Rebecca Cheptegei: Uganda se despede da atleta morta após ter corpo incendiado por ex
Familiares e amigos estiveram no funeral de Cheptegei, de 33 anos, que fez sua estreia olímpica na maratona de Paris 2024
O funeral da atleta ugandense Rebecca Cheptegei, falecida devido aos graves ferimentos causados por seu ex-companheiro, que a incendiou após jogá-la gasolina, aconteceu neste sábado em Bukwo, Uganda, na presença de sua família.
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Familiares e ativistas pelos direitos das mulheres prestaram homenagem a ela na sexta-feira no Quênia, onde vivia e onde foi assassinada, na cidade de Eldoret, no Vale do Rift.
Quando o cortejo fúnebre passou por Eldoret, ponto de partida para Uganda, dezenas de ativistas se alinharam nas margens da estrada, enquanto outros caminhavam ao lado do féretro.
Terceira atleta assassinada
Cheptegei é a terceira atleta a morrer no Quênia devido à violência de gênero desde 2021, após os assassinatos de Agnes Tirop e Damaris Mutua.
O anúncio de sua morte causou grande comoção e indignação.
A atleta de 33 anos sucumbiu em 5 de setembro aos ferimentos sofridos quatro dias antes, após o ataque de seu agressor, Dickson Ndiema Marangach, de 32 anos.
O agressor, descrito pela polícia como seu companheiro, faleceu na segunda-feira em um hospital do Quênia, vítima de suas próprias queimaduras.
Neste sábado, familiares da atleta, vizinhos de Bukwo e figuras do atletismo prestaram uma última homenagem, a 380 quilômetros ao nordeste da capital, Kampala.
A cerimônia em sua memória começou às 10h00 (horário local) na prefeitura da cidade.
Cheptegei era "uma heroína", declarou Bessie Modest Ajilong, representante local da presidência de Uganda, à AFP.
De acordo com a organização do funeral, o corpo da atleta seria levado para um estádio onde os moradores de Bukwo poderiam se despedir antes do enterro à tarde.
"Estamos muito tristes", disse na sexta-feira Simon Ayeko, ex-marido de Cheptegei, com quem ela tinha dois filhos.
"Como pai, tem sido muito difícil", acrescentou, explicando que ainda não havia contado a notícia às crianças. "Aos poucos, diremos a verdade a elas."
Epidemia de feminicídios
Dezenas de atletas viajaram até a pequena cidade de Uganda para participar da cerimônia de despedida da maratonista, que terminou em 44º lugar nos Jogos Olímpicos de Paris em 11 de agosto.
"Ela contribuiu muito para promover o atletismo até seus últimos dias", afirmou Alex Malinga, que a treinou na adolescência.
Segundo um relatório policial consultado pela AFP, Dickson Ndiema Marangach entrou na propriedade de Cheptegei enquanto ela estava na igreja com suas filhas.
A maratonista vivia com sua irmã e suas duas filhas em uma casa que havia construído em Endebess, a 25 quilômetros da fronteira com Uganda, onde treinava, contou seu pai, Joseph Cheptegei.
Quando retornaram da igreja, Marangach a incendiou após jogá-la gasolina na frente de suas filhas, de 9 e 11 anos, segundo o jornal The Standard.
O relatório policial descreve Cheptegei e Marangach como "um casal que frequentemente discutia".
A morte de Cheptegei gerou um apelo de diversas organizações de direitos das mulheres no Quênia para que as autoridades tomem medidas contra a violência de gênero no país.
Um relatório da ONU sobre Drogas e Criminalidade (UNODC) registrou 725 mulheres assassinadas em feminicídios em 2022, o número mais alto nos dados da agência desde 2015.
No início do ano, milhares de mulheres protestaram na capital, Nairóbi, e as organizações pediram que o governo trate o problema como "uma catástrofe nacional".