, dado o “baixo risco” que a doença representa para a população europeia, segundo comunicado do pelo Ministério da Saúde espanhol.

O secretário de Estado da Saúde da Espanha, Javier Padilla, explicou que o seu departamento trabalhará com as companhias aéreas para informar os seus funcionários e viajantes que se deslocam para estes países, e pedir às pessoas que pretendem viajar para esta zona que marquem consulta para um “aconselhamento individualizado” no momento da vacinação, uma vez que é possível que alguns, “dependendo das suas características e do tipo de viagem”, possam se beneficiar da vacina contra mpox.

A Saúde também aumentará a frequência dos boletins epidemiológicos para um por semana (agora são publicados mensalmente) e estudará como realizar controle nas águas residuais para acrescentar mais um mecanismo de vigilância e monitorização da dinâmica do vírus na população.

Todas estas iniciativas serão debatidas esta terça-feira (20) com os técnicos das autonomias na Apresentação de Alerta, mas a priori estão descartadas outras, como as propostas pela Comunidade de Madrid para estabelecer controles no aeroporto Adolfo Suárez Madrid-Barajas.

As autoridades de saúde ainda estão levantando informações sobre como o mpox está sendo transmitido, a sua epidemiologia e se essa variante é mais transmissível e perigoso do que a que se espalhou pela Europa em 2022, depois de a OMS ter ativado na semana passada a emergência sanitária de preocupação internacional, o alerta mais elevado disponível, devido à expansão de uma nova variante do vírus na RDC.

No surto de 2022, que teve a Espanha como um dos seus principais focos, a principal via de contágio foram os contatos sexuais, e a doença se espalhou especialmente entre gays, bissexuais e homens que fazem sexo com homens com práticas sexuais de risco.

Por isso, foi nesse grupo que se concentrou a vacinação, além de trabalhadores da saúde e de laboratórios que tinham contato com indivíduos ou materiais infectados.

Segundo dados da Saúde, na Espanha 40.610 pessoas receberam a vacina, mas até a semana passada, apenas metade delas tinha sido inoculada com a segunda dose.

Foi feito um apelo à população com práticas de risco para receber o esquema completo. Desde então, a procura para receber a injeção multiplicou-se e em Madrid e os angedamentos se esgotaram.

A Saúde informou que a Espanha tem uma reserva de vacinas de meio milhão de doses, podendo ultrapassar os dois milhões, já que cada uma pode ser dividida em cerca de cinco injeções. Além disso, “existe capacidade para adquirir novas vacinas através de compras conjuntas da UE”.

“Mas há um desafio principal que todos os países da União Europeia enfrentam: levar as vacinas aos países da África Central, onde isto é hoje um grande problema de saúde pública”, disse Padilla, que acredita que foi um “erro os países europeus armazenarem muitas doses em 2022, deixando os países africanos sem estoque.

“Todos os nossos esforços devem ser dedicados a garantir que as vacinas cheguem onde são necessárias”, acrescentou.

Nova variante
Este novo surto, da Clade 1b (a nova variante), está sendo transmitido principalmente em crianças: 70% dos casos positivos são crianças com menos de 15 anos e 39% são crianças com menos de cinco anos, que representam 62% dos casos.

É difícil saber como a doença se comportaria em contextos diferentes de África, tanto devido às diferenças sociais como às diferentes capacidades diagnósticas e clínicas.

Neste momento, na Europa, foi registado um caso desta nova variante na Suécia, de uma pessoa que se encontrava na zona mais afetada, mas não foi detectada qualquer transmissão no continente.

Perante este cenário, o ECDC reavaliou o risco da doença no continente na última sexta-feira, e elevou-o de “muito baixo” para “baixo”.

A agência europeia de saúde pública questiona se a nova variante poderá ser mais perigosa do que a anterior: “Embora no passado tenha sido relatado que a taxa de morbidade e mortalidade do Clado 1 são superiores às do Clado 2, os dados preliminares ctuais da África não mostram aumento da gravidade clínica em casos confirmados".

O Ministério da Saúde espanhol esclareceu na semana passada que os casos de mpox deste ano não se comportaram de forma diferente, com outros sintomas ou gravidade diferente, dos registados desde 2022.

Desde então, foram notificados 8.104 casos na Espanha, a grande maioria, 7.521, ocorreram durante o surto. Em 2024, foram notificadas 264 infecções.

“Temos experiência com ações que provaram ser eficazes desde o início do surto em 2022. A vacinação e a vigilância são a chave para uma boa estratégia que já teve sucesso na Espanha. Avaliaremos qualquer nova informação para determinar se é necessário ajustar nossa abordagem ao gerenciamento da mpox”, disse a pasta em comunicado.

Em declarações à agência SMC Espanha, Jacob Lorenzo Morales, diretor do Instituto Universitário de Doenças Tropicais e Saúde Pública das Ilhas Canárias da Universidade de La Laguna, considera que as medidas acordadas são adequadas.

“Temos um sistema de saúde sólido e capacidade diagnóstica e profilática suficiente. É verdade que o mesmo não acontece na África, uma vez que não dispõem de meios adequados nem de vacinas suficientes. Talvez não fosse mau para a UE olhar para fora das suas fronteiras e dar apoio ao continente africano”, conclui.