Prejuízo de R$ 9 bi: nave Starliner, da Boeing, vai deixar estação espacial sem astronautas
A nave espacial problemática está programada para desacoplar na sexta-feira para uma viagem de volta à Terra
Deixando para trás os dois astronautas da Nasa que levou para a Estação Espacial Internacional há três meses, a problemático espaçonave Starliner da Boeing está programada para iniciar seu retorno à Terra na noite de sexta-feira (6).
A Boeing já contabilizou uma perda de US$ 1,6 bilhão (ou mais de R$ 9 bilhões) em seus custos para o programa Starliner.
Seis horas após se desacoplar da estação, a nave deve pousar de paraquedas no White Sands Space Harbor, no Novo México.
Caso o clima ou problemas técnicos causem um atraso, o retorno da Starliner pode ocorrer em 10, 14 ou 18 de setembro.
Após análises detalhadas e testes em solo, os oficiais da Nasa disseram que ainda não compreendem totalmente a causa dos problemas no sistema de propulsão que surgiram quando a Starliner se aproximou da estação espacial em junho.
Tanto os oficiais da Boeing quanto da Nasa afirmam que esperam que a viagem de volta seja tranquila para a Starliner vazia.
Eles também mantêm que a espaçonave provavelmente poderia ter trazido de volta com segurança os dois astronautas da Nasa, Suni Williams e Butch Wilmore, cujas estadias na estação espacial foram estendidas.
"Temos confiança na nave", disse Steve Stich, gerente do programa de tripulação comercial da Nasa, durante uma coletiva de imprensa na quarta-feira.
Ele observou que a Starliner aterrissou com sucesso durante voos de teste anteriores sem tripulação. "Tivemos dois bons pousos com a Starliner até agora, e esperamos outro na sexta-feira", disse Stich.
Ainda assim, a preocupação persistente levou os oficiais a escolherem o que consideravam ser a opção mais segura: manter a Sra. Williams e o Sr. Wilmore na estação espacial por mais cinco meses e fazê-los retornar em fevereiro na Crew Dragon, uma espaçonave construída pela SpaceX, concorrente fundada por Elon Musk.
Dana Weigel, gerente do programa da estação espacial na Nasa, disse que a Sra. Williams e o Sr. Wilmore passaram por treinamento para uma missão mais longa, incluindo a realização de caminhadas espaciais e a operação do braço robótico.
"Preparamos bem eles para assumir esse papel", disse Weigel.
Após o desacoplamento da Starliner, ela acionará seus propulsores para se afastar e depois se moverá para cima da estação espacial.
A manobra foi alterada em relação ao que teria sido usado se os astronautas estivessem a bordo. "É uma maneira mais rápida de se afastar da estação, com menos estresse nos propulsores", disse Stich.
A partida usa pulsos curtos de propulsores, que são menos propensos a causar o aquecimento que se acredita ter reduzido o desempenho de alguns dos 28 pequenos propulsores em junho.
A espaçonave também experimentou vazamentos de hélio, um gás inerte usado para empurrar o propelente. Mas ainda tem muito mais hélio do que o necessário para o retorno.
A manobra chave é uma ignição de propulsores maiores que faz com que a nave saia de órbita. Os pequenos propulsores, incluindo aqueles que falharam durante a atracação, são usados para manter a espaçonave apontada na direção correta.
Os grandes propulsores não apresentaram problemas até agora, mas caso falhem, os pequenos propulsores também servem como backup para tirar a espaçonave de órbita.
Se o pouso ocorrer sem problemas, o que acontecerá a seguir com o programa Starliner permanece um tanto incerto.
O voo de junho foi o primeiro com astronautas a bordo e deveria ser o último passo no processo da Nasa de certificar que a Starliner estava pronta para iniciar viagens regulares, uma vez por ano, transportando astronautas para a estação espacial.
A Nasa poderia solicitar que a Boeing realizasse outro teste de voo tripulado. A empresa concordou em refazer um teste de voo sem tripulação depois que o primeiro lançamento da Starliner, em dezembro de 2019, enfrentou problemas técnicos quase imediatamente.
Bill Nelson, administrador da Nasa, disse em uma coletiva de imprensa no mês passado que o novo CEO da Boeing, Kelly Ortberg, garantiu a ele que a Boeing continuaria trabalhando na Starliner.
No entanto, isso teria um custo considerável para a Boeing. O contrato de US$ 4,2 bilhões que a Boeing assinou com a Nasa em 2014 estabeleceu valores fixos para o cumprimento de marcos como a certificação, e a empresa não recebe pagamento até atingir esses objetivos.
Ao contrário de muitos contratos tradicionais chamados de "custo mais", a Boeing é responsável por cobrir os custos de excedentes e atrasos sob o acordo com a agência.