Infarto e parada cardíaca não são a mesma coisa; especialistas ensinam como diferenciá-los
Ambos ocorrem quando o coração não está funcionando como deveria, mas por razões diferentes
Em julho de 2023, a estrela em ascensão do basquete dos EUA, Bronny James, desmaiou na quadra durante o treino. O atleta de 18 anos, filho do famoso veterano do LA Lakers, LeBron James, sofreu uma parada cardíaca. Mas como diferenciá-la de um ataque cardíaco?
Segundo Michael Todorovic, professor Associado de Medicina da Bond University, na Austrália, e Mateus Barton, professor sênior da Escola de Enfermagem e Obstetrícia da Universidade Griffith, também na austrália, em um artigo publicado no The Conversation, afirmam que uma parada cardíaca e um ataque cardíaco “são conceitos distintos, mas sobrepostos, associados ao coração”.
“O coração é um músculo que se contrai para funcionar como uma bomba. Quando se contrai, ele empurra sangue – contendo oxigênio e nutrientes – para todos os tecidos do nosso corpo. Para que o músculo cardíaco funcione efetivamente como uma bomba, ele precisa ser alimentado com seu próprio suprimento de sangue, entregue pelas artérias coronárias. Se essas artérias estiverem bloqueadas, o músculo cardíaco não recebe o sangue de que precisa”, escreveram os professores.
O ataque cardíaco, tecnicamente conhecido como infarto do miocárdio, descreve uma lesão ou morte do músculo cardíaco. Enquanto a parada cardíaca, às vezes chamada de parada cardíaca súbita, ocorre quando o coração para de bater ou, em outras palavras, para de funcionar como uma bomba eficaz.
Os dois ocorrem quando o coração não está funcionando como deveria, mas por razões diferentes. Podendo um levar ao outro.
“Ataques cardíacos geralmente resultam de bloqueios nas artérias coronárias. Às vezes, isso é chamado de doença arterial coronária, mas na Austrália, tendemos a nos referir a isso como doença cardíaca isquêmica”, afirmam.
Em cerca de 75% das pessoas os ataques ocorrem por conta da aterosclerose, também conhecida como doença que mais causa infartos e AVC por provocar acúmulo de gordura nas paredes e dentro das artérias.
Embora progrida silenciosamente, a aterosclerose é a principal responsável pelo desenvolvimento de infartos e AVC, doenças que matam cerca de 200 mil pessoas por ano no Brasil.
Segundo especialistas, o problema principal da condição é que ela costuma aparecer quando o quadro já é grave necessitando de uma ação de emergência. A inflamação progressiva do sistema circulatório acontece devido ao acúmulo de gordura nos vasos sanguíneos, estima-se que os primeiros sintomas ocorrem quando 75% de uma artéria já está comprometida.
Os sinais da doença vão depender do lugar afetado, por exemplo, se as artérias do coração forem obstruídas, pode causar dores no peito (peso, aperto, queimação ou até pontadas), falta de ar, sudorese e como consequência, infarto. Já nas artérias que irrigam o cérebro, a aterosclerose causar sintomas como desmaios, paralisias temporárias, perturbações visuais e pode levar ao acidente vascular cerebral (AVC).
Na maioria das vezes, a aterosclerose está relacionada aos fatores de risco tradicionais, como sedentarismo, alimentação inapropriada, pressão alta, diabetes, colesterol elevado, tabagismo e obesidade.
“Outras causas de ataques cardíacos incluem espasmos das artérias coronárias (causando sua constrição), trauma torácico ou qualquer outra coisa que reduza o fluxo sanguíneo para o músculo cardíaco. Independentemente da causa, bloquear ou reduzir o fluxo de sangue por esses tubos pode fazer com que o músculo cardíaco não receba oxigênio e nutrientes suficientes. Então, células no músculo cardíaco podem ser feridas ou morrer”, escreveram os autores.
Parada cardíaca
A parada cardíaca é o resultado de irregularidades no batimento cardíaco, tornando mais difícil para o coração bombear sangue efetivamente pelo corpo. Essas irregularidades no batimento cardíaco são geralmente devido a mau funcionamento elétrico no coração. Segundo os autores do artigo, existem quatro tipos distintos:
Taquicardia ventricular: um ritmo cardíaco rápido e anormal em que o batimento cardíaco é maior que 100 batimentos por minuto (adulto normal, a frequência cardíaca em repouso é geralmente de 60-90 batimentos por minuto). Essa frequência cardíaca rápida impede que o coração se encha de sangue e, portanto, bombeie adequadamente.
Fibrilação ventricular: em vez de batimentos regulares, o coração treme ou “fibrila”, assemelhando-se a um saco de vermes, resultando em um batimento cardíaco irregular maior que 300 batimentos por minuto.
Atividade elétrica sem pulso: surge quando o músculo cardíaco não consegue gerar força de bombeamento suficiente após estimulação elétrica, resultando em ausência de pulso.
Assistolia: o ritmo cardíaco plano clássico que você vê nos filmes, indicando ausência de atividade elétrica no coração.
“A parada cardíaca pode surgir de inúmeras condições subjacentes, tanto relacionadas ao coração quanto não, como afogamento, trauma, asfixia, choque elétrico e overdose de drogas. A parada cardíaca de James, por exemplo, foi atribuída a um defeito cardíaco congênito, uma condição cardíaca com a qual ele nasceu”, disseram.
Mas entre as muitas causas de uma parada cardíaca, a doença cardíaca isquêmica, como um ataque cardíaco, se destaca como a causa mais comum, respondendo por 70% de todos os casos.
Como um ataque cardíaco pode causar uma parada cardíaca?
Durante um ataque cardíaco, o músculo cardíaco pode ser danificado ou partes dele podem morrer. Esse tecido danificado ou morto pode interromper a capacidade do coração de conduzir sinais elétricos, aumentando o risco de desenvolver arritmias, possivelmente causando uma parada cardíaca.
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"Embora um ataque cardíaco seja uma causa comum de parada cardíaca, uma parada cardíaca geralmente não causa um ataque cardíaco", explicam os autores.
Sinais e sintomas
Os sinais mais comuns de uma parada cardíaca são perda repentina de consciência, ausência de pulso ou batimento cardíaco, parada respiratória e pele pálida ou azulada. Entretanto, os sintomas mais comuns de um ataque cardíaco incluem dor no peito ou desconforto, que pode aparecer em outras regiões do corpo, como braços, costas, pescoço, mandíbula ou estômago. Também são frequentes falta de ar, náusea, tontura, palidez e suor.