ESTADOS UNIDOS

Ex-republicana comparam Trump a Ortega, Castro e Maduro em convenção democrata

Ana Navarro, de 52 anos, foi estrategista política do partido do ex-presidente, mas subiu no palco democrata para responder aos ataques do republicano a Kamala Harris

A estrategista política e comentarista nicaraguense-americana Ana Navarro - Mandel NGAN/AFP

O entusiasmo desencadeado pela candidatura de Kamala Harris à presidência no lugar do atual presidente, Joe Biden, levou o seu rival, Donald Trump, a aumentar seus ataques contra ela.

Um de seus favoritos é chamá-la de "comunista" sem apresentar qualquer base, mesmo usando imagens geradas com inteligência artificial. Mas na terça-feira (21), na convenção democrata, ele foi recebido com a resposta de uma ex-republicana, Ana Navarro, cujos pais se refugiaram nos Estados Unidos fugindo da Nicarágua.

A comentarista política e latina comparou Trump ao presidente da Nicarágua, Daniel Ortega; com os irmãos Fidel e Raúl Castro, de Cuba, e com Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, a quem identificou como "ditadores comunistas".

 

— Donald Trump e seus capangas chamam Kamala de comunista. Eu conheço o comunismo. Fugi do comunismo na Nicarágua quando tinha oito anos. Eu não levo isso como algo leve — disse Navarro.

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Comentarista política na televisão, ela ocupou vários cargos no Partido Republicano e trabalhou para o governador da Flórida, Jeb Bush, nunca apoiou Trump e em seu breve discurso no United Center, diante dos milhares de delegados e convidados da convenção democrata, deixou clara a sua discordância.

"Deixe-me dizer o que os ditadores comunistas fazem, e nunca é apenas por um dia", disse ele em uma clara alusão a quando o ex-presidente disse que, se ganhasse a eleição, seria ditador no primeiro dia.

— Eles atacam a imprensa livre. Eles os chamam de inimigos do povo, como Ortega faz na Nicarágua. Eles colocam seus parentes não qualificados em cargos governamentais abastados para que possam enriquecer com suas posições como os Castros em Cuba, e se recusam a aceitar eleições legítimas quando perdem, e pedem violência para permanecer no poder. como Maduro está fazendo agora na Venezuela — discursou, a política. E continuou ele — Agora me diga uma coisa: alguma dessas coisas soa familiar? Existe alguém concorrendo à presidência que o lembre disso? E eu sei de uma coisa, não é Kamala Harris. Essa não é a América, a América que amamos. Não é a terra dos livres —

Por fim, Navarro afirmou que todos os americanos deveriam agir como Biden e colocar o país acima de escolhas individuais.

— Ouvimos o presidente [Joe] Biden dizer que ama seu trabalho, mas ama mais seu país. Todos os americanos deveriam amar mais nosso país. Todo americano tem o dever de colocar nosso país em primeiro lugar, o país em primeiro lugar, antes do partido. O país primeiro, antes da ambição política", concluiu seu discurso.

De crente a renegado
Além da comentarista, os democratas decidiram na terça-feira dar voz a alguns republicanos que renegam Trump. O discurso que se sobressaiu aos outros foi da ex-secretária de imprensa da Casa Branca, Stephanie Grisham.

A ex-funcionária de Trump afirmou que não apenas apoiava o republicano, como se tornou uma "verdadeira crente".

— Eu era um de seus conselheiros mais próximos. A família Trump se tornou minha família. Passei a Páscoa, o Dia de Ação de Graças, o Natal e a véspera de Ano Novo em Mar-a-Lago — disse Grisham no início do discurso, antes de partir para o ataque.

— Eu o vi quando as câmeras estavam desligadas, a portas fechadas. Trump zomba de seus apoiadores. Ele os chama de moradores do porão — revelou.

E relembrou que em uma visita que fez a um hospital durante a pandemia, enquanto as pessoas morriam de covid ou em terapia intensiva, o então presidente "estava com raiva porque as câmeras não estavam focando nele".

— Ele não tem empatia, nem moral, nem fidelidade à verdade. Ele costumava me dizer: 'Não importa o que você diga, Stephanie, diga o suficiente e as pessoas vão acreditar em você'. Mas isso importa: o que você diz importa, e o que você não diz importa —, acrescentou.

Grisham disse que em 6 de janeiro de 2021, dia do ataque ao Capitólio, ela perguntou à então primeira-dama Melania Trump se eles poderiam twittar que, embora "o protesto pacífico seja um direito de todos os americanos, não há lugar para ilegalidade ou violência". Mas foi respondida com uma palavra: Não.

— Naquele dia, tornei-me o primeiro membro sênior da equipe a renunciar. Eu não poderia continuar a fazer parte da loucura — disse a ex-apoiadora.

Grisham lembrou que foi atacada por não dar um único comunicado à imprensa no período em que atuou como porta-voz, de julho de 2019 a abril de 2020, quando se mudou para o gabinete da primeira-dama. "É porque, ao contrário do meu chefe, eu nunca quis subir naquele pódio e mentir", justificou.

— Agora estou aqui atrás de um pódio defendendo um democrata, e isso é porque amo meu país mais do que meu partido. Kamala Harris diz a verdade. Ele respeita o povo americano e tem meu voto — concluiu, sob aplausos dos delegados democratas.