MEIO AMBIENTE

Eventos climáticos extremos obrigam empresas de saneamento a investir em novas soluções

Sistemas baseados em uma série histórica agora têm de ser preparados para cenários menos previsíveis

Enchentes na região metropolitana de Porto Alegre - Bruno Peres/Agência Brasil

As mudanças climáticas introduziram novas dificuldades na expansão e operação das redes de distribuição de água potável. As ondas de calor favorecem fenômenos como o da geosmina enquanto aumentam a demanda.

Secas e enchentes mais frequentes alteram os parâmetros para o desenho das estruturas de distribuição e captação, diz o professor Daniel Rodrigues, da Coppe/UFRJ.

Os sistemas baseados em uma série histórica agora têm de ser preparados para cenários menos previsíveis, o que estimula a inovação.

Essa adaptação começou no Rio Grande do Sul pela Corsan, do Grupo Aegea, após a tragédia das chuvas de maio.

A companhia teve bombas submersas e ficou sem energia para distribuir água em meio à emergência em Porto Alegre e outra cidades do estado. Mobilizou mergulhadores para ajudar no reparo de equipamentos e 20 geradores para retomar as operações rapidamente.

O trabalho de mergulhadores já era usado pela Aegea em outras regiões do Brasil, como na limpeza periódica e vistoria técnica dos reservatórios de água de sua operação em Roraima.

Nesse tipo de trabalho, dois mergulhadores com macacão térmico impermeável e máscara full face, que impede qualquer contato deles com a água, fazem algo parecido com a limpeza de uma piscina, com aspiração do material sedimentado.

Essa operação elimina a necessidade de esvaziar os tanques periodicamente para manutenção, evitando desperdício e a interrupção do abastecimento de moradores.

Mapas do tempo
A tragédia gaúcha também estimulou a Aegea a investir em soluções de longo prazo, como a construção de diques e flutuantes nas estações de tratamento para preservar equipamentos em caso de cheia.

Para tentar prever esse tipo de fenômeno, o grupo investe em um mapeamento climático, em parceria com a Climatempo, que cruza dados meteorológicos e hidrológicos para apontar riscos nas bacias onde a empresa capta água. A ideia é desenvolver um painel em tempo real de previsões que permitam ações preventivas.

O trabalho ajudou na preparação para as estiagens severas em Campo Grande (MS) e em Manaus (AM), em 2023. Na capital amazonense, a empresa antecipou a extensão dos sistemas de captação no Rio Negro com uma estrutura de balsas de 300 toneladas para compensar o afastamento da água das margens.

Em São Paulo, que enfrentou em 2014 a sua pior crise hídrica com um duro racionamento, a Sabesp também investe em sistemas flutuantes para captar água em maior área útil dos reservatórios.

A Iguá Saneamento também monitora o clima e busca parcerias com startups para usar a tecnologia em favor da eficiência do abastecimento de água. Desde 2020, por exemplo, a concessionária já adotou mais de 20 mil hidrômetros inteligentes para reduzir perdas de água.

A Cedae firmou com a Finep uma parceria para criar modelos capazes de emitir alertas usando inteligência artificial (IA).