MERCADO

Haddad: "Estou bastante tranquilo que vamos terminar o ano bem"

Expectativas econômicas têm se deteriorado com piora da situação fiscal; dólar subiu mesmo com intervenção do Banco Central

Fernando Haddad, ministro da Fazenda - Diogo Zacarias/MF

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o Brasil vai terminar o ano bem, do ponto de vista econômico, com Produto Interno Bruto (PIB) crescendo, desemprego mais baixo da série histórica, Bolsa subindo — apesar do ceticismo do mercado em relação às contas públicas.

Ele disse que a questão fiscal está equalizada este ano e em 2025, e que o arcabouço está estabelecido.

Mas as expectativas do mercado tem se deteriorado, com a percepção de piora no quadro fiscal. O dólar subiu, mesmo com intervenção do Banco Central, e os juros futuros também subiram.

— Estou bastante tranquilo que vamos terminar o ano bem, com a Bolsa subindo e o PIB para cima, com baixo desemprego. A economia brasileira surpreende positivamente quando se começa a apertaros parafusos — disse Haddad durante sua participação na XP Expert, feira de investimentos, em que falou sobre o cenário econômico, os desafios da gestão fiscal e as perspectivas de crescimento.

O painel foi conduzido por José Berenguer, CEO do banco XP.

O setor público consolidado do Brasil registrou déficit primário (quando se desconta o pagamento dos juros da dívida) de R$ 21,3 bilhões em julho, de acordo com dados do Banco Central (BC) divulgados nesta sexta-feira.

O número veio bem acima da expectativa de mercado, o que fez o dólar disparar e chegar a R$ 5,69.

O ministro disse que a Fazenda continua mirando o déficit zero este ano, sem aumento de carga tributária. Para o ministro, o problema de ter indicadores melhorando, mas as expectativas estarem se deteriorando em parte é causado por um problema de comunicação do governo.

Haddad também disse que a transição no Banco Central e a mudança da meta de inflação trouxeram incertezas ao mercado.

Ele minimizou que as críticas feitas pelo presidente Lula ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, tenham causado ruídos e piorado as expectativas Justificou dizendo que em outros países a taxa de juro também é criticada pelo presidente, inclsuive nos EUA.

— Mas temos certeza que as medidas fiscais vão surtir efeito e em algum momento os fundamentos vão falar mais alto — disse o ministro.

O governo enviou ao Congresso Nacional, nesta sexta-feira, projetos de lei que preveem a alta da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) e do Imposto de Renda retido na fonte que incidem em Juros sobre Capital Próprio (JCP) em 2025.

Com a majoração dos dois tributos, a área econômica espera arrecadar, somente no ano que vem 2025, R$ 20,9 bilhões.

Haddad afirmou que a revisão de benefícios que o governo vem fazendo, como no caso do BPC, vai funcionar.

Também disse que está confortavel com o orçamento de 2025 e que os recursos previstos são suficientes para pagar as contas, sem que seja necessário fazer cortes que afetem a população mais pobre.

O ministro afirmou que vai tentar acomodar em 2025 o pedido feito pelo presidente Lula para aumentar o número de pessoas que recebe auxílio-gás.

Na quinta-feira, O Globo mostrou que a proposta do governo para aumentar e reformular o repasse do auxílio-gás inclui um mecanismo para driblar as regras fiscais.

Conforme o projeto, assinado pelos ministros Alexandre Silveira (Minas e Energia) e Fernando Haddad (Fazenda), o Tesouro Nacional vai abrir mão de receitas referentes ao pré-sal.

Esse dinheiro será repassado diretamente à Caixa Econômica Federal, que se tornaria operadora do programa, sem passar pelo Orçamento federal.

— Vou trabalhar para atender o pedido do presidente para ajudar a população que está cozinhando com lenha. Vamos encaminhar de maneira a equacionar isso — afirmou.