Energia

ONS pede medidas para garantir energia no horário de pico

A usina Termopernambuco, da Neoenergia, pode começar a funcionar antecipadamente já em outubro. O início da operação estava previsto para 2026

Aneel - Foto: Elétron Energy (site)

As chuvas abaixo da média, especialmente na Região Norte, já acenderam o sinal de alerta entre autoridades do setor elétrico. No início do mês, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) apresentou ao Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) a recomendação para uma série de medidas preventivas, incluindo o acionamento de usinas térmicas, cujo custo de geração é maior.

Uma menor quantidade de chuvas aponta para níveis dos reservatórios das hidrelétricas abaixo do normal nos próximos meses.

E as medidas preventivas para preservar os reservatórios se tornam mais importantes num quadro em que a geração de eletricidade por usinas eólicas e por placas solares — tanto em usinas quanto nos telhados dos consumidores — mudou a cara do sistema elétrico. 

Embora sejam renováveis e tenham impactos positivos sobre o meio ambiente, essas fontes de eletricidade são intermitentes, ou seja, produzem ao sabor dos ventos e apenas quando faz sol.

Especialistas no setor elétrico vêm ressaltando que o sistema nacional precisa se adaptar a isso, com investimentos em linhas de transmissão e na governança, para que fontes permanentes entrem em ação quando as intermitentes não gerarem a energia prevista.

Solar cai à noite
Dados do ONS sobre a geração de eletricidade ao longo do dia dão uma dimensão do desafio associado às fontes intermitentes. Entre 11h e pouco depois de meio-dia de hoje, a geração solar colocou perto de 30 mil megawatts (MW) no sistema. Pouco depois das 18h, essa geração estava abaixo de 100 MW — a média do consumo diário fica em 80 mil MW. O pico da demanda, acima de 91.000 MW, ocorre entre 18h e 19h, horário do tombo na geração solar.

“Com as chuvas abaixo do esperado, há uma menor disponibilidade de recursos hidráulicos, especialmente na região Norte do país”, diz nota divulgada pelo ONS.

O comunicado ressalta que as hidrelétricas da Região Norte, onde se destacam Belo Monte, no Pará, e Jirau e Santo Antônio, em Rondônia, têm papel “fundamental” para atender o fornecimento de eletricidade na “ponta de carga”, como são chamados os momentos de pico de consumo.

“Dessa forma, para os períodos do dia de maior consumo de carga, que acontece à noite, especialmente para os meses de outubro e novembro, o cenário exige a adoção de medidas operativas adicionais e de caráter preventivo”, continua a nota do ONS.

O comunicado foi divulgado após reportagem do jornal Valor revelar que ofícios trocados entre o ONS, o Ministério de Minas e Energia (MME) e a Agência Nacional de Energia Elétrica ( Aneel) trazem a preocupação com o fornecimento de eletricidade nos momentos de pico da demanda.

Segundo o ONS, as medidas recomendadas ao Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico incluem reduzir a geração de eletricidade das hidrelétricas da Região Norte, com o objetivo de economizar água nos reservatórios e, assim, atender “à ponta de carga nos meses de outubro e novembro”; e adiar, quando possível, a manutenção de quaisquer usinas, para manter a produção no máximo.

Outra recomendação foi ampliar o uso do “mecanismo de Resposta da Demanda”, que oferece incentivos para indústrias intensivas em eletricidade deslocarem seus horários de produção para momentos em que o uso global de energia no país não esteja nas máximas.

Entrada antecipada
A sugestão do acionamento das térmicas incluiu até a antecipação da entrada em funcionamento da UTE Termopernambuco, do grupo Neoenergia, já em outubro. A usina está pronta, foi contratada em leilão de 2021, mas, por contrato, entraria em operação em 2026, segundo o jornal Valor.

Questionada, a Aneel informou ao GLOBO que, a pedido do MME, “já iniciou a instrução processual” para antecipar a entrada em funcionamento da UTE Termopernambuco. A Neoenergia informou ao Valor que “está pronta para atender ao pedido”.

A Aneel informou que trabalha em medidas adicionais, como a definição de preços para usinas térmicas que hoje não estão funcionando e não têm valores estabelecidos.

“Além disso, a Aneel está trabalhando no aprimoramento dos procedimentos de Resposta da Demanda, que levará à disponibilização de novo tipo de produto aos consumidores que podem reduzir sua demanda nos horários de ponta”, diz a nota da agência.