"Estômago 2 - O Poderoso Chef": diretor diz que não queria "uma versão requentada do original"
Marcos Jorge dirige a sequência do longa-metragem de 2007, que estreia nos cinemas desta quinta-feira (29)
Lançado de forma tímida, em 2007, “Estômago” foi conquistando um público cada vez maior com o passar do tempo, atingindo o status de cult. Validado por uma popularidade que só aumentou com a chegada do longa-metragem ao streaming e os recortes viralizados nas redes sociais, o diretor Marcos Jorge retoma e amplia sua história em “Estômago 2 - O Poderoso Chef”, que estreia nesta quinta-feira (29) nos cinemas.
“É justamente esta posição do ‘Estômago’, a de um filme pop, que nos motivou a trabalhar em uma sequência que não se propõe a ser uma versão requentada do original, mas que ousa ir além do primeiro filme”, garante o cineasta, em entrevista à Folha de Pernambuco, após ver seu mais recente trabalho abocanhar cinco prêmios no último Festival de Gramado.
Como aponta o próprio diretor, “Estômago 2” pode ser apontado, ao mesmo tempo, como uma continuação e um spin-off. Isso porque, embora mostre o que aconteceu com Raimundo Nonato (João Miguel) e outros personagens do primeiro filme depois de 16 anos, o novo longa dá maior destaque a uma nova figura.
Na trama inédita, Nonato fez da prisão o seu restaurante. Com requintes de alta gastronomia, ele conquista pelo paladar desde o diretor do presídio ao líder dos detentos, Etecétera (Paulo Miklos). A chegada de um novo presidiário, no entanto, ameaça a aparente paz do local e coloca o cozinheiro no centro de uma disputa de poder.
Protagonista italiano
Dom Caroglio, interpretado pelo ator ítalo-brasileiro Nicola Siri (o padre da novela “Mulheres Apaixonadas”), é um mafioso italiano que também se encanta pelas habilidades de Nonato. Repetindo a fórmula narrativa do longa original, a sequência transita entre passado e presente, simultaneamente, para mostrar a história pregressa do criminoso, ao mesmo tempo em que filma o conflito crescente dentro da penitenciária.
A parte do filme que diz respeito às origens de Dom Caroglio foi toda rodada na Itália, com atores de lá e falada em italiano, o que torna a obra uma coprodução com o país europeu. Para Marcos Jorge, que estudou cinema na terra de Federico Fellini e deu seus primeiros passos como cineasta em Roma, essa foi a realização de um sonho da juventude.
“Até hoje, mesmo filmando no Brasil, alguns termos cinematográficos me vêm à mente primeiro em italiano do que em português”, aponta o diretor, que destaca ainda o fato de ter trabalhado uma equipe “duplicada”: uma no Brasil e outra na Itália.
“Eu tive dois diretores de fotografia, dois diretores de arte, e por aí vai. A coordenação entre eles, para que estivessem fazendo o mesmo filme, foi centralizada em mim, o que me deu muito trabalho, mas muitas alegrias. E tenho certeza que coloca este filme num lugar bem pouco convencional para o cinema brasileiro”, defende.
Essência mantida
“Estômago 2 - O Poderoso Chef” teve, claramente, um orçamento mais robusto do que o seu antecessor, o que confere ao filme ares de grande produção. No entanto, elementos centrais do longa seguem bem presentes neste retorno. Com um humor ácido sempre presente, violência latente e pratos que abrem o apetite de quem vê, a sequência segue tratando da relação não tão óbvia entre comida e poder.
“O que eu reivindico com este novo filme é que esta relação seja justamente a essência da franquia, muito além dos personagens e das cenas de comida”, afirma Marcos, que não deixa de destacar a diferença na forma como a gastronomia é filmada nos dois longas. “Se o primeiro era focado em pratos simples, o segundo é um verdadeiro banquete barroco, luculiano”, finaliza.