DIA DO SEXO

Gillian Anderson, de "Sex Education", lança livro com fantasias sexuais de mulheres do mundo todo

Brochura com trechos de 'Desejo' será distribuída gratuitamente na 27ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo

A atriz Gillian Anderson, organizadora do livro 'Desejo', coletânea de fantasias sexuais femininas - Divulgação

Enquanto se preparava para interpretar a terapeuta sexual Jean Milburn, que é mãe do tímido protagonista da série “Sex Education”, da Netflix, a atriz britânico-americana Gillian Anderson leu “Meu jardim secreto”, da escritora americana Nancy Friday.

O livro causou furou quando saiu, em 1973. É fácil entender por quê. Trata-se de uma coletânea de fantasias sexuais de mulheres reais! Friday queria contrariar seu editor, que expressou objeções a uma fantasia sexual que ela descrevera em um romance. “Meu jardim secreto” foi traduzido para uma dezena de idiomas, vendeu mais de dois milhões de cópias e foi banido na Irlanda.

 

Anderson (que protagonizou a série “Arquivo X” e viveu Margaret Thatcher em “The Crown”) resolveu fazer sua própria versão do livro. A atriz botou de pé o projeto “Querida Gillian”, um site onde conclamava mulheres do mundo todo a lhe confessarem suas fantasias eróticas.

Ao todo, recebeu mais de mil páginas picantes. Selecionou parte delas para o livro “Desejo”, que acaba de sair no Brasil pela Vestígio (selo do Grupo Autêntica) e traz um subtítulo explícito quanto ao conteúdo: “mulheres do mundo revelam suas fantasias de amor e sexo”.

Na introdução ao volume Anderson conta ter recebido relatos de mulheres de várias as orientações sexuais: pansexuais, bissexuais, assexuais, arromânticas, lésbicas, heterossexuais e queer. No livro, ela omite a identidade de suas correspondentes, mas dá informações como nacionalidade, orientação sexual e estado civil. Os sonhos eróticos que elas narram são os mais diversos possíveis.

“Há fantasias de BDSM consentido entre adultos, tanto no papel de dominante quanto no de submissa, e outras relacionadas à troca de papéis. Há fantasias com cordas e palmadas, maçanetas e chicotes, vendas e algemas, sufocamento e contenção, plugues anais, dildos e vibradores de todas as formas e tamanhos”, escreve a atriz na introdução. “É interessante notar que muitas das cartas que detalham fantasias de ser dominada e ceder o controle vêm de mulheres com grande responsabilidade profissional e poder, que também são as responsáveis por manter a vida doméstica e familiar nos trilhos.”

Algumas fantasias eram mais óbvias; outras, surpreenderam a atriz. “Tínhamos muitas opções de fantasias com sexo no escritório, com um colega ou com o chefe; com situações em que a pessoa poderia ser pega em flagrante; de voyeur; sexo em público; sexo com estranhos; sexo ao ar livre. Mais inesperadas, talvez, tenham sido as fantasias de sexo com um alienígena com tentáculos ou uma besta meio humana, meio animal”, confessou. Anderson afirmou ainda que seu objetivo ao publicar “Desejo” era “eliminar o tabu das fantasias e trazer a emoção, a diversão e a apreciação de tudo o que podemos fazer com nosso corpo”.

No livro, há apenas uma fantasia de uma brasileira, lésbica e solteira, de 18 anos. Ela é virgem, mas pensa muito em sexo. “Tenho a fantasia de ser dominada por essa mulher que inventei. Ela tem a pele macia e bronzeada, cabelo castanho encaracolado e curto”, diz ela, antes de descrever uma tórrida cena de sexo que se estende por duas páginas.

Uma brochura com trechos de “Desejo” será distribuída gratuitamente na 27ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, que começa nesta sexta-feira (6).

Confira abaixo trechos do livro:

“Sexo bom começa muito antes de qualquer peça de roupa cair no chão. Sexo é expectativa, sexo é saudade, sexo é dor e a exposição de anos e anos de inseguranças e desejos, tudo reunido num ato de paixão e suor. Quando era mais jovem, costumava fantasiar sobre fazer amor. Às vezes, ainda o faço, mas, com mais frequência, minha fantasia é ser fodida. Minha fantasia é perder o controle de que não abro mão em outras áreas da vida. É ser virada de um lado para outro no colchão de uma maneira que me faça sentir que sou irresistível para meu parceiro. Sou uma heterossexual envergonhada – sinto que perdi a chance de explorar minha sexualidade aos 20 anos e terei de esperar a próxima rodada, aos 50, que é quando os casamentos começam a se desfazer. Mas me lembro de ter assistido a Borgen quando era mais nova e de ter ficado fascinada por Birgitte. Costumava pensar nela voltando para casa depois de um longo dia de trabalho no governo, quando então me seduzia e transava comigo na mesa da cozinha, ao som da máquina de lavar e à luz da geladeira, que estava com a porta aberta. Ainda não trabalhei essa história na terapia, nem quero. É uma fantasia antiga para a qual retorno em momentos enfadonhos do dia ou logo antes de dormir.”

Sino-britânica, heterossexual e em um relacionamento.

“Na minha fantasia, os vizinhos convidam a mim e a meu marido para visitá-los. Não os nossos vizinhos de verdade, mas vizinhos de fantasia. Tomamos um drinque e comemos alguns petiscos. Então eles dizem que gostariam de fazer um ménage à trois comigo. Estou disposta, e começo a beijar a mulher enquanto o marido nos observa. Meu marido parece ter ido embora, então começo a transar com a mulher e depois com o marido. Nunca fiz um ménage à trois de verdade e duvido que algum dia o faça, pois estou na casa dos 70 anos. Mas, bem, fantasia é outra coisa.”

Australiana, heterossexual e casada.

“Demorei muitos anos para me permitir ter fantasias durante o sexo. Décadas, na verdade. Em todo esse tempo, achava que qualquer fantasia significasse deslealdade com o homem com quem estivesse; por isso, conscientemente, silenciava até mesmo o primeiro indício de que minha imaginação estivesse indo para outro lugar. A partir dos 60 anos, entretanto, uma fantasia consistente começou a surgir. O interessante é que ela sempre inclui meu marido, além de dois outros homens, amigos queridos que sei que realmente me valorizam. Nessa fantasia, os três me acariciam e me amam de todas as maneiras, ao mesmo tempo: com a língua, com o pênis, com as mãos. Me acariciam, me penetram, me estimulam e me deleitam. O impacto coletivo de sua alegre colaboração: me sinto linda, adorada. Sem culpa! Quando criança, me sentia pouco amada e sem valor; já adulta, ainda tinha de lutar contra esses sentimentos. Agora, aos 72 anos, sem nenhum remorso, minha vida é enriquecida por três homens maravilhosos, que me amam de todo jeito, com entusiasmo, deliciosa e simultaneamente.”

Americana, heterossexual e casada.

“Gosto de homens peludos e emocionalmente vulneráveis. Basta vislumbrar um pouco de pelo na barriga através da camisa para eu começar a fantasiar que tiro as roupas do sujeito e começo a lambê-lo todo. Quando fecho os olhos e adentro meu universo sexy e alegre, fantasio que estou beijando o peito, a barriga e as coxas de um homem peludo, ou que estou reclinada sobre seu peito quente enquanto ele enfia os dedos em mim, ou que estou sentindo sua barriga cheia de pelos deslizar contra meu corpo quando ele fica por cima. Costumo ser muito aberta quanto às minhas preferências sexuais, mas há uma coisa que não conto a ninguém: axilas masculinas peludas de fato me excitam. É uma questão de vulnerabilidade, pois, falando sério, as axilas têm muitas vulnerabilidades físicas. Também tem a ver diretamente com sua aparência. O contorno das axilas é lindamente complementado pela presença dos pelos. Para mim, homens fazendo flexão de peito funcionam da mesma maneira que a pornografia. Basicamente, adoro olhar, mas de vez em quando me imagino beijando-as, assim como acabo fantasiando que beijo todas as outras partes peludas do corpo que considero sexy. Quando imagino pintos, penso: “Tenho de brincar com eles”; quando penso em bundas: “Quero pôr as mãos nelas”. Mas, se o cara me mostra as axilas, rouba 95 por cento da minha atenção. Meu cérebro entra em curto-circuito e fico pensando: “Oh, Deus, oh, Deus! Aí estão as axilas, peludas e lindas e inacreditavelmente sexy. Olha isso, OLHA ISSO!”

Americana, arromântica e solteira.

“Sexo na menstruação, seja ele heterossexual, seja lésbico, seja qualquer coisa no meio do caminho. Há algo cruento em transar durante a menstruação. Faz sujeira, mas é natural. É meigo e “desagradável”. Trata-se de uma prática muito estigmatizada que acredito que possa aproximar as pessoas. Apaixonar-se por uma pessoa mesmo quando ela está sangrando e tendo cólicas. Ver beleza na capacidade de gerar filhos. Sexo na menstruação é excitante. É divertido e gostoso Eu adoro.”

Nacionalidade não informada, budista, bissexual ou pansexual e solteira.

Serviço
“Desejo: Mulheres do mundo todo revelam suas fantasias de amor e sexo”
Organizadora: Gillian Anderson. Tradutora: Ibraíma Dafonte Tavares. Editora: Vestígio. Páginas: 336. Preço: R$ 79,80.