Em dia de tombo nas ações: "Chapter 11 não é nosso plano, nunca foi", diz CEO da Azul
Executivo afirma que companhia não cogita pedir recuperação judicial e que negocia acordo para antecipar pagamento previsto em acordo com arrendadores de aeronaves
Entrar com pedido para ingressar nos Estados Unidos no Chapter 11 — o equivalente à recuperação judicial no Brasil — está “fora de cogitação”, afirma John Rodgerson, presidente da Azul Linhas Aéreas.
O executivo frisa que a empresa está negociando o pagamento antecipado do acordo fechado com arrendadores de aviões no ano passado, o que deverá ser feito por meio da conversão de dívida em ações, o que pode destravar a captação de novos recursos.
Nesta quinta-feira, as ações da Azul registram um tombo próximo de 21% na Bolsa, após a agência Bloomberg ter noticiado que a companhia estaria avaliando pedir recuperação judicial nos EUA, enquanto estaria negociando caminhos para pagar dívidas de vencimento iminente.
Haveria, em paralelo, conversas para fazer uma potencial oferta de ações, segundo fontes ouvidas pela reportagem.
— Divulgamos um fato relevante em resposta à Bloomberg com várias ações nas quais estamos trabalhando e nenhuma delas é o Chapter 11. Não é nosso plano, nunca foi — frisou Rodgerson.
— Estamos trabalhando amigavelmente junto a nossos parceiros. Temos um compromisso para os próximos três anos com nossos lessors que queríamos quitar logo para permitir levantar novo capital. Queremos antecipar e tirar isso de cena.
O pagamento antecipado aos lessors (arrendadores de aeronaves) é o foco central de atenção neste momento, o que seria feito por meio de troca de dívida por ações.
Rodgerson também negou que a Azul esteja organizando uma emissão de novas ações com o objetivo de quitar compromissos financeiros. E frisou que o Citi foi contratado para auxiliar a empresa aérea nas tratativas relacionadas a um possível acordo de parceria ou combinação de negócios com a Gol.
De acordo com o executivo, a negociações em curso com o Abra Group, controlador da Gol, são um assunto que corre separadamente.
— Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Estamos terminando uma negociação de obrigações com parceiros que permaneceram após a pandemia. Enquanto a Gol tem o rito deles (no Chapter 11) para terminar, apresentar um plano, o que ainda não fizeram. Teremos de entender como ficará a Gol, além de ter outras questões, como o Cade — explicou, se referindo à aprovação de um eventual negócio pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica, o órgão de regulação da concorrência no país.
No dia seguinte à aprovação do pacote de socorro ao setor aéreo pela Câmara, o CEO da Azul diz que esta quinta-feira deveria ter sido um dia de alívio, mas foi preciso lidar com o efeito de notícias que não refletem o que a companhia tem negociado com credores e investidores.
Em relação ao crédito do governo para as companhias aéreas, que deverá ter valor de aproximadamente R$ 5 bilhões, Rodgerson afirma isso atende a uma demanda de mais de cinco anos das empresas.
— Como a Azul tem um terço (das operações) do setor, acho que é o tamanho do que poderíamos capturar desse recurso, e fortalecer a empresa para pagar dívidas — disse.
Outras iniciativas em termos de redução de custos e aumento na geração de receitas estão sobre a mesa. Uma delas, citada no fato relevante divulgado ao mercado e já informada na apresentação de resultados do segundo trimestre, seria usar a Azul Cargo como garantia a captação de recursos em um montante de até US$ 800 milhões.
Detentores de títulos da dívida da Azul, destaca o executivo, já se organizam para algo envolvendo essa opção de garantia ancorada na cargueira da companha aérea. São investidores que, segundo Rodgerson, pedem para o acordo com os arrendadores seja fechado, antes, para que eventuais novos aportes não sejam direcionados ao pagamento de aluguel de aeronaves.
Outra frente é o plano estratégico batizado como Eleva ou Azul 6.0 — referência ao dólar valendo perto de R$ 6 — que por meio da melhor gestão de custos e ganho em eficiência operacional poderiam gerar R$ 1 bilhão adicionais em receita já em 2025.
O impacto negativo das enchentes no Rio Grande do Sul para a Azul demandam recursos extras, de acordo com líder da aérea.
— A Azul vai faturar R$ 20 bilhões este ano. O Rio Grande do Sul representa 10% da nossa malha aérea no Brasil, ou quase R$ 2 bilhões. Como vai ficar fora (de operação) por seis meses, seria uma perda perto de R$ 1 bilhão — explicou o executivo.
No segundo trimestre, a Azul registrou um prejuízo de R$ 3,8 bilhões, ante um resultado positivo em R$ 23,9 milhões em igual período de 2023. A dívida líquida da companhia aérea subiu 39%, na comparação anual, e 18% ante ao trimestre anterior, para R$ 24,6 bilhões.
Em razão dos fatores listados pela empresa aérea que impactaram negativamente o resultado, as estimativas de desempenho revisadas também foram anunciadas. A expansão na oferta de assentos este ano deve ser de 7%, contra 11% na previsão anterior.
O Ebitda anual, importante indicador de geração de caixa da empresa, está estimado em R$ 6 bilhões, enquanto antes seria de R$ 6,5 bilhões.