opinião

Descrédito partidário

A crise enfrentada pelos partidos políticos, no que tange ao seu papel de representantes dos anseios da sociedade, produziu fragmentação profunda, sendo até questionado se ainda há relevância em suas atuações. O contexto social bem estruturado, com a participação de comunidades que gozam de certa estabilidade, faz da democracia dos partidos uma política de grupos definidos e identificados com a representação.

Através do nascimento do que se denominou de democracia das massas, os partidos encontraram o caminho para fazer com que o povo enxergasse neles a identificação política e consequentemente suas opções eleitorais. Para tanto, observemos o declínio do voto classista a partir da década de 1970, principalmente em países onde a classe atuou como espécie de indicador das preferências eleitorais.

O fenômeno foi amplamente discutido nos estudos de Oddbjorn Knutsen. Porém, a falta de credibilidade e o declínio da relevância partidária é uma clara demonstração de que existe uma crise bem mais profunda. Por outro lado, há aqueles que acreditam na falta de uma essência ideológica, transformando as decisões em mercado eleitoral e desprovido de reais compromissos. Dando guarida a um voto personalista e não partidário.

O processo de volatilidade do eleitor, acoplada ao processo de mudança social, reverbera diretamente nos agentes políticos e consequentemente nos partidos. Se os eleitores são infiéis, o que se pode esperar dos partidos? Quanto mais ocorrer isto, mais os partidos sofrerão transformações que os afastam da realidade social. 

Enquanto cresce o distanciamento dos cidadãos para com os partidos, na mesma proporção também acontece a diminuição das diferenças entre os partidos políticos. Não é debalde que na maioria das democracias, os partidos foram deixando de ser organizações que sobrevivem dos recursos oriundos dos seus filiados e dependendo muito mais do financiamento público. 

A vinculação com o Estado foi consolidada quando os partidos passaram a dar mais prioridade aos governos do que sua função representativa. Assim, quem hoje é oposição, acredita que será em um pequeno espaço de tempo, pois sua vocação é chegar ao poder e com raras exceções representar o povo. A principal consequência é que na maioria das vezes o que realmente pode ser considerada oposição é realizada pelos movimentos sociais.


* Cientista político.

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