Ondas de calor podem aumentar a probabilidade de convulsões em pessoas com epilepsia
Doença acomete 2% da população brasileira
A epilepsia é uma condição neurológica que afeta o funcionamento do cérebro por um determinado período de tempo. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), ela acomete 2% da população brasileira e cerca de 50 milhões de pessoas no mundo inteiro.
Novos achados científicos apontam que ondas de calor, como as que estão previstas para setembro no Brasil, podem piorar as crises causadas pela doença.
O estudo, publicado na revista científica Brain Communications, realizou testes a partir da eletroencefalografia intracraniana (icEEG) durante os meses de maio a agosto (meses de verão no hemisfério norte) de 2015 a 2022. Nove participantes diagnosticados com epilepsia resistente foram acompanhados nesse período.
No contexto de Londres, onde a equipe realizou os testes, uma onda de calor é definida como três ou mais dias consecutivos com temperaturas máximas diárias superiores a 28°C. Assim, eles compararam as gravações obtidas nos períodos mais quentes com os dados observados em dias de menor temperatura mas em que as outras condições fossem iguais.
Assim, foram registradas qualquer atividade elétrica anormal em quatro segmentos de 10 minutos dentro e fora das ondas de calor, além de todas as convulsões ocorridas.
Os pesquisadores observaram que, de maneira geral, mais convulsões foram registradas pelo icEEG durante ondas de calor em comparação com o período sem ondas de calor.
Além disso, três pessoas tiveram atividade cerebral anormal à medida que a temperatura aumentou.
"Nossa pesquisa mostra que, para algumas pessoas com epilepsia — em particular aquelas com epilepsias mais graves, temperaturas ambientes mais altas aumentam a probabilidade de ter convulsões. Esta é uma descoberta importante, que fornece algumas das primeiras evidências de que, para algumas pessoas que já têm epilepsia, temperaturas mais altas observadas durante ondas de calor podem piorar sua condição", aponta uma das autoras, Sanjay Sisodiya do Instituto de Neurologia Queen Square da University College London, na Inglaterra, em comunicado.
Ainda que a quantidade de participantes tenha sido pequena, os pesquisadores pretendem fazer um estudo maior.
"Apesar do tamanho limitado da amostra do estudo, nossas descobertas continuam valiosas no contexto das mudanças climáticas. À medida que as temperaturas globais aumentam e os eventos climáticos extremos se tornam mais frequentes, entender os efeitos das ondas de calor na atividade cerebral é crucial", concluiu Sisodiya.