"Meu Amigo Pinguim": história real brasileira inspira filme hollywoodiano
Estrelado por Jean Reno, filme retrata a amizade do pescador João com o pinguim Dindin
Durante oito anos, João Pereira de Souza recebeu em sua casa um hóspede inusitado. Anualmente, o pinguim Dindin percorria mais de três mil quilômetros entre a Patagônia e Ilha Grande, no Rio de Janeiro, para visitar o pescador que o salvou em 2011. Essa história de amizade correu o mundo e inspirou o filme “Meu Amigo Pinguim”, que estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (12).
Após viralizar por meio de uma reportagem da BBC, a relação entre João e Dindin chamou a atenção de produtores norte-americanos, que compraram os direitos de uma adaptação cinematográfica. Para dirigir, convidaram o brasileiro David Schurmann, que, na época, estava em campanha nos Estados Unidos por uma indicação de “Pequeno Segredo” ao Oscar de 2017.
“É interessante como, às vezes, o nosso cinema vai atrás do ‘true crime’ e esquece de algumas histórias tão poéticas que estão aqui no nosso país”, reflete o diretor, em entrevista à Folha de Pernambuco. A conexão de David com o oceano - ele integra uma famosa família de velejadores - também foi um ponto decisivo para a escolha do seu nome.
O convite, no entanto, veio acompanhado de três condições. A primeira era de que o longa-metragem fosse todo falado em inglês. A segunda era ter um ator mundialmente conhecido no papel principal. “Comecei a pensar nos nossos atores e não tinha nenhum com essa característica e que tivesse a idade necessária. Também não tinha dinheiro para fazer o Wagner Moura parecer um senhor de 74 anos”, brinca.
Para interpretar João, foi escalado o francês Jean Reno, conhecido por filmes como “O Profissional” (1994) e “O Código Da Vinci” (2006). Adriana Barraza, atriz mexicana indicada ao Oscar, interpreta Maria, esposa do personagem.
Outro pedido dos produtores norte-americanos era que o filme fosse gravado na Espanha, por conta dos incentivos fiscais. David, no entanto, conseguiu convencê-los de que as gravações poderiam ocorrer no Brasil e com equipe nacional. As filmagens foram realizadas entre Ubatuba, no litoral de São Paulo, e Paraty, no Rio, além da Patagônia, na Argentina.
Pinguins no set
Além dos atores estrangeiros, o longa tem outras estrelas: os 12 pinguins do Aquário de Ubatuba e do Oceanic Aquarium, em Balneário Camboriú, utilizados para representar Dindin.
“Procuramos o Fabian Gabelli, um argentino, para treinar os pinguins. Ele falou que seria muito tranquilo trabalhar com eles, mas que cada um tem uma personalidade diferente. Analisamos todos para saber qual caberia em cada tipo de cena”, detalha o diretor, que utilizou computação gráfica para representar a ave em poucas cenas.
Segundo Schurmann, a presença dos animais na produção exigiu cuidados especiais. “Construímos ‘pousadas’ para os pinguins nas locações, com climatização e piscinas, para que eles não precisassem ser transportados de um lugar a outro e ficassem estressados. Era muito importante que eles estivessem bem. Na verdade, só trabalhos com dez, porque dois deles se apaixonaram e a gente não poderia atrapalhar o romance deles”, diverte-se.
Realidade e ficção
Apesar da inspiração em uma história real, “Meu Amigo Pinguim” faz uso de licença poética para inserir elementos totalmente fictícios ao drama. No roteiro assinado por Kristen Lazarian e Paulina Lagudi, João é um homem solitário, que se fechou para o mundo após a morte de seu único filho. O encontro com Dindin representa para ele a possibilidade de curar uma ferida do passado.
“Nunca faço um filme para dar lição de moral ou passar mensagens, mas acho que ele fala sobre empatia com o outro e com o mundo à sua volta. Fico muito feliz que as pessoas sejam surpreendidas, que entrem no cinema achando que vão ver só um filme bobinho sobre pinguim e, na verdade, saiam totalmente tocadas”, aponta.