Israel enfrenta greve geral após anúncio da morte de 6 reféns em Gaza
Os restos mortais dos reféns foram encontrados no sábado, em um túnel subterrâneo na zona de Rafah, no sul do território palestino
A principal central sindical de Israel convocou uma greve geral para a segunda-feira em reação ao anúncio, neste domingo (1º), de que seis reféns foram encontrados mortos na Faixa de Gaza após quase 11 meses de conflito com o Hamas.
Dezenas de milhares de pessoas foram às ruas de Israel para protestar e exigir um acordo para a libertação dos reféns. Em Jerusalém, manifestantes levando cartazes com as fotos dos sequestrados, repetiam "Onde estão?" em altos-falantes voltados para um prédio onde está prevista uma reunião de gabinete.
Os restos mortais dos reféns foram encontrados no sábado "em um túnel subterrâneo na zona de Rafah", no sul do território palestino, e "transferidos para Israel, onde foram formalmente identificados", indicou um comunicado do Exército.
"Aqueles que matam reféns não querem um acordo" para uma trégua em Gaza, afirmou o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu em uma nota, na qual advertiu, aludindo aos líderes do Hamas: "Vamos persegui-los, vamos pegá-los e vamos acertar contas."
Mas Netanyahu está sob pressão e o sindicato Histadrut de Israel convocou uma "greve geral" para forçar o governo a chegar a um acordo para libertar os reféns.
O líder da oposição israelense, Yair Lapid, e as famílias dos reféns também fizeram um apelo pela paralisação.
Como parte da greve, todos os pousos e aterrissagens do principal aeroporto de Israel, Ben Gurion, foram suspensos a partir das 8h locais.
"Basta"
O Ministério da Saúde de Israel informou que os resultados das autópsias indicam que os reféns morreram devido a ferimentos à bala a uma curta distância entre quinta e sexta-feira.
Um responsável do movimento islamista palestino, que falou sob condição de anonimato, disse que vários reféns foram mortos "por disparos e bombardeios dos ocupantes israelenses" e que alguns deles faziam parte da lista da organização de pessoas que seriam libertadas durante a primeira fase se um acordo para um cessar-fogo fosse finalizado.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, observou que entre os corpos recuperados estava o do israelense-americano Hersh Goldberg-Polin e se disse "arrasado", mas reiterou que mantém o otimismo sobre a possibilidade de uma trégua, que seu governo tem tentado mediar juntamente com o Catar e o Egito.
Goldberg-Polin, de 23 anos, foi um dos 251 reféns feitos por comandos do Hamas no ataque de 7 de outubro de 2023 no sul de Israel, que desencadeou a atual guerra em Gaza.
Os outros cinco reféns recuperados foram identificados pelo Exército israelense como Carmel Gat, Eden Yerushalmi, Alexander Lobanov, Almog Sarusi e o sargento Ori Danino.
Durante o funeral de seu filho Almog, Nira disse aos presentes esperar que nenhuma outra família tenha que passar por isso.
"Basta, chega disso. Pagamos o preço mais alto. Espero que sejamos os últimos. A partir de agora, só um acordo para trazer de volta os reféns", afirmou.
O presidente francês, Emmanuel Macron, também expressou "estupor e indignação" pela morte dos reféns e urgiu a libertação dos que seguem em poder do Hamas, incluindo os franceses Ohad Yahalomi e Ofer Kalderon.
Mortos na Cisjordânia
O Exército israelense lançou uma grande operação na quarta-feira na Cisjordânia ocupada, com bombardeios e incursões de blindados em Jenin, Nablus, Tubas, Tulkarem e em acampamentos de refugiados, onde há forte presença de grupos armados que combatem Israel.
De acordo com o Ministério da Saúde da Autoridade Palestina, que administra parcialmente a Cisjordânia, o Exército israelense matou pelo menos 24 palestinos nesse território desde a quarta-feira.
Por sua vez, a polícia israelense informou que três de seus efetivos, dois homens e uma mulher, morreram neste domingo "em um tiroteio" após um ataque no posto de controle de Tarkumiya, perto de Hebron.
O Exército israelense informou durante a tarde que eliminou o agressor responsável pelos disparos.
A autoria deste ataque não foi reivindicada, mas o Hamas o considerou "uma resposta natural aos massacres contra o povo palestino".
"A melhor vacina é a paz"
Em Gaza, apesar da destruição da guerra entre as forças israelenses e o Hamas, começou uma campanha de vacinação contra a poliomielite.
"É absolutamente necessário que sejam vacinados", declarou à AFP Ghadir Haji, enquanto a família aguardava na fila de vacinação na clínica do campo de refugiados de Al Zawayda.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou que Israel aceitou implementar "pausas humanitárias" entre 6h e 14h durante três dias em diversas partes do território para facilitar a campanha.
Netanyahu, contudo, esclareceu que essas "pausas" não constituem "um cessar-fogo".
O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, estimou, por sua vez, que, para as crianças de Gaza, "a melhor vacina [...] é a paz".
A meta é imunizar mais de 640 mil crianças menores de dez anos.
Na Cidade de Gaza, um bombardeio israelense contra um grupo de policiais em uma escola que abriga deslocados palestinos deixou pelo menos 11 mortos, afirmou o porta-voz da Defesa Civil do território.
A guerra em Gaza, que mergulhou os 2,4 milhões de habitantes daquele território em uma situação humanitária catastrófica, eclodiu no dia 7 de outubro de 2023.
Naquele dia, milicianos islamistas do Hamas realizaram um ataque ao sul de Israel que resultou em 1.205 vítimas fatais, a maioria civis, segundo uma contagem da AFP baseada em números oficiais israelenses.
Em resposta, Israel prometeu destruir o Hamas e lançou uma vasta ofensiva de retaliação que já deixou 40.738 mortos em Gaza, segundo o Ministério da Saúde do território.