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Ford cancela lançamento de utilitário esportivo elétrico. Mudança pode custar US$ 1,9 bi

Montadora planeja fortalecer fabricação de baterias para veículos nos EUA

Ford - Reprodução/Economic Times

A Ford Motor está reavaliando sua estratégia de eletrificação mais uma vez, cancelando os planos para um veículo utilitário esportivo totalmente elétrico, mudança que pode custar à montadora cerca de US$ 1,9 bilhão.

Além de cancelar um SUV totalmente elétrico que já havia sido adiado, a montadora também adiará ainda mais a produção de uma picape elétrica de próxima geração e reduzirá os gastos com veículos elétricos para 30% de seus investimentos anuais em capital, em comparação com cerca de 40% anteriormente.

Além disso, a Ford também anunciou nesta quarta-feira que está reestruturando os planos de obtenção de baterias, citando a necessidade de competir melhor com concorrentes chineses de menor custo.

 

Tais ações representam um novo recuo pelo CEO Jim Farley, que inicialmente acelerou a mudança da Ford para veículos elétricos quando assumiu o comando há quase quatro anos. A montadora teve custos significativos ao aumentar a produção, à medida que o crescimento das vendas na indústria começou a desacelerar, levando a Ford a prever que sua unidade de veículos elétricos terá um prejuízo de até US$ 5,5 bilhões este ano.

Farley agora aposta que a Ford pode entregar veículos elétricos com preços comparáveis aos veículos tradicionais, incluindo uma picape de médio porte movida a bateria, prevista para ser lançada em 2027, e obter lucro com esses modelos dentro de um ano após seu lançamento.

— Esta é uma mudança tremenda para nós, e não vamos fazer uma mudança tão grande sem fazer muita pesquisa para nos convencer de que este é exatamente o caminho certo — disse Farley, de 62 anos, em uma entrevista. — Estou muito confiante.

As ações da Ford subiram até 1,7% às 8h15, horário de Nova York, antes do início das negociações regulares. Este ano, os papéis da montadora caíram 12%.

Critérios de veículos elétricos
A Ford respondeu à desaceleração da demanda por veículos elétricos aumentando a produção de modelos híbridos a gasolina e eletricidade, que têm sido melhor aceitos pelos consumidores. Farley está particularmente otimista com um tipo de híbrido chamado veículos elétricos de alcance estendido, ou EREVs, que têm se popularizado na China.

Esses veículos utilizam um pequeno motor a gasolina para manter a bateria carregada enquanto dirigem, permitindo um maior alcance de condução.

Agora, a Ford está considerando a tecnologia de veículos elétricos de alcance estendido para seus SUVs de três fileiras de próxima geração, enquanto avalia oferecer uma gama de opções de motorização em toda a sua linha de produtos. Mas a montadora finalmente determinou que não conseguiria lucrar com um grande SUV totalmente elétrico.

— Adorávamos nosso crossover de três fileiras e eu estava muito empolgado para mostrar a todos o trabalho que fizemos. Mas simplesmente não havia como ele atender aos nossos critérios de ser lucrativo — afirmou Farley.

Como resultado dessa mudança de planos, a Ford fará uma provisão especial não monetária de cerca de US$ 400 milhões relacionada à depreciação dos ativos de fabricação que não usará mais. A fábrica canadense onde o SUV elétrico seria produzido agora está programada para produzir picapes movidas a motores de combustão altamente lucrativos.

A Ford também pode incorrer em até US$ 1,5 bilhão em despesas adicionais, incluindo desembolsos em dinheiro, nos próximos trimestres como itens especiais relacionados ao cancelamento do SUV elétrico e à mudança nas opções de motorização.

Embora o SUV não vá adiante, a Ford produzirá uma nova van comercial totalmente elétrica, em Ohio, a partir de 2026, seguida por duas novas picapes em 2027. Uma dessas caminhonetes será um modelo de tamanho médio baseado em uma plataforma liderada pelo ex-líder de engenharia do Modelo Y mais vendido da Tesla. A outra será uma caminhonete de próxima geração que a Ford construirá no Tennessee, cerca de dois anos depois do planejado inicialmente.

Para melhorar o desempenho financeiro de seu negócio de veículos elétricos (EVs), a Ford aumentará a produção de baterias nos EUA para se qualificar para os créditos fiscais de fabricação incluídos na Lei de Redução da Inflação de 2022 da administração Biden.

A montadora está trabalhando com um de seus fornecedores — a LG Energy Solution, da Coreia do Sul — para transferir parte da produção de baterias necessária para os SUVs elétricos Mustang Mach-E para Holland, Michigan, a partir da Polônia no próximo ano.

— Um fator importante para alcançar essa lucratividade é a proporção da produção de baterias que está nos EUA e que se qualificará para o crédito fiscal de fabricação avançada — disse John Lawler, diretor financeiro da Ford, em uma entrevista.— Isso será uma grande parte do nosso caminho para a lucratividade.

A BlueOval SK — a joint venture da Ford com outro fabricante sul-coreano de células, a SK On — também começará a fabricar baterias para as atuais vans E-Transit da montadora mais cedo do que o planejado, a partir de meados de 2025.

Até o fim do próximo ano, a BlueOval produzirá células para a van comercial que será fabricada em Ohio. A montadora descobriu que seus clientes comerciais têm sido mais receptivos aos veículos elétricos.

Baterias de baixo custo
A Ford está no caminho certo para começar a fabricar baterias de fosfato de ferro e lítio, ou LFP, de menor custo, em Michigan a partir de 2026. A montadora espera que esta seja a primeira fábrica de células LFP nos EUA e que as baterias se qualifiquem para créditos fiscais do IRA de até US$ 7.500 para os consumidores. A Ford reduziu quase pela metade a capacidade planejada para a fábrica no fim do ano passado.

Farley disse que a picape de médio porte que será alimentada pela bateria LFP fabricada em Michigan será mais barata de possuir e operar do que um modelo tradicional com motor de combustão interna ou híbrido.

— É um produto revolucionário do ponto de vista do custo de propriedade — acrescentou Farley.

Ele não quis dizer quando a unidade de veículos elétricos da Ford, chamada Model e, será lucrativa. Essas respostas podem vir na primeira metade do próximo ano, quando a empresa planeja fornecer uma atualização sobre sua estratégia de eletrificação.

Por enquanto, Farley disse que a abordagem da Ford para qualquer novo veículo elétrico proposto é simples:

— Nós não aprovamos se eles não forem lucrativos no primeiro ano.