GUERRA NO ORIENTE MÉDIO

Ministério de Saúde confirma 19 mortes, e não 40, em ataque a zona humanitária em Gaza

Hamas, que governa o enclave desde 2007, afirma que discrepância nos números deve-se a diferentes métodos de contagem

Eyad Baba/AFP

O Ministério da Saúde da Faixa de Gaza informou nesta terça-feira que o ataque aéreo israelense contra uma zona humanitária em al-Mawasi, no sul da Faixa de Gaza, deixou pelo menos 19 pessoas mortas, e não 40, como informou anteriormente a Defesa Civil do enclave.

O número de feridos, porém, é o mesmo: 60. Tanto a Defesa Civil quanto a pasta operam sob o governo do grupo terrorista Hamas, no poder em Gaza desde 2007.

Al-Mawasi, localizada em uma área costeira de 42 Km² em Khan Younis, foi designada como uma zona segura por Israel ainda no início da guerra, levando dezenas de milhares de palestinos a fugirem para a região.

No dia anterior, o Exército israelense justificou o ataque sob o argumento de que atingiu um centro do comando do grupo terrorista Hamas, que negou as alegações, classificando-as como "uma mentira descarada".

O Ministério da Saúde de Gaza informou que o número de mortos pode aumentar à medida que os corpos são recuperados, informou a agência Associated Press.

O Hamas, citado pela agência, explicou que a discrepância no número de mortos deve-se à diferença nos métodos de contagem: enquanto o ministério conta apenas os corpos levados para hospitais, a Defesa Civil também conta os corpos que ainda não foram recuperados.

— Famílias inteiras desapareceram no massacre de al-Mawasi, em Khan Yunis — disse Mohamed al-Mughair, um funcionário da Defesa Civil de Gaza, acrescentando que as equipes "ainda estão trabalhando para encontrar 15 pessoas desaparecidas".

Em um comunicado separado, o porta-voz da Defesa Civil, Mahmud Basal, indicou que as pessoas refugiadas no acampamento não foram alertadas sobre o ataque e explicou que a escassez de ferramentas e equipamentos prejudica as operações de resgate.

— De 20 a 40 barracas foram completamente danificadas — afirmou Basal, destacando que o bombardeio deixou grandes crateras na área.

Mísseis "sobre nossas cabeças"
O Exército israelense, em comunicado, afirmou que suas forças aéreas "atacaram terroristas significativos do Hamas que operavam um centro de comando e controle localizado dentro da zona humanitária de Khan Yunis".

"As organizações terroristas na Faixa de Gaza continuam abusando sistematicamente da infraestrutura civil e humanitária, incluindo a área designada como zona humanitária, para realizar atividades terroristas contra o Estado de Israel", completa a nota.

O movimento islamista palestino Hamas, que governa a Faixa de Gaza, classificou como "mentira descarada" a afirmação de que seus combatentes estivessem presentes em Al Mawasi.

"Nos disseram que deveríamos seguir para Al Mawassi, (...) então nos instalamos aqui. A área foi bombardeada sem aviso prévio", declarou à AFPTV um palestino deslocado para aquela zona, que preferiu não revelar o nome.

"Há apenas barracas à nossa volta, abrigos, não há nada aqui, e vimos os mísseis caindo sobre as nossas cabeças", acrescentou.

Desde o início da guerra, Israel acusa o Hamas de utilizar os civis como escudos humanos, mas o grupo nega.

O coordenador especial da ONU para o processo de paz no Oriente Médio, Tor Wennesland, condenou de modo "veemente" os ataques israelenses "contra uma área densamente habitada em uma zona humanitária designada por Israel".

"Guerra de guerrilhas"
O conflito em Gaza começou em 7 de outubro, quando um ataque de combatentes do Hamas em Israel deixou 1.205 mortos, a maioria civis, segundo uma contagem da AFP baseada em números oficiais israelenses.

O ministro israelense da Defesa, Yoav Gallant, afirmou que movimento islamista palestino Hamas "não existe mais como formação militar" na Faixa de Gaza.

"O Hamas está envolvido em uma guerra de guerrilha e ainda estamos lutando contra terroristas do Hamas e perseguindo a liderança do Hamas", disse Gallant, que defendeu a pertinência de estabelecer uma trégua com os islamistas.

Os milicianos islamistas sequestraram 251 pessoas em 7 de outubro, das quais 97 continuam em cativeiro em Gaza e 33 morreram, segundo o Exército israelense.

A ofensiva militar de Israel matou pelo menos 41.020 pessoas na Faixa de Gaza, segundo o Ministério da Saúde do território controlado pelo Hamas.

A ONU afirma que a maioria das vítimas são mulheres e crianças. Além disso, a organização informa que a grande maioria dos 2,4 milhões de habitantes de Gaza foram deslocados de suas casas pelo menos uma vez durante a guerra.

A área de Al Mawasi, que tinha uma densidade populacional de 1.200 habitantes por quilômetro quadrado antes da guerra, atingiu agora "entre 30.000 e 40.000 pessoas por quilômetro quadrado", enquanto a parte supostamente segura foi reduzida de 50 para 41 km2, segundo a ONU.

Estados Unidos, Catar e Egito, os países mediadores, tentam há vários meses negociar um acordo de trégua e troca de presos palestinos por reféns israelenses, mas as conversações estão paralisadas.

O Hamas exige a saída completa das tropas israelenses de Gaza, mas Israel insiste em manter o controle de um corredor na fronteira entre o território palestino e o Egito.