FOLHA ENERGIA

Grupo Olho D'Água: estudo da produção de biometano

Combustível gasoso apresenta-se como excelente substituição de combustíveis fósseis poluentes e desponta como solução promissora de energia renovável

Usina Olho D'Água registrou safra recorde, processando 2.094.575 toneladas - Divulgação

O Grupo Olho D’Água, formado pelas usinas Central Olho D’Água (Camutanga-PE), Giasa (Pedras de Fogo-PB) e Comvap (União-PI), está estudando a viabilidade de investir em Pernambuco uma unidade produtora de biometano.

Trata-se de combustível gasoso obtido a partir do processamento do biogás que, por sua vez, é gerado pela digestão de matéria orgânica (biomassa). Se concretizado, o negócio será viabilizado a partir de uma associação com uma empresa especializada em tecnologias exclusivas de produção e comercialização de biogás e biometano.

O biometano desponta como uma das soluções mais promissoras na substituição de um combustível fóssil e altamente poluente, para uma alternativa renovável, com menos emissão de gases de efeito estufa (GEEs). O aumento da busca por biometano demonstra uma grande preocupação da era moderna.

Essa preocupação diz respeito ao fato de que, hoje no mundo, a maioria das matrizes energéticas e dos fertilizantes são derivados de fontes fósseis, como o petróleo ou o gás natural, concentrados na mão de poucos e grandes produtores, provocando insegurança energética e alimentar.

Sabe-se que os combustíveis fósseis, altamente prejudiciais à natureza por conta da alta emissão de GEEs, aceleram o aquecimento global. 

Investimento inicial
Um dos entraves que fazem com que o Grupo Olho D’Água estude melhor a proposta antes de tomar a decisão é o investimento inicial no negócio, que fica entre R$ 70 milhões e R$ 80 milhões.


“Hoje, os juros estão meio proibitivos no Brasil. A gente já vem fazendo outros investimentos, como em uma indústria de açúcar na unidade da Paraíba, que só produzia álcool, por isso tem que ir devagarinho para não tropeçar”, lembra o diretor-presidente do Grupo Olho D’Água, Gilberto Carvalho Tavares de Melo.
 

Caso o grupo feche o acordo, o que pode ocorrer até o final deste ano, passará a produzir, já a partir de 2026, 36 milhões de m3 de biometano, que terão como destino os mercados veicular e industrial da Região Nordeste.

“O produto é muito barato. Não tem como levá-lo, por exemplo, para o Sul, porque o custo com transporte não compensa”, justifica Gilberto.


Outro quesito que o Grupo Olho D’Água vem estudando é como seria essa parceria.

“É um negócio novo para a gente, por isso temos que estudar muito antes de decidir. Há uma frase que um tio meu costumava usar quando alguém ia oferecer uma nova tecnologia: ‘meu amigo, eu quero ser o último dos primeiros’”, diz Gilberto para lembrar do cuidado que é necessário ter antes de uma decisão.

Recorde
A Usina Central Olho D’Água registrou uma safra recorde em abril último, processando 2.094.575 toneladas na moagem de 2023/2024. Foi a maior colheita já realizada por uma unidade industrial em Pernambuco. Na moagem passada, a empresa havia processado 1.976.693 toneladas. 

Atualmente, a empresa tem 15 mil hectares de canaviais irrigados, sendo 10 mil hectares de irrigação de salvação (atende apenas a períodos críticos da lavoura, para garantir a produtividade, acudindo, principalmente, nos anos e em períodos nos quais a distribuição de chuvas venha a se mostrar insuficiente) e 5 mil hectares de irrigação plena (aplicação de 100% da demanda hídrica da cultura que foi calculada baseada na umidade do solo, evapotranspiração, etc.).

A área de sequeiro (não irrigada) é de 6,5 mil hectares. 

As projeções para 2025 são ainda melhores. “A próxima safra deverá ser maior, porque o verão e o inverno estão sendo muito bons, com a chuva bem distribuída. Com isso, a gente acredita que vai bater o recorde novamente”, vislumbra Gilberto.

Quanto à produção total do grupo, na última safra foram moídas 4,5 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, que gerou 300 mil toneladas de açúcar e 200 milhões de litros de álcool.

Para a próxima safra, espera-se chegar a pelo menos 450 mil toneladas de açúcar e até 120 milhões de litros de álcool.

“A gente está transferindo o álcool para o açúcar. O preço do álcool não está pagando o custo porque está congelado”, acrescenta. 

Açudes
O clima tem ajudado, mas a empresa também vem realizando investimentos que contribuíram para o desempenho alcançado este ano. Construiu, na Zona da Mata de Pernambuco, dois grandes açudes para aumentar a área irrigada.

O primeiro foi em Itambé e tem a capacidade de armazenar 20,7 milhões de m3 de água. 

O segundo, concluído no ano passado, fica no município de Aliança e comporta 17 milhões de m3. Este último, que levou 11 meses para ficar pronto, demandou investimentos da ordem de R$ 70 milhões, dos quais R$ 40 milhões foram destinados à barragem e os outros R$ 30 milhões ao sistema de irrigação.

“Se não tivéssemos feito os açudes, íamos continuar reféns do clima. As lagoas fizeram a diferença. Até o clima melhorou. Ficou menos seco”, explica o empresário.

 

Gilberto Carvalho Tavares de Melo, diretor-presidente do Grupo Olho D’Água |  Foto: Arthur Mota/Folha de Pernambuco 

Certificações
As certificações recebidas pelas usinas do grupo atestam a excelência dos produtos fabricados sem negligenciar os cuidados com o meio ambiente.

A Central Olho D’Água, por exemplo, recebeu, em 2020, a certificação Bonsucro, que é reconhecida e respeitada internacionalmente.

O selo é uma iniciativa global de múltiplas partes interessadas dedicadas às questões ambientais e sociais da produção de cana-de-açúcar. 

Tudo isso com foco em aprimorar continuamente os três pilares da sustentabilidade: viabilidade econômica; responsabilidade social e sustentabilidade; e preservação ambiental, assumindo um compromisso de implementar e manter todos os seus requisitos. 

Já a usina Giasa, adquirida pelo Grupo em 2019, recebeu, dois anos depois, a certificação do Padrão de Combustível de Baixo Carbono (LCFS, na sigla em inglês), programa desenvolvido pelo Conselho de Qualidade do Ar da Califórnia (Carb).

O documento serve de passaporte para a exportação de etanol para o estado norte-americano, que tem uma legislação rigorosa e dá preferência ao etanol de cana-de-açúcar (os Estados Unidos só fabricam etanol a partir do milho). 

Desde a sua fundação, em 1920, quando era apenas o Engenho Olho D’Água, a empresa mantém atuação relevante na área social, dirigindo atenção e investindo recursos na melhor qualidade de vida e capacitação de seus colaboradores, no apoio à comunidade na qual está inserida e na preservação do meio ambiente, que inclui a preservação de quase 3 mil hectares de Mata Atlântica.

“Estamos também fazendo o contorno das nossas barragens com mata ciliar”, acrescenta Gilberto. 

O grupo Olho D’Água, que emprega um total de 8.679 pessoas na safra e 5.625 durante a entressafra, participa do Programa Empresa Amiga da Criança, da Fundação Abrinq.

É também reconhecido com o selo Empresa Solidária pelo apoio que presta ao Imip, instituição que desenvolve um trabalho social e médico de referência para mães e crianças.