ELEIÇÕES SÃO PAULO

"Faz o M": Pablo Marçal, o candidato conservador que sacode a disputa à Prefeitura de São Paulo

Marçal pode, inclusive, ameaçar o monopólio do ex-presidente sobre o conservadorismo no país, afirmam especialistas

Pablo Marçal, o candidato conservador que sacode a disputa à Prefeitura de São Paulo - Nelson Almeida/AFP

Ele se sente como um peixe dentro d'água nas redes sociais, usa a provocação como estratégia e surfa a onda conservadora que levou ao poder Jair Bolsonaro, Donald Trump e Javier Milei. Pablo Marçal, de 37 anos, candidato do Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB), sacode a disputa à Prefeitura de São Paulo.

Desde o começo de agosto, quando entrou oficialmente na corrida para governar a maior cidade da América Latina, com 12 milhões de habitantes, a popularidade deste influenciador e "coach" só fez crescer.

Faltando menos de um mês para o primeiro turno das eleições municipais, em 6 de outubro, Marçal lidera as intenções de voto com 22%, segundo a última pesquisa Datafolha, em empate técnico com o prefeito Ricardo Nunes (MDB), apoiado pelo ex-presidente Bolsonaro, e Guilherme Boulos (PSOL), candidato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Ele ganhou terreno atraindo votos do bolsonarismo, setores evangélicos e jovens com um discurso considerado agressivo, que apela à "liberdade" e repudia tudo o que considera comunismo.

"Essa onda que eu faço parte tem dois mil anos, chama-se cristianismo. Cristianismo defende a liberdade. E está na sintonia do que a maioria das pessoas querem, que é paz", diz Marçal à AFP, ao final de um dia de campanha que reuniu ricos e pobres em um bairro nobre da capital paulista.

"As pessoas querem liberdade, querem falar o que pensam. Não querem se curvar para a ideologia de gênero. Não querem essa agenda 'woke', que é completamente retardada", acrescenta, em alusão a um termo usado para designar políticas consideradas liberais ou de esquerda.

Principal ator digital
Marçal fez da letra "M", inicial de seu sobrenome, a logo de sua campanha, centrada em propostas de austeridade, para tirar os "incompetentes" do setor público e para geração de emprego, especialmente para os pobres.

A letra estampa o centro do boné azul que ele e seus apoiadores costumam usar, e seus simpatizantes desenham com a mão quando posam para fotos, repetindo o lema "Faz o M".

"O que ele fala é o que a população brasileira gostaria de falar", garante Sara Maria Nunes, enfermeira de 50 anos, usando o já famoso acessório na cabeça.

Filho de um funcionário público e de uma empregada doméstica, o candidato do PRTB nasceu em Goiânia (GO) e ficou famoso na internet dando conferências motivacionais e cursos sobre como ganhar dinheiro.

É o mais rico entre os candidatos à Prefeitura de São Paulo, segundo a imprensa local.

Carismático, de silhueta atlética, casado com uma mulher profundamente cristã como ele e pai de quatro filhos, tem feito um uso tão estratégico quanto controverso de suas redes sociais, nas quais supera os 25 milhões de seguidores.

"Sou o principal ator digital hoje do país", afirma.

Ele prometeu remunerar quem criar perfis para compartilhar seus vídeos, o que levou à suspensão de algumas de suas contas pela justiça eleitoral. Irônico, agradeceu a sanção ao avaliar que "toda perseguição acelera o processo" para a vitória.

Perto e longe do bolsonarismo
Marçal admite que algumas de suas declarações mais polêmicas, várias com conteúdo falso, são uma tática para "chamar a atenção" de eleitores e da mídia, à qual agradece com sarcasmo por falar tanto dele.

Ele chamou de idiotas os eleitores do presidente Lula, insinuou que Boulos, um de seus adversários na disputa à Prefeitura paulistana, era "cheirador de cocaína" e sugeriu que mandaria os comunistas de ônibus para a Venezuela.

"Eu não vou me curvar, nem vou me escusar de falar o que precisa ser falado. Agora, depois do período eleitoral, não precisa dessa guerra toda", afirma Marçal, que admite seu interesse em ser presidente do Brasil.

Seus críticos lembraram, entre outros escândalos, que ele foi condenado a quatro anos e meio de prisão por furto em 2010, embora não tenha chegado a cumprir pena, e os supostos vínculos de pessoas de seu partido com o crime organizado.

"O Marçal representa esse suco puro da extrema direita, de ódio, de mentira", diz Boulos.

Embora compartilhem estilos e ideias, Marçal não tem o apoio oficial do ex-presidente Bolsonaro (2019-2022), com quem tem tido rusgas.

Marçal pode, inclusive, ameaçar o monopólio do ex-presidente sobre o conservadorismo no país, afirmam especialistas.

Parte dos bolsonaristas consideram que seu líder os "traiu" ao se aliar a Nunes, a quem consideram um "político tradicional", segundo Jonas Medeiros, diretor de pesquisas no Centro para a Imaginação Crítica.

E esse apoio ao atual prefeito permitiu que Marçal se apresentasse como "candidato fora do sistema político", acrescenta Medeiros.

Não importa sua experiência eleitoral precedente. Em 2022, Marçal foi eleito deputado federal (PROS-SP), mas o registro de sua candidatura foi indeferido por irregularidades financeiras.