Protesto

Escultor sírio destrói uma de suas obras em frente à sede da ONU, em memória dos desaparecidos

Alguns familiares de pessoas desaparecidas na Síria estiveram presentes na emblemática Praça das Nações

O escultor sírio exilado Khaled Dawwa destrói sua gigantesca obra de arte "O Rei dos Buracos", representando um potentado com um corpo enorme, para encenar um protesto por ocasião do Dia Internacional dos Desaparecidos, em frente aos escritórios das Naçõe - Fabrice Coffrini/AFP

O escultor sírio Khaled Dawwa destruiu nesta sexta-feira(30) sua obra "The King of Holes" em frente à sede da ONU em Genebra para denunciar os milhares de desaparecidos em seu país.

Alguns familiares de pessoas desaparecidas na Síria estiveram presentes na emblemática Praça das Nações, no Dia Internacional das Vítimas de Desaparecimentos Forçados.

"Estamos protestando contra o sistema. Temos o direito de saber a verdade", disse Dawwa, que vive na França e destruiu seu trabalho com golpes de martelo e com serras.

A escultura gigante, feita de madeira, espuma e gesso – com pernas, rosto e mãos furadas – pesa 700 kg e mede 3,5 m de altura.

O escultor sírio exilado Khaled Dawwa (acima), com a ajuda de parentes de pessoas desaparecidas na Síria, destrói sua gigantesca obra de arte "O Rei dos Buracos". Foto: Fabrice Coffrini/AFP

"Esta estátua representa o regime (de Bashar al) Assad, o principal responsável pela detenção dos nossos entes queridos", explicou Wafa Mustafa, ativista da Syria Campaign, que não sabe o paradeiro do pai. Não tem notícias dele desde sua prisão em 2013.

A guerra na Síria, desencadeada pela repressão de manifestações pró-democracia em 2011, deixou mais de meio milhão de mortos, deslocou milhões de pessoas e dividiu o país.

Segundo ONGs, quase 100 mil pessoas estão desaparecidas, vítimas da repressão ou sequestradas por milícias que lutam contra o regime de Bashar al-Assad.

Dawwa participou das manifestações desde o início dos protestos em 2011.

O artista foi gravemente ferido por estilhaços de balas disparadas de um helicóptero do regime que atingiram seu ateliê em maio de 2013.

Ele foi preso após deixar o hospital e mais tarde enviado ao Exército, de onde desertou para fugir para a França em 2014.