opinião

Educação fortalecida é condição para que haja justiça social e desenvolvimento tecnológico no Brasil

Os vitoriosos escrevem a história. Todo relato de nossa trajetória enquanto povo nos remete a circunstâncias que nos fizeram claudicar ao engenhar um projeto de nação. Por que, afinal, o Brasil é caritativo de algo que pode nos promover como um território pujante economicamente e com espectro político vultoso diante do mundo?
 
Falta-nos uma indústria própria conforme aquela da era Vargas. Antes dele, o país era agrário. Industrializar-se, hoje, significa rumar à modernização. Não falo da construção de uma fábrica, mas da produção de riquezas que depende de um sistema independente e autônomo. 
 
O conhecimento que dialoga com o poder, atualmente, é o da tecnologia e o da soberania de dados. Contudo, no Brasil,  não há subsídios governamentais suficientes para o pleno desenvolvimento destes segmentos. Nos tempos de Fernando Henrique Cardoso houve um recrudescimento da desindustrialização nacional num plano que se estende até os dias de hoje. Há décadas, diversos setores sofreram a financeirização. A educação é um destes.
 
O país que detém a supremacia tecnológica é o que mais facilmente atrai a mão de obra especializada dos emergentes aos seus centros de pesquisa. Depois, disseminam esse conhecimento sistematizado às partes dependentes, exercendo, assim, sua soberania sobre as nações vizinhas, gerando maior desenvolvimento da economia nacional. Trabalhar por esse domínio é construir uma independência econômica e política. Pensemos na educação. A base deste tema é inerente à justiça social de um grupo orgânico, vivo.
 
Porém, o que percebemos no Brasil é que ainda há uma significativa fuga de cérebros no país. Por exemplo, a produção de pesquisa há dois anos vem diminuindo; o decaimento foi de 7,2%, em 2023. Investe-se menos de 1% do PIB em ciência. Segundo relatório da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), divulgado em 2023, o gasto por aluno é menor do que 42 países. Estamos à frente apenas do México e da África do Sul. Ao todo, investimos algo em torno de US$3 mil por aluno.  A média da OCDE era, na ocasião, mais de US$10 mil. 
 
Faltam insumos para os laboratórios nos quais os equipamentos, muitas vezes, estão obsoletos, quebrados ou são insuficientes, e no horizonte faltam recursos para melhoria deste cenário.  

No ensino superior público, o corte sistemático de recursos, a falta de reestruturação do plano de carreira dos professores, e a corrosão salarial geraram diversas greves, nos últimos meses, prova de que há uma precarização estrutural.
 
Uma realidade é oriunda das condições emanadas do próprio contexto real, não de uma ideia; portanto, é necessário compreender que a causa desta evasão de cérebros é justificada por melhores ofertas de salário e por planos de carreira de grandes polos tecnológicos, os quais não se reúnem no Brasil, mas, sim, nos EUA, na China, na Índia e no Japão.

O fato de que há maior possibilidade no desenvolvimento das pesquisas também é preponderante. Somente os elevados salários, sem que haja recursos para a produção da ciência, também não os mantêm por aqui. Investir mais recursos em pesquisas, sim, é um caminho factual, procedente e necessário. 
 
Ter uma educação de ponta e com recursos suficientes poderia ajudar a indústria da inovação tecnológica a se desenvolver no Brasil. Haveria, assim, novas oportunidades de carreiras, geração de mais receitas e, consequentemente, pavimentaríamos um caminho à soberania nacional neste âmbito.

Por isso, é importante para o país contar com a parceria das instituições comunitárias e privadas neste contexto, pelo simples fato de serem maioria no sistema educacional e por estarem espalhadas pelo território nacional, ao expandir o PROUNI e o FIES naquelas mais qualificadas é nadar de braçadas a favor da soberania do país. 
 
Estabelecer uma relação com esses alunos é compreender a raiz de um problema histórico. O acesso ao conhecimento que não é para todos deixa de ser direito constituído e se transforma em privilégio, coisa adquirida como mercadoria. Este fenômeno cria um modelo que restringe a comunicação com outras instâncias sociais tais quais o trabalho e a saúde, ambos precarizados e cada vez mais financeirizados. 
 
É necessário que o poder público crie demandas modernas para que a juventude ocupe cargos estratégicos em áreas que, de fato, beneficiem o país. Um projeto de nação brasileiro depende de um sistema educacional público, comunitário e privado que seja funcional e que trabalhe pelo desenvolvimento de toda a sociedade.
 
O número de estudantes que, após a conclusão da graduação, é cooptado ao setor de serviços é grande. Não é incomum questionar aos indivíduos diplomados se estes ocupam posições desejadas no mercado e ouvir uma negativa, seja porque sejam remanejados, seja porque nem sequer conseguem uma colocação na área na qual escolheram atuar.
 
Para mudar esse cenário, é necessário que haja investimento em setores estratégicos e que haja uma proliferação de cargos com capacitação. Assim, a sociedade, o estado e as IES (Instituição de Ensino Superior) – públicas, comunitárias e privadas – poderão desempenhar papéis que estejam além da mera visão empreendedora de trabalho e que façam sentido ao plano de tornar o Brasil um país mais rico, mais soberano, havendo por estas plagas justiça social. 


* Avaliador do Inep e Sócio da Somos Young.
 

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