FOLHA ENERGIA

Gás natural: papel crucial na transição

Por oferecer alternativa mais limpa de energia, gás é usado em larga escala no mundo e pode ser utilizado em transporte, para aquecimento e na preparação de alimentos

Comparado com derivados de petróleo, ele emite 33% menos gás carbônico do que o óleo combustível - Marlon Diego/Divulgação

O processo da transição energética é um tema complexo. O acordo firmado na 21ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 21), que aconteceu em Paris, em 2015, está com o prazo cada vez mais apertado. 

O objetivo é limitar o aquecimento global em 1,5 °C até o fim deste século, em relação aos níveis pré-industriais. Até agora, o alcance foi de 1,1 °C; e, para chegar ao pretendido, será necessário que o planeta zere a emissão líquida de gases de efeito estufa até 2050. 

Dentre as fontes necessárias para que a desejada transição energética ocorra, o gás natural desempenha um papel crucial nesse trâmite, oferecendo uma alternativa mais limpa aos combustíveis fósseis tradicionais, como carvão e diesel.

A substituição desses combustíveis pelo gás natural é uma estratégia importante no combate às mudanças climáticas. 

Segundo a Agência Internacional de Energia (IEA), desde 2010, a adoção do gás natural tem contribuído para limitar o crescimento das emissões globais de gases de efeito estufa. 

Ainda segundo dados da IEA, o uso do gás gera 27% menos CO2 por unidade de energia gerada (BTU – British Thermal Unit) do que o petróleo e 44% menos do que o carvão. 

Na comparação com derivados de petróleo, ele emite cerca de 33% menos gás carbônico do que o óleo combustível, empregado nas indústrias; 17% menos do que o gás liquefeito de petróleo (GLP), usado em residências; 26% menos do que a gasolina e 27% do que o óleo diesel, utilizados em automóveis, caminhões e ônibus.

Multifuncional
Além da produção de eletricidade, o gás natural é amplamente utilizado como gás de cozinha e para calefação em países de clima frio.

Na geração de energia, ele é utilizado em usinas termelétricas, que são eficientes e emitem menos dióxido de carbono (CO2) comparadas às usinas a carvão ou óleo.

No setor industrial, o gás natural é uma fonte de calor fundamental para processos produtivos em indústrias petroquímicas, siderúrgicas, cerâmicas e de fertilizantes, além de ser uma matéria-prima para produtos químicos como amônia e metanol.

No transporte, o gás natural veicular (GNV) oferece uma alternativa mais limpa aos combustíveis tradicionais, reduzindo significativamente as emissões de poluentes.

No uso doméstico, é amplamente utilizado para cozinhar, aquecer água e ambientes, sendo valorizado pela conveniência e eficiência. 

Além disso, em sistemas de cogeração e trigeração, o gás natural permite a produção simultânea de eletricidade, calor e resfriamento, oferecendo alta eficiência energética para complexos industriais e comerciais.

“Seu papel na transição energética é significativo, funcionando como um ‘combustível ponte’ que ajuda a reduzir emissões de gases de efeito estufa enquanto a infraestrutura de energias renováveis continua a se expandir. A multifuncionalidade do gás natural faz dele um componente indispensável na atual matriz energética global, apoiando tanto a eficiência quanto a sustentabilidade”, explica o presidente da Companhia Pernambucana de Gás (Copergás), Felipe Valença. 

Felipe Valença, presidente da Copergás | Foto: Ricardo Fernandes/ Folha de Pernambuco

Contratempos
No entanto, o uso do gás natural no Brasil está aquém do que se observa em outros países.

Na Alemanha, por exemplo, o gás natural é uma parte integral do cotidiano, presente na indústria, nos domicílios e na mobilidade, tanto em veículos pesados quanto leves.

A familiaridade com o gás natural nesses países deve-se em grande parte à infraestrutura existente, que atende a diversos segmentos do mercado. 

No Brasil, a produção doméstica de gás não é suficiente para atender à demanda.

“Um dos principais fatores que impedem o crescimento é a falta de competitividade em relação aos preços. O gás natural no Brasil pode ser até duas vezes mais caro do que no México, por exemplo. Além disso, o gás natural enfrenta concorrência de outros combustíveis, como o gás de LP (butano), que, apesar de terem uma origem similar, são mais danosos do ponto de vista ambiental e de saúde pública”, acrescenta Felipe Valença.

Outro desafio significativo é a infraestrutura logística para distribuição do gás natural. O transporte até os locais ainda é muito caro. 

Cenário pernambucano
Pernambuco tem se destacado no uso de gás natural, promovendo incentivos que impulsionam tanto a economia quanto a sustentabilidade.

A Copergás atua com cinco pilares para acelerar Pernambuco no segmento da transição energética através das mais variadas maneiras de uso do gás natural.

“O desenvolvimento econômico é o primeiro pilar. Temos um projeto de dobrar a base de clientes nos próximos seis anos. Esse esforço visa levar o gás de forma mais efetiva à população pernambucana”, pontua Felipe.

O segundo pilar é a ampliação da rede de distribuição, já iniciado. Com investimento inicial de R$ 6 milhões, a Copergás passará a abastecer o polo de produção de gesso do Sertão do Araripe proporcionando sustentabilidade à produção. 

O terceiro pilar é a mobilidade. Pernambuco vem testando veículos movidos a gás natural. O projeto é uma parceria do Governo do Estado, Grande Recife Consórcio de Transporte (CTM) e Copergás com a Mobibrasil.

“Essa fase de testes está em finalização e, muito em breve, traremos os resultados. Pernambuco tem tudo para ser um case nacional, já que ninguém no Brasil ainda tem uma frota de ônibus a gás. O foco também é expandir essa medida para veículos pesados, como os caminhões”, destaca Valença.

A sustentabilidade é o quarto pilar. A empresa está empenhada em diminuir a emissão de CO2 e particulados, que são prejudiciais à saúde.

“A introdução do biometano, um gás sustentável e 100% neutro em termos de emissão de carbono, na rede da Copergás a partir do próximo ano, destaca o foco em soluções energéticas mais limpas e eficientes”, esclarece o presidente da empresa.

Além disso, a instituição, junto ao governo estadual e à Assembleia Legislativa de Pernambuco, aprovou o IPVA mais barato para os veículos movidos a gás no valor de até R$ 100 mil.

A alíquota é de 1,5% para esses automóveis, incentivando o uso desse combustível menos poluente nas áreas urbanas. 

O quinto pilar é a inovação: a Copergás está investindo em tecnologia para aumentar a eficiência e qualidade dos serviços à medida que expande sua atuação.

“A transição para o gás natural é uma solução imediata e viável para a redução de poluentes e a garantia de uma matriz energética mais limpa e competitiva. Investir em óleo e gás é estratégico para o Brasil, permitindo maior independência energética e sustentabilidade a longo prazo”, finaliza Felipe Valença.