VENEZUELA

"Todo o meu respeito pela decisão", diz Maduro sobre o exílio do opositor González Urrutia

Presidente também reafirmou sua vitória no pleito de 28 de julho e assegurou que os desejos da oposição 'de paz e harmonia para o país' serão cumpridos e a 'paz reinará acima de tudo'

Nicolás Maduro - Pedro Rances Mattey/AFP

O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, disse na noite desta segunda-feira que respeita a decisão do opositor Edmundo González Urrutia de ter solicitado asilo político na Espanha, sendo a primeira manifestação do chavista sobre o assunto.

Ainda segundo a imprensa local, Maduro também reafirmou sua vitória no pleito de 28 de julho e assegurou que os desejos da oposição "de paz e harmonia para o país" serão cumpridos e a "paz reinará acima de tudo".

— Todo o meu respeito pela decisão que tomou. Posso dizer ao embaixador González Urrutia, com quem tenho entrado em choque desde 29 de julho, que entendo o passo que ele deu e o respeito — disse Maduro em programa na TV estatal venezuelana, acrescentando que desejou ao ex-diplomata tudo de bom "em sua nova vida".

 

Ele também explicou que a saída do opositor foi negociada "de maneira impecável", embora não tenha revelado mais detalhes sobre como ocorreu.

— Tenho muitos defeitos, mas um dos valores que pratico é a palavra. Conduzi esse processo coletivamente com uma equipe, mas também em cunho pessoal. Tenho palavra para cumprir os acordos e também para guardar os segredos. Me reservo ao direito constitucional do segredo de Estado — disse Maduro.

Sobre sua contestada vitória nas eleições, Maduro disse que "jogou limpo e ganhou limpo". Também afirmou que "hoje o país está tranquilo e aplaude o que aconteceu".

Alvo de um mandado de prisão e cinco acusações criminais movidas pelo Ministério Público, González chegou ao país europeu no domingo. Ele estava escondido desde 30 de julho, ficando um tempo na Embaixada da Holanda em Caracas antes de ser transferido para a espanhola em 5 de setembro. O avião em que viajou pousou por volta das 16h (11h no horário de Brasília) na base área de Torrejón, perto de Madri.

Em comunicado, o opositor disse que deixou o país pensando em sua família e em todas as famílias venezuelanas, buscando evitar "um conflito de dor e sofrimento". "Só a política do diálogo pode fazer com que nos reencontremos como patriotas. Só a democracia e a realização da vontade popular pode ser o caminho", acrescentou González. Segundo o advogado do opositor, José Vicente Haro, ele tomou uma "decisão de emergência" visto que a sua " vida estava em perigo" na Venezuela.

A operação vinha sendo organizada havia duas semanas e contou com a participação do ex-primeiro-ministro espanhol José Luiz Rodríguez Zapatero e de importantes autoridades venezuelanas, como o presidente da Assembleia Nacional, Jorge Rodríguez, e a vice-presidente Delcy Rodríguez — quem tornou pública a saída do ex-diplomata.

A Justiça venezuelana, acusada de servir ao chavismo, investiga o candidato pela divulgação de cópias dos registros eleitorais em um site que lhe atribui a vitória nas eleições. Ele é acusado de "desobediência às leis", "conspiração", "usurpação de funções" e "sabotagem".

Assim como González, a líder da oposição, María Corina Machado, também é alvo de uma investigação criminal do Ministério Público, embora não tenha recebido intimação ou mandado de prisão por parte do governo chavista. Ela afirmou nesta segunda-feira que pretende continuar na Venezuela, "acompanhando a luta" de dentro do país.

Apesar disso, o chanceler espanhol, José Manuel Albares, disse que as portas da Espanha estão abertas para ela e outros opositores perseguidos pelo regime de Maduro, embora tenha ressaltado que a líder não solicitou asilo político ao país.

O presidente venezuelano pediu pena de prisão para María Corina e González. Maduro os culpa pelos atos de violência nos protestos pós-eleitorais, que registraram 27 mortes, duas delas de militares, quase 200 feridos e mais de 2.400 detidos.