RECIFE

Autismo na vida adulta é pauta de congresso, no Recife

Evento, que vai até o próximo domingo (15), reuniu especialistas no assunto

II Congresso Autismo na Vida Adulta, promovido pelo Instituto Dimitri Andrade - Clarice Melo / Folha de Pernambuco

A segunda edição do ‘Congresso Autismo na Vida Adulta’ reuniu, na manhã desta sexta-feira (13), centenas de pessoas, no Centro de Eventos Recife, na Imbiribeira, Zona Sul da cidade.

O encontro, que vai até domingo (15), visa promover a saúde, o bem-estar e a independência para o adulto que tem o Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Um levantamento do Centro de Controle de Doenças e Prevenção (CDC) dos Estados Unidos aponta que, no mundo inteiro, mais de 75 milhões de pessoas, com 18 anos ou mais, são autistas. Já, segundo dados do portal Autism Speaks, 85% dessa população está desempregada.

A fim de promover uma imersão no assunto, os profissionais abordaram, com dezenas de painéis, assuntos que vão desde o tratamento de TEA na infância até os desafios da inserção e permanência dessas pessoas no mercado de trabalho.

 

Assunto ainda pouco discutido
O evento foi idealizado pela psicóloga, especialista em autismo e diretora do Dimitri Andrade, Frínea Andrade, que acredita ser possível falar abertamente deste assunto que é considerado como pouco discutido. Ela tem como objetivo preencher a lacuna histórica de falta de conhecimento e de profissionais que lidem diretamente com a temática.

“O autismo é muito pensado na infância e na adolescência. Quando eles crescerem, o que será ofertado? O congresso vem trazer essa realidade de fechamento e abertura de ciclos que, perpassando, chegam na vida idosa”, explica ela.

Andrade pontua ainda que os temas abordados no encontro vão refletir diretamente, tanto na vida de quem tem o transtorno como na de quem convive com essas pessoas.

“Vamos falar sobre empregabilidade, como percorrer essa jornada para o ingresso no mercado de trabalho, moradia assistida e os direitos da pessoa com autismo, porque elas têm toda uma legislação que as resguardam. Também existem atitudes recomendadas que a família deve seguir para resguardar o direito dessas pessoas”, complementa a especialista.

João Paulo de Castro, de 38 anos, é bacharel em direito e escritor. Ele, que tem autismo, já escreveu três obras sobre o assunto.

Castro também está entre os palestrantes do evento e conversou com a reportagem da Folha de Pernambuco. Ele explicou os desafios que enfrentou na caminhada, desde os estudos até entrar no mercado de trabalho.

“As questões mais difíceis são as de inclusão e acessibilidade, porque, geralmente, nem toda equipe profissional está capacitada para receber esses profissionais [com autismo], por não entenderem questões relacionadas a ambientes, acústica, luminosidade e que envolvem a hipersensibilidade e os rituais que contribuem para que tenhamos uma rotina bem estruturada. Se alguém cometer alguma desordem nesse sentido, pode provocar uma crise potencial”, comentou ele.

O palestrante revelou ainda que já ouviu, durante o decorrer dos anos, comentários preconceituosos e jocosos, mas precisou ser forte e resiliente para não se deixar abater.

“Eram pessoas que estavam numa certa hierarquia e tinham poder. Eles diziam que eu não tinha compromisso com o meu trabalho, porque eu estava descansando do lado de fora, pois eu não tinha espaço de autorregulação e me sentia desrespeitado. Era uma situação vexaminosa. Mas, felizmente, eu consegui encontrar, em outras ocasiões, em ambientes de trabalho, pessoas abertas a me conhecer, que me respeitavam e me aceitavam assim como eu sou”, finalizou.

Uma apresentação musical do sanfoneiro Anderson Henrique, musicoterapeuta do Instituto Dimitri Andrade, abriu o evento. As músicas selecionadas foram populares e promoveram no público alegria e valorização da cultura regional. “Asa Branca”, de Luiz Gonzaga, esteve no repertório.

A primeira palestra ficou por conta da doutora Sophie Eickmann. Durante o painel, ela abordou a dúvida sobre protocolos para tratamento do TEA na infância e adolescência.

Psicóloga e terapeuta de família e casais, Lucia Freire, aborda, domingo (15), o impacto do autismo na dinâmica familiar. Segundo ela, a descoberta do espectro muda a rotina e o estilo de vida das pessoas, promovendo uma readaptação familiar.

“São diversas fases individuais e familiares. Cada uma tem um desafio peculiar. Mas, quando existe algum familiar neurodivergente, nós temos a sensação de que a família toda se converte para receber aquele membro. Isso tem um impacto. Às vezes, é num irmão ou no casal [de pais] que, em determinadas vezes, sofre com uma separação conjugal. A família extensa [tios e avós] também é impactada, além do social, porque muitas dessas famílias são excluídas ou têm vergonha de se apresentar em público, por causa de um olhar preconceituoso da sociedade”, pontuou ela.

Como se inscrever no congresso?
Como o evento vai até o próximo domingo (15), os interessados podem se inscrever no site oficial do encontro.