AMÉRICA DO SUL

Após críticas de Milei a Lula, Brasil adia visita de secretária-geral do Itamaraty a Buenos Aires

Presidente argentino disse semana passada que Lula era um ´'tirano' por dar 'aval' à decisão do STF sobre a rede X

Itamaraty - Marcelo Camargo/Agência Brasil

Em meio à escalada de tensão em Caracas envolvendo a embaixada argentina e o governo brasileiro — que teve a autorização para representar os interesses argentinos revogada por parte da ditadura de Maduro sexta passada —, o Brasil adiou por tempo indeterminado a visita a Buenos Aires da secretária-geral do Itamaraty, embaixadora Maria Laura Rocha, prevista para esta semana.

O adiamento ocorre poucos dias depois de o presidente argentino, Javier Milei, ter comentado a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de suspender a rede X (ex-Twitter) no Brasil, referindo-se ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva como um “tirano” que deu “aval" à “semelhante ato de opressão”.

Fontes dos governos brasileiro e argentino confirmaram o cancelamento de uma reunião bilateral que estava prevista para esta semana no Ministério da Defesa argentino, da qual participaria a secretária-geral do Itamaraty.

As declarações de Milei causaram “desagrado” no governo brasileiro e levaram o embaixador do Brasil na capital argentina, Julio Bitelli, a solicitar uma reunião com a ministra das Relações Exteriores da Argentina, Diana Mondino.

O encontro entre ambos ocorreu na sexta passada e, na conversa o embaixador, confirmaram as fontes consultadas, manifestou o “desagrado” do governo brasileiro pelas falas de Milei.

A tensão bilateral, no entanto, foi rapidamente superada diante da crise desencadeada em Caracas. Desde sexta passada, Brasil e Argentina estão em contato, trocando informações sobre a situação na embaixada argentina na Venezuela.

A crise bilateral entre Brasil e Argentina passou para segundo plano, mas não foi superada. As duas chancelarias estão trabalhando, confirmaram fontes dos dois países, para tentar selar um acordo que torne a Argentina um dos principais fornecedores de gás para o mercado brasileiro.

O documento está pronto, esperando a assinatura de funcionários de alto nível.

A Chancelaria argentina tem como objetivo conseguir que o entendimento seja selado no fim do mês, num evento sobre petróleo e gás no Rio de Janeiro. Mas as mesmas fontes admitiram que “ainda não está claro o tamanho do dano causado pelas falas de Milei”.

A agenda bilateral não entrou no freezer, mas "há um estremecimento". O embaixador argentino em Brasília, Daniel Raimondi, que ainda não apresentou suas cartas credenciais a Lula, participou dos atos do 7 de setembro em Brasília.

As chancelarias dos dois países tentam acalmar as águas, esperando que o mal-estar, sobretudo no Palácio do Planalto, seja contornado.