opinião

Quebrando o silêncio sobre o mau hálito

Ao longo desse mês, com a passagem do Dia Nacional de Combate ao Mau Hálito, celebrado em 22 de setembro, teremos a oportunidade de reforçar a importância de conscientizar a população sobre a halitose.  

Esse tema me move pessoal e profissionalmente, pois ao longo de 30 anos tratando pacientes nessa área, vi em primeira mão os estragos da ansiedade social que as alterações no odor do hálito podem causar.  

O tratamento do mau hálito é quase um tabu: muitas pessoas têm vergonha de compartilhar as inseguranças e dúvidas com relação ao seu hálito e buscam tratamentos caseiros, sem embasamento científico, oferecendo riscos à saúde para resolver um problema que, em geral, pode ter soluções relativamente simples.  

Durante meu Mestrado em Psicologia, investiguei as alterações de comportamentos, sentimentos e pensamentos que quem se queixa em ter mau hálito desenvolve, atendendo 156 voluntários.  

Foi constatado que mais de 90% dos participantes da pesquisa apresentavam uma forte convicção em ter um mau hálito forte, mas a realidade é que 66% destes voluntários apresentavam o hálito normal ou mau hálito leve na avaliação inicial. Para piorar, 50% desses participantes apresentavam sintomas típicos de ansiedade social. 

Muitos dos meus pacientes que acreditam ter halitose costumam recusar uma nova e promissora carreira, se neste novo trabalho tiverem de conversar próximo as pessoas. Alguns desistem de estudar ou trabalhar, outros deixam de se relacionar, namorar ou beijar. Tudo por causa do mau odor severo que eles acreditam ter e raras vezes têm.  

É essencial que todos entendam a importância de testar o hálito com alguém de confiança e que sejam incentivados a dar esse passo. Muitos sofrem durante anos sem nunca conversar a respeito da própria insegurança. Por sofrerem calados, essa situação só se agrava. 

A maioria dos casos de mau hálito têm origem na boca, principalmente devido à saburra ou biofilme lingual, à higiene bucal incorreta que provocam as doenças de gengiva, como a gengivite e periodontite, ou a cáseos amigdalianos. Outros fatores que agravam a situação são as causas indiretas do mau hálito, como a baixa produção de saliva, a respiração bucal, o ronco, o bruxismo, o hábito de morder os lábios ou bochechas e outros comportamentos passiveis de correção. 

Claro, vale reforçar que a busca por atendimento especializado é fundamental – seja para diagnosticar uma enfermidade que requer tratamento, seja para entender que algumas poucas mudanças de hábito resolvem um problema que tem o potencial de trazer tanta angústia. 

Acredito que o tabu sobre as discussões acerca do mau hálito deve cair por terra. Quando ignorado, o mau odor bucal pode se tornar uma barreira invisível que isola as pessoas, afastando-as do convívio social e afetando sua autoestima e qualidade de vida. 

Tratar o mau hálito de forma adequada pode ser a chave entre uma vida de solidão e tristeza e uma existência vibrante, cercada de pessoas queridas e momentos felizes. A halitose não deve ser um motivo de vergonha, mas sim um chamado para o autocuidado e a busca por bem-estar. Todos devem ser capazes de confiar no próprio hálito!
 

* Dentista (CRO-SP 34.205), especialista em Halitose.

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