Turá Recife: Lenine e Suzano revisitam álbum"Olho de Peixe", três décadas depois
Dupla volta a se apresentar em Pernambuco, no palco no Festival Turá Recife, neste sábado (24)
O álbum “Olho de Peixe”, de Lenine e Suzano, relançado em vinil em maio de 2023 pelo Noize Record Club, voltará a ser tocado ao vivo em Pernambuco após mais de três décadas da sua estreia em CD, em 1993, em pelo selo Velas. Esse reencontro acontece neste sábado, no Classic Hall, em Olinda, às 17h45, dividindo o palco com Maria Rita, Baco Exu do Blues, Nação Zumbi com convidados, e Joelma, que encerra a programação.
No início dos anos de 1990, o pernambucano Lenine estava radicado no Rio de Janeiro, ainda em busca do seu espaço como artista nacional. Marcos Suzano, percussionista carioca, era presença certa em rodas de música. Foi em uma dessas farras musicais na casa de amigos em comum na Urca que os dois se conheceram. Em pouco tempo, já estavam ensaiando e combinando compassos ímpares com um entrosamento notável. Um tempo depois, os dois gravaram um disco considerado divisor de águas da música brasileira.
“Olho de Peixe” também ganhou, em 2023, um songbook assinado por Yuri Pimentel, sobrinho de Lenine. Na capa, o álbum traz uma foto que a NASA liberou da aproximação da Voyager em Júpiter. “Aquilo que parece ser um olho de um peixe é um furacão. Ele tem uma dimensão de sete terras”, explica Lenine.
Repercussão mundial
Lenine, que havia lançado seu primeiro álbum “Baque Solto” em 1983 ao lado de Lula Queiroga, produziria com Suzano e com o produtor musical Denilson Campos, o disco que os projetou no cenário da música. Tudo foi captado em uma única noite. Suzano tinha acabado de chegar do México, onde havia gravado com Joan Baez, e sugeriu que o disco fosse finalizado em Nova York.
Os três decidiram, então, viajar aos Estados Unidos para terminar a produção do álbum com James Ball, no RPM Studios. “Minha sugestão de mixar com um cara que nunca mexeu com música brasileira era exatamente ter o olhar de um cara que mixava música americana como rock, pop, jazz, para dar o arremate final. E deu muito certo”, explica Suzano.
“Esse álbum não nos lançou só nacionalmente, eu acho que ele lançou a mim, ao Suzano e ao Denilson no mundo”, aponta Lenine. “Naquele momento que a gente estava lançando o disco, coincidentemente surgia no mercado uma ideia de uma música étnica, música chamada de world music. (não entendo esse ‘word music’... é como se houvesse ‘Júpiter Music’ ou ‘Mars Music’, mas eu entendi desde esse tempo que era tratada como uma música étnica, uma música contemporânea”, detalha o cantor pernambucano.
Acústica e rítmica
“Olho de Peixe” passa longe do que se pode chamar de álbum convencional, a começar pela formação, protagonizada por dois instrumentos marcantes de cada um e que se complementam muitas vezes invertendo seus papéis: o violão percussivo de Lenine e o pandeiro com graves harmônicos de Suzano, que criam uma atmosfera acústica muito peculiar e que se complementam.
“Tem uma coisa que é muito bacana, que é a invenção de uma espécie de ‘talking drum’ que o Suzano fazia no pandeiro, com baixa frequência. Ele afrouxou a pele de couro dele, criando um deep, um grave... ele criava um tipo de harmonia, e eu tava fazendo percussão com o violão. Que se somaram de uma maneira muito especial, muito ímpar”, descreve Lenine.
“Eu cresci em Copacabana, batucava na rua. Mas o pandeiro, dos instrumentos, foi o último que aprendi. Eu só tocava partido alto, que é a batida mais fácil que tem de tocar pandeiro. Aí um dia eu vi a televisão, a Clementinha de Jesus, com o Jorginho do Pandeiro, tocando a época de ouro… aí eu vi a batida. Comecei a tocar, só que reparei que estava tocando ao contrário”, descreveu Suzano, explicando como desenvolveu seu jeito peculiar de tocar pandeiro, com uma mecânica invertida do convencional.
"Ao terminar o Olho de Peixe, eu estava formado em produzir. Eu passei a vida toda fazendo o que eu faço da maneira artesanal, testando, captando, tendo medo de arriscar e arriscando tudo", comenta Lenine. "E até hoje é um disco lembrado da música brasileira, sem dúvida. É um negócio verdadeiro. Por isso que a gente vê, por exemplo, os filhos da rapaziada que assistiu o show quando a gente fazia 'Olho de Peixe em 1994, agora com 30, 28, 25 anos. Os caras se roendo pra ver o show. Aqui no Rio teve muito isso. Durante muito tempo - lógico que hoje ele tem uma dimensão que extrapola o que a gente imaginava - mas durante muito tempo ele era um disco pra iniciados". Lembra Marcos Suzano.
Sobre Olho de Peixe
O álbum reúne composições de Lenine em parceria com Lula Queiroga, Paulo César Pinheiro, Bráulio Tavares, Dudu Falcão e Ivan Santos. Ao longo das 13 faixas, influências de ritmos do Nordeste como o maracatu, o baião e a ciranda, com outro pé no que era tendência no mundo, como o rock e o soul. Versos conduzidos pelo violão, pandeiro, reco-reco, tantã, moringa, ganzá e triângulo.
Além da dupla Lenine e Suzano, a formação se completa do álbum tem Carlos Malta tocando saxofone, Paulo Muylaert (guitarra), e Fernando Moura (teclados). No repertório do show, canções como “Leão do Norte” (Lenine e Paulo César Pinheiro), “Miragem do Porto” (Lenine e Bráulio Tavares, 1992), que tinha aparecido no álbum lançado por Elba no ano anterior (Encanto, 1992); “Escrúpulo” (1992) – parceria de Lenine com Lula Queiroga, além das demais faixas do disco e algumas surpresas.
SERVIÇO:
Lenine e Suzano apresentam “Olho de Peixe” no Festival Turá Recife
Quando: Sábado (24), às 17h45
Local: Classic Hall - Av. Gov. Agamenon Magalhães, s/n, Salgadinho, Olinda
Ingressos: a partir de R$ 140 (para os dois dias)
Classificação etária: de 10 a 14 anos acompanhado dos responsáveis legais. A partir de 15 anos, desacompanhado. Vedada a entrada de menores de 10 anos
Programação completa: @festivalturarecife