Bombardeio israelense mata comandante do braço armado do Fatah no Líbano
O ataque ocorreu ao final da última visita do chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, ao Oriente Médio
Um bombardeio israelense matou, nesta quarta-feira (21), no Líbano, um comandante do braço armado do Fatah, movimento palestino sediado na Cisjordânia ocupada, que acusou Israel de querer desencadear um conflito regional, resultante da guerra na Faixa de Gaza.
O ataque ocorreu ao final da última visita do chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, ao Oriente Médio para tentar alcançar uma trégua entre Israel e o movimento islamista palestino Hamas, no poder em Gaza.
Neste nono giro desde o início do conflito, iniciado em 7 de outubro após um ataque mortal do Hamas em território israelense, o secretário de Estado não conseguiu avanços visíveis nas negociações, mas advertiu que a proposta americana poderia ser "a última oportunidade" para se alcançar a paz.
Washington considera que um cessar-fogo ajudaria a evitar uma conflagração regional, incluindo um possível ataque contra Israel lançado pelo Irã e seus aliados, como o Hezbollah libanês, em represália ao assassinato do chefe do Hamas, em 31 de julho, em Teerã, atribuído a Israel.
Desde o início da guerra, o Hezbollah troca tiros quase diariamente com Israel, que matou diversos combatentes e dirigentes deste movimento islamista aliado do Hamas.
Nesta quarta-feira, Israel tomou como alvo em Sidon, no sul do Líbano, um líder das Brigadas dos Mártires de Al Aqsa, braço militar do Fatah, rival do Hamas.
"Desencadear uma guerra"
Esta é a primeira vez desde o início da guerra em Gaza que Israel mata um alto dirigente do Fatah, partido de Mahmud Abbas, presidente da Autoridade Palestina que administra parcialmente a Cisjordânia, um território ocupado por Israel desde 1967.
O exército israelense confirmou que tinha atacado o comandante Khalil al Maqdah, a quem acusa - assim como a seu irmão, Munir Maqdah -, de trabalhar para o Irã e de envolvimento em "ataques terroristas" e "tráfico de armas" para a Cisjordânia.
Este "assassinato" é "uma prova a mais de que Israel quer desencadear uma guerra em larga escala na região", denunciou Tufiq Tirawy, membro do Comitê Central do Fatah em Ramallah, sede da Autoridade Palestina na Cisjordânia ocupada.
O Ministério da Saúde libanês informou, por sua vez, que bombardeios israelenses deixaram pelo menos um morto e 19 feridos no leste do país e quatro mortos no sul.
O Hezbollah reivindicou o disparo de foguetes Katiusha contra várias posições militares no norte de Israel, cujas forças contabilizaram uma centena de projéteis disparados contra a região e as Colinas de Golã, território sírio anexado por Israel.
Blinken concluiu sua visita a Israel, Egito e Catar para pressionar por uma trégua na Faixa de Gaza, onde os 2,4 milhões de habitantes estão mergulhados em uma situação humanitária catastrófica.
As negociações mediadas por Estados Unidos, Egito e Catar serão retomadas esta semana, depois que Washington apresentou, na sexta-feira, uma proposta de trégua durante um primeiro ciclo de contatos em Doha.
Desacordos
Blinken assegurou que o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, aceitou o plano e pediu na terça-feira ao Hamas para fazer o mesmo.
Mas, segundo veículos de imprensa israelenses, Netanyahu insiste em que Israel mantenha o controle do corredor Filadélfia, uma faixa de 14 km ao longo da fronteira entre Gaza e Egito.
Nos contatos, foi dito "muito claramente que os Estados Unidos não aceitam uma ocupação a longo prazo de Gaza por parte de Israel", declarou Blinken, quando perguntado sobre estes informes.
O Hamas disse estar "desejoso de alcançar um cessar-fogo", mas rejeitou as "novas condições" impostas por Israel.
O movimento palestino exige a aplicação do plano anunciado em 31 de maio pelo presidente americano, Joe Biden, que contempla uma trégua de seis semanas juntamente com uma retirada israelense das áreas densamente povoadas de Gaza e a libertação de reféns sequestrados pelo Hamas em 7 de outubro.
Em uma segunda fase, prevê uma retirada total de Israel do território palestino.
Mas Netanyahu reitera que vai continuar com a guerra até obter a destruição do Hamas, considerado uma organização terrorista por Israel, Estados Unidos e União Europeia.
A guerra eclodiu em outubro, quando combatentes do Hamas lançaram um ataque no qual mataram 1.199 pessoas no sul de Israel, a maioria civis, segundo um balanço baseado em dados oficiais.
Eles também levaram 251 reféns, dos quais 105 continuam em Gaza, incluindo 34 que o exército declarou como mortos.
A ofensiva israelense na Faixa de Gaza deixou pelo menos 40.223 mortos, segundo o Ministério da Saúde do governo do Hamas, que não detalha quantos são civis ou combatentes. Segundo a ONU, a maioria é de mulheres e menores.
Nesta quarta-feira, três pessoas morreram em bombardeios noturnos em Gaza, segundo a Defesa Civil do território palestino.
Testemunhas reportaram bombardeios em Khan Yunis, no sul, assim como em Jabaliya, no norte, e em Deir al Balah, no centro do território.
O exército israelense informou que tinha atacado "cerca de 30 alvos terroristas na Faixa de Gaza" no último dia e que seus soldados "eliminaram dezenas de terroristas armados" em Rafah, no sul.