BRASIL

Ministério da Fazenda ainda vê inflação dentro da meta este ano, diz secretário

Pesquisa Focus, do BC, projeta Selic em 2024 em 11,25%, por conta de preços

Ministério da Fazenda do Brasil - Marcelo Camargo/Agência Brasil

O Ministério da Fazenda ainda trabalha com um cenário de inflação dentro da meta em 2024, com trajetória cadente nos próximos anos, mesmo com pressões decorrentes da maior seca da história do país e com a economia mais forte do que o esperado.

A meta é de 3%, podendo chegar até 4,5%.

Esses dois fatores, além da trajetória da taxa de câmbio, têm elevado as projeções do mercado financeiro e os analistas já acenderam o alerta para um possível estouro da meta este ano.

Como consequência, a maior parte do mercado já prevê aumento da taxa Selic no Comitê de Política Monetária (Copom) deste mês.

— Quem decide política de juros é o BC (Banco Central). Nosso cenário segue sendo de inflação dentro da meta e em desaceleração neste ano e nos próximos — destacou o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello.

Atualmente, o governo espera alta de 3,9% para o IPCA (índice oficial de inflação) deste ano e 3,3% para 2025, contra a meta de 3%. As projeções podem ser revisadas no Boletim MacroFiscal que será divulgado este mês.

Mello ainda destacou que, a partir de 2025, passará a valer o regime de meta contínua, em que só será considerado que a meta foi descumprida caso fique seis meses fora do limite.

— Não enxergamos esse cenário à frente — completou.

Em 2024, a inflação ainda será avaliada pelo modelo de ano-calendário. Ou seja, será desobedecida se, em dezembro, ficar acima do teto da meta.

O alvo a ser perseguido pelo Banco Central neste e nos próximos anos é de 3,0%, com intervalo de tolerância de 1,5% a 4,5%.

Até julho, o IPCA acumula alta de 4,5% em 12 meses, no teto da meta. O IPCA de agosto será divulgado nesta terça-feira.

Nesta segunda, o Boletim Focus, pesquisa do Banco Central junto a analistas econômicos, apontou o oitavo aumento seguido da expectativa para o IPCA (índice oficial de inflação) de 2024, de 4,26% para 4,30%.

Há economistas, porém, que já veem a inflação no teto da meta, como é o caso da Warren Rena. Para os anos seguintes, as medianas foram mantidas, 3,92% para 2025 e 3,60% para 2026.

Em relação aos juros, a Focus passou a prever novo ciclo de alta, já iniciando este mês, quando a Selic deve subir de 10,50% para 10,75% ao ano, conforme a estimativa mediana. Até o fim do ano, a expectativa é que a taxa alcance 11,25%.

A Selic está parada desde junho, quando o BC decidiu encerrar o processo de corte dos juros iniciado em agosto de 2023. Mas, desde julho, o BC tem dito que todas as opções estão na mesa, inclusive uma alta da Selic.

As revisões de expectativas do mercado ocorrem após a surpresa com resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre de 2024, que subiu 1,4%, bem acima das expectativas do mercado financeiro.

Para os economistas, a economia forte e a menor taxa de desemprego em 10 anos tendem a se traduzir em uma inflação mais alta, com especial contribuição dos preços de serviços.

Além disso, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) acionou a bandeira vermelha 1 na conta de luz em setembro devido à baixa dos reservatórios da hidrelétricas em meio à seca recorde este ano. A bandeira adiciona uma cota extra de R$ 4,46 a cada 100 quilowatt-hora (kWh) consumidos.