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Macron inicia consultas difíceis para nomear novo governo

A França está em um limbo político desde as eleições de 30 de junho e 7 de julho

O presidente francês Emmanuel Macron - Aurelien Morissard / POOL / AFP

O presidente da França, Emmanuel Macron, iniciou, nesta sexta-feira (23), suas consultas com os grupos políticos para nomear um novo governo quase dois meses após as eleições legislativas.

A França está em um limbo político desde as eleições de 30 de junho e 7 de julho, nas quais a a coalizão de esquerda Nova Frente Popular (NFP) ficou em primeiro lugar, com 193 dos 577 cadeiras da Assembleia Nacional (Câmara Baixa).

Apesar de estar longe da maioria absoluta de 289 deputados, a NFP, formada por socialistas, comunistas, ecologistas e o partido da esquerda radical A França Insubmissa (LFI), pede prioridade para formar o governo e propõe como primeira-ministra Lucie Castets.

Mas o mandatário de centro-direita, que iniciou com a coalizão de esquerda sua rodada de consultas no Palácio do Eliseu em Paris, rejeitou até agora nomeá-la como chefe de governo, ao entender que ela não conta com a maioria suficiente na Assembleia.

Conquistar uma maioria absoluta se anuncia difícil com a nova Câmara Baixa. Para além da NFP, a aliança de Macron obteve 166 deputados, seguida do partido ultradireitista Reagrupamento Nacional (RN) e seus aliados (142) e do partido da direita tradicional Os Republicanos (LR, 47).

"Estou disposta a construir coalizões, a debater com as demais forças políticas para tentar encontrar um caminho para garantir a estabilidade do país e responder às necessidades urgentes dos franceses", disse Castets, após o encontro.

A proposta da NFP é a única sobre a mesa, mas a situação, a ultradireita e a direita já ameaçaram com uma moção de censura contra um governo de esquerda, especialmente se houver ministros da LFI.

Mas a esquerda pressiona. A rejeição em nomear "um primeiro-ministro de uma coalizão que chegou na liderança" se assemelha a "um golpe de Estado", assegurou o líder comunista Fabien Roussel.

"Mensagem de alternância" 
Diferentemente dos países vizinhos, onde o poder dos chefes de Estado é bem mais protocolar, a França conta com um regime semipresidencial desde 1958 e Macron, cujo mandato termina em 2027, compartilha o Poder Executivo com o governo, que pode ser de outra ideologia política (coabitação).

Também lhe corresponde nomear o chefe de governo. Em uma situação de bloqueio inédita na vigente Quinta República, Macron pediu a seu primeiro-ministro, Gabriel Attal, que continuasse no cargo até os Jogos Olímpicos de Paris.

Mas, segundo participantes do encontro com sua aliança de centro-direita, Macron afirmou que as eleições enviaram uma "mensagem de alternância" sem "repúdio total" ao seu campo e que seu objetivo é conseguir uma "solução institucionalmente estável".

Como conseguir isso? A esquerda e o RN querem revogar a reforma previdenciária, uma das principais políticas de Macron. Nenhum partido quer uma aliança com a extrema direita e o LR, que apoiou o governo Macron em seus projetos cruciais na legislatura anterior, rejeita um governo de coalizão.

Macron provocou uma onda de choque na França com a inesperada antecipação das legislativas, previstas inicialmente para 2027, ao pedir um "esclarecimento" aos eleitores após a vitória do RN nas eleições europeias, e agora não pode dissolver a Assembleia até julho de 2025.

Mas a apresentação do orçamento para o próximo ano, que deve chegar ao Parlamento em outubro, estabelece um prazo limite para a substituição do atual governo interino na segunda maior economia da UE.

A líder ecologista Marine Tondelier, que criticou "uma forma de obstrução", pediu ao presidente uma decisão "até terça-feira", após as consultas, que continuarão na segunda-feira com os ultradireitistas Marine Le Pen e Jordan Bardella.