diplomacia

Modi afirma defender "veementemente a paz" durante visita histórica na Ucrânia

A Casa Branca afirmou que a visita do primeiro-ministro indiano à Ucrânia pode ser útil

O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky (D) e o primeiro-ministro indiano Narendra Modi - Sergei Supinsky / AFP

O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, reiterou nesta sexta-feira (23) seu apelo por uma solução pacífica para o conflito na Ucrânia durante sua visita a Kiev, descrita como “muito simbólica e histórica” por seu anfitrião, o presidente ucraniano Volodimir Zelensky.

A visita de Modi, cujo país tem excelentes relações com Moscou, ocorre em um momento em que parece difícil para a Rússia e a Ucrânia chegarem a um acordo diplomático para acabar com a invasão russa, que começou há dois anos e meio.

Sentado ao lado de Zelensky, o primeiro-ministro indiano de 73 anos explicou que seu país “apoia firmemente a paz” entre as partes em conflito.

“Ficamos fora da guerra com grande convicção. Isso não significa que fomos indiferentes”, disse Modi, o primeiro chefe de governo indiano a visitar a Ucrânia, aos repórteres.

Antes de sua reunião, Zelensky e Modi se abraçaram na entrada do palácio presidencial, de acordo com os jornalistas da AFP presentes.

A Índia está tentando manter um equilíbrio delicado entre a Rússia, com a qual estabeleceu fortes laços, e as nações ocidentais, com as quais busca laços mais estreitos para combater a rival regional China.

“Qualquer que seja a ajuda de que você precise do ponto de vista humanitário, a Índia sempre estará com você e fará todo o possível para apoiá-lo”, disse Modi, dirigindo-se ao presidente ucraniano.

O ministro das Relações Exteriores da Índia, Subrahmanyam Jaishankar, justificou os laços energéticos entre a Rússia e a Índia, que continua a importar petróleo russo, lembrando que Nova Délhi “geralmente não impõe sanções a nenhum país”.

A Casa Branca afirmou, nesta sexta-feira, que a visita do primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, à Ucrânia pode ser útil, após tê-lo criticado por abraçar o presidente russo, Vladimir Putin, durante uma viagem a Moscou.

Se a viagem do primeiro-ministro puder contribuir "para pôr fim ao conflito, segundo a visão de (Volodimir) Zelensky de uma paz justa, pensamos que pode ser útil", afirmou o porta-voz do Conselho de Segurança da presidência dos Estados Unidos, John Kirby.

- Modi em Moscou -
O líder indiano evitou condenar explicitamente a invasão russa na Ucrânia desde o início do conflito em fevereiro de 2022 e sempre se absteve nas resoluções da ONU contra a Rússia.

No início de julho, Modi se reuniu com o presidente russo, Vladimir Putin, em Moscou.

Sua visita ocorreu logo após a Rússia bombardear várias cidades ucranianas. Os ataques deixaram dezenas de mortos e danificaram um hospital infantil em Kiev.

Durante a visita, os dois líderes se abraçaram e o presidente russo entregou um prêmio ao seu convidado.

O chefe de governo indiano elogiou as trocas “frutíferas” e observou que “decisões importantes foram tomadas para fortalecer a cooperação bilateral” em “comércio, segurança, agricultura e tecnologia”.

Zelensky, por outro lado, descreveu a visita como um “golpe devastador nos esforços de paz”.

Desde o início da guerra, outras potências, como a China, tentaram mediar o fim do conflito, até agora sem sucesso devido às exigências aparentemente irreconciliáveis de cada lado.

- Mediação complicada -
Putin alega que um cessar-fogo e negociações só serão possíveis se Kiev ceder regiões que a Rússia alega ter anexado e renunciar ao seu desejo de se juntar à Otan.

Mas para a Ucrânia e seus aliados ocidentais, essas condições são inaceitáveis.

O lançamento de uma ofensiva ucraniana na região russa de Kursk, em 6 de agosto, aumentou ainda mais as incertezas, já que as tropas russas continuam a ganhar terreno no leste da Ucrânia.

Kiev explicou que um dos objetivos da operação era pressionar a Rússia a realizar negociações “justas”, mas o Kremlin disse no início da semana que “não conversará” com a Ucrânia por causa da incursão.

A Rússia é um dos principais fornecedores de armas e petróleo a preços acessíveis para a Índia, embora o impasse entre Moscou e as potências ocidentais e seus laços mais estreitos com a China no contexto do conflito na Ucrânia tenham afetado suas relações com Nova Délhi.

Como membro do BRICS, juntamente com o Brasil, a Rússia, a China e a África do Sul, e da Organização de Cooperação de Xangai (SCO), a Índia é favorável a um mundo multipolar e está desenvolvendo sua cooperação com os EUA paralelamente.