ELEIÇÕES EUA

Harris e Trump entram na corrida final pela Casa Branca

A vice-presidente ultrapassou Trump nas pesquisas, apagando a vantagem que o republicano exibia antes da desistência do presidente Joe Biden há um mês

Kamala Harris e Donald Trump - Brendan Smialovski/AFP

Kamala Harris e Donald Trump iniciam, nesta sexta-feira (23), uma maratona final de 10 semanas de corrida rumo às eleições presidenciais de 5 de novembro, com a democrata em ascensão depois de um discurso eletrizante no dia anterior, no qual aceitou a nomeação do Partido Democrata.

Menos de três semanas antes do esperado debate entre a vice-presidente democrata e o ex-presidente republicano - e apenas um mês antes do início da votação antecipada - as pesquisas mostram que a batalha pela Casa Branca está acirrada.

Harris deixa a Convenção Nacional Democrata realizada esta semana em Chicago com os ventos a seu favor.

Ela ultrapassou Trump nas pesquisas, apagando a vantagem que o republicano exibia antes da desistência do presidente Joe Biden há um mês.

Ela, no entanto, não descansou sobre os louros. “Isso foi bom, mas agora temos que seguir em frente”, disse ela à NBC News.

Dan Kanninen, um dos gestores da campanha de Harris, alertou que a disputa "não mudou fundamentalmente" e permanece "muito, muito acirrada".

Uma nova reviravolta na luta já muito disputada pode acontecer nesta sexta-feira com o esperado anúncio de apoio de Robert F. Kennedy Jr. a Donald Trump.

Kennedy, um teórico da conspiração que foi rejeitado por grande parte de sua famosa família, tem pouco apoio próprio, mas ainda assim pode influenciar a favor do republicano em uma eleição que certamente será decidida por margens minúsculas.

Harris aceitou a nomeação presidencial do seu partido em uma deslumbrante última noite em Chicago, cercada por uma constelação de celebridades que prepara o cenário para uma corrida cansativa até às eleições.

Em apenas um mês, a primeira mulher negra com chances reais de chegar à Casa Branca conseguiu dar nova vida ao seu partido e arrecadar um recorde de US$ 500 milhões (R$ 2,7 bilhões) para sua campanha, e está vivendo uma lua de mel.

Sua campanha recebeu outro impulso potencial quando o presidente do Federal Reserve (Fed, Banco Central americano), Jerome Powell, disse que "chegou o momento" de um corte das taxas de juros, algo que reduziria os custos hipotecários e outras pressões inflacionárias para os eleitores.

- A retirada de Kennedy -
Os possíveis obstáculos para Harris vêm de tensões internas no partido sobre a política americana para a Faixa de Gaza e a retirada de Kennedy da disputa.

O membro do clã Kennedy planeja fazer um anúncio nesta sexta-feira no Arizona, onde Trump também faz campanha, e promete apresentar um "convidado especial".

A companheira de chapa de Kennedy, Nicole Shanahan, afirmou no X que os democratas estavam "inundando" com "ligações, mensagens de texto e e-mails frenéticos". Estão "aterrorizados ante a ideia de que nosso movimento una forças a Donald Trump", disse.

No entanto, os analistas estão divididos sobre o efeito que teria uma saída de Kennedy.

Pesos-pesados democratas, como Michelle Obama e Bill Clinton ou o companheiro de chapa de Harris, Tim Walz, alertam que o partido poderá perder para os republicanos de Trump se cair no triunfalismo.

- Conquistar o centro -
Trump tem tentado em grande parte mobilizar a sua base conservadora com avisos apocalípticos sobre "migrantes criminosos" e pintando um quadro sombrio de um país em "decadência" que só ele poderia salvar.

Do outro lado, Harris e os democratas aproximaram-se do centro.

Ao longo desta semana, estrategistas democratas apresentaram em Chicago um desfile de republicanos anti-Trump, incluindo ex-funcionários do gabinete do ex-presidente, um prefeito de uma pequena cidade e um ex-funcionário estadual.

"Se você votar em Kamala Harris em 2024, você não é um democrata, você é um patriota", disse o ex-vice-governador da Geórgia, Geoff Duncan.

Embora antes caracterizassem Trump como um demagogo, os democratas começaram agora a zombar do candidato republicano de uma forma destinada a menosprezá-lo e a minar a sua aura de invencibilidade.

Harris inclusive o descreveu como uma pessoa "pouco séria" em seu discurso de aceitação da nomeação.