TEATRO

Guilherme Leme retorna com "O Estrangeiro", em duas apresentações no Teatro do Parque

Monólogo adaptado de Albert Camus será apresentado com nova roupagem, neste sábado (23) e domingo (24)

Guilherme Leme, ator e diretor - Divulgação

A prosa foi por telefone. Lance de voz, entonação, boas risadas… Troca. É que com o olho no olho fora de moda e impessoalidades afloradas, seguir na vanguarda dos tempos atuais é para poucos.

É para o ator  Guilherme Leme, o "Meursault" do escritor e romancista franco-argelino Albert Camus, que retorna aos palcos em nova montagem do monólogo "O Estrangeiro" - romance adaptado da década de 1940, em cartaz no Teatro do Parque neste sábado (23) e domingo (25).

Dirigido por Vera Holtz, tal qual ocorreu na primeira montagem da peça, em 2009 - com circulação pelo País por pelo menos três anos e encerramento no Festival de Edimburgo (Escócia) - a "nova versão" agora intitulada "O Estrangeiro_Reloaded", ganha outros tons, cores, figurinos e leituras performadas por Guilherme.
 



Ele traz à tona, em narrativa intensa e que passeia pela trajetória do personagem de Camus, um homem que encara a realidade com indiferença, até perder a mãe, tornar-se um assassino, passar por julgamento e ser condenado à morte.

Ocasião em que a praxe do banal de Camus dá lugar ao absurdo.

"Eu achava que já havia cumprido a missão de ter circulado com temporada longa da peça, até me deparar com um convite de voltar com ela.

Conversei com Vera (Holtz), minha parceira desde sempre e disse que não estava com o menor tesão de subir ao palco para fazer a mesma coisa. Só faria se fosse tudo diferente", conta Guilherme. 

E assim foi feito, e tudo foi mexido. Tal qual o mundo 15 anos depois da primeira montagem.

"Desde nossa estreia, tudo mudou. Guerras, pandemia, tínhamos que ter outro olhar. Fazer o mesmo texto, já tão potente, mas com adaptações,", ressalta o ator, fazedor de arte há mais de quatro décadas.

Existencialismo de todos nós
"É impossível você pensar em uma pessoa viva na terra, que um dia não parou e pensou: que mundo é esse?".

De fato, não há. E é sob esse viés que o público, decerto, vai se aproximar ainda mais do texto que será apresentado por Guilherme - afinal, o existencial é (bem) visível a olhos, pensamentos e coração.

Crédito: Divulgação

“É um personagem muito, muito profundo, dentro da crueza dele, da simplicidade, do não ligar para nada da vida diante de tudo.

Mas ele tem uma uma carga de consciência (…) na verdade nós somos isso, existencialismo puro”, reforça Guilherme, que por acaso está ator neste monólogo, mas entre suas facetas na arte, já passou até pelas tintas, como artista plástico.

Vera Holtz, de alma
“A Vera é minha companheira de alma, de vida, sabe? Conheci a Vera trabalhando em teatro, depois fizemos novela (…) Ela foi minha namorada, mas a amizade falou mais alto. Viajamos o mundo por exposições, vamos para tudo que é Bienal, criamos muita cumplicidade.

Eu a dirigi, ela me dirigiu, e dirigirmos várias peças juntos”, conta ele, finalizando a fala sobre a atriz, com uma declaração: “Sozinho eu sou bom, mas com você eu sou melhor”.

Velhor ator, jovem diretor 
“Olha, tenho 40 anos de carreira de ator e 20 anos de carreira de diretor, então me considero um velho ator e nos últimos anos, o jovem diretor, ele tem falado mais alto, sabe?”, confessa, assumindo que apesar da condição de veterano em palcos e outros espaços, segue com o friozinho na barriga em estreias 

E no Recife, “O Estrangeiro_Reloaded”, desembarca pela primeira vez. E, portanto…

“Em qualquer peça que a gente faça, sempre parece a primeira vez. Cada vez que você volta, é uma volta artística. Estava um pouquinho parado no palco, uns três quatro anos, mas eventualmente eu volto como ator.

É um pouco como vinho, vai ficando melhor com o tempo e na arte a gente volta com mais camadas, tem sempre mais um olhar mais”, conclui Guilhermr que, de Recife, guarda lembranças de adolescência.

“Quando era jovem, minha prima morou em Olinda,  casou com um rapaz da cidade e eu ia várias vezes visitá-la. Acho que a primeira viagem de carro que fiz foi para o Nordeste e fiquei em Recife. Me apaixonei”, admite o ator e diretor. E para além de retornar por aqui a trabalho, ele vai também explorar ares litorâneos.

“Porto de Galinhas, Maracaípe, Muro Alto… Tem Carneiros também, né? Eu vou”!

Serviço
“O Estrangeiro_Reloaded”, com Guilherme Leme
Quando: neste sábado (24) e domingo (25), às 19h
Onde: Teatro do Parque - Rua do Hospício, 81, Boa Vista
Ingressos a partir de R$ 60 via Sympla
Informações: (81) 9 9488-6833