REDE SOCIAL

União Europeia coleta dados para submeter Telegram à lei mais rígida de moderação de conteúdo

Autoridades regulatórios reuniram informações para confirmar que plataforma é grande o suficiente para estar sob escrutínio de nova regulação do bloco

Telegram - Kirill Kudryavtsev / AFP

A União Europeia (ue) está discretamente reunindo evidências para sustentar o argumento de que o controverso aplicativo de redes sociais e mensagens Telegram deve ser submetido às novas regulamentações mais rigorosas de moderação de conteúdo do bloco.

Funcionários do braço executivo da UE estão usando dados de várias empresas de monitoramento de tráfego na web para confirmar que a plataforma de redes sociais do Telegram atrai mais de 45 milhões de usuários ativos mensais, um limite que a sujeitaria a uma fiscalização extra sob o novo Ato de Serviços Digitais (DSA, na sigla em inglês) do bloco, de acordo com um funcionário da Comissão Europeia.

Dados fornecidos pela Similarweb, uma das ferramentas de análise de rede que a UE utilizará, sugerem que o aplicativo Telegram teve, em média, 50,7 milhões de usuários ativos mensais no Android, apenas em sete dos 27 países da UE, entre fevereiro e julho deste ano.

Embora esse número possa colocar o Telegram acima do limite de 45 milhões de usuários da UE para uma supervisão mais rígida, uma grande parte dessa amostra pode não ser contabilizada. A UE não considera serviços de mensagens sob o DSA e, em tese, precisaria separar esses clientes dos usuários de grupos e canais do Telegram.

A prisão de Pavel Durov, diretor executivo do Telegram, aumentou a sensação de urgência dos reguladores em monitorar mais de perto o aplicativo de redes sociais e mensagens, que é frequentemente utilizado por criminosos e contas pró-Kremlin para disseminar fake news, disse o funcionário da comissão, que manteve o anonimato ao discutir a metodologia do bloco.

Durov, que foi acusado no mês passado na França de cumplicidade na disseminação de imagens de abuso sexual infantil e outros crimes na pltaforma, foi acusado de não cooperar com as autoridades na investigação de delitos no Telegram. Ele foi libertado sob fiança em 28 de agosto.

Para quantificar a base de usuários do Telegram, a UE está utilizando fontes externas, incluindo bancos de dados da Similarweb e da Semrush Holdings, com sede em Boston, disse o funcionário da comissão. O braço executivo da UE aplicará sua própria interpretação a todos os dados que está analisando.

O Telegram continua insistindo que sua base de usuários de redes sociais é pequena demais para atingir o limite da UE. Um "número significativo de usuários do Telegram nunca acessa" os grupos, disse a empresa em um comunicado enviado por e-mail.

Se a comissão decidir que os números fornecidos pelo próprio Telegram são pouco confiáveis, pode designar unilateralmente o aplicativo como grande o suficiente para ser submetido ao escrutínio mais rigoroso.

— Cabe ao Telegram fazer essa diferenciação (entre os vários tipos de usuários na plataforma) e cálculo, mas podemos levar todos os usuários em consideração, se necessário — disse Thomas Regnier, porta-voz da comissão sobre questões digitais, em uma coletiva de imprensa na semana passada.

A Similarweb combina dados de tráfego privado anonimizados com informações públicas para extrapolar padrões de uso de aplicativos, de acordo com uma descrição em seu site. No entanto, a empresa não consegue distinguir se os usuários estão acessando os recursos de rede social do Telegram como grupos ou canais.

Um porta-voz da comissão se recusou a comentar os números da Similarweb ou a discutir as fontes de dados utilizadas.

O editor de pesquisa da Similarweb, David Carr, disse que, embora a equipe da empresa não tenha trabalhado diretamente com as autoridades da UE, a comissão pode estar usando seus dados para desenvolver sua própria análise. A Semrush não respondeu a pedidos de comentários.

Em fevereiro, o Telegram informou que tinha 41 milhões de usuários únicos ativos mensalmente na UE.

No mês passado, o Telegram atualizou a declaração em seu site para dizer que tem "significativamente menos de 45 milhões" de usuários, sem fornecer um número exato – uma omissão que, por si só, está em violação do DSA, segundo o funcionário da comissão.