Incêndios não dão trégua no Brasil
Nos primeiros dias de setembro, o número de incêndios já superou o registrado no mesmo mês do ano passado
Em meio à pior seca já registrada, o Brasil continuou lutando na sexta-feira (13) contra milhares de incêndios, cuja fumaça atinge grandes cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, além de afetar países vizinhos.
"O governo federal, junto com os governos estaduais e municipais, está trabalhando para combater os focos de incêndio criminosos pelo país", escreveu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na rede social Bluesky.
Nos primeiros 12 dias de setembro, o número de incêndios (49.266) já superou o registrado no mesmo mês do ano passado (46.486), de acordo com medições do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) a partir de dados de satélite.
Até a meia-noite de quinta-feira, o Brasil acumulava 60,7% das queimadas ocorridas em setembro de 2024 em toda a América do Sul, segundo a entidade.
Vários desses focos estão concentrados em áreas naturais importantes, como a Amazônia, o bioma do Cerrado e o Pantanal.
Na sexta-feira, o fogo também atingiu o norte da cidade de São Paulo, onde um helicóptero da polícia militar tentou apagar um incêndio florestal próximo à favela de Brasilândia, constatou a AFP.
O Brasil já emitiu cerca de quatro megatoneladas (1 megatonelada equivale a 1 milhão de toneladas) de dióxido de carbono devido aos incêndios em setembro, disse à AFP Mark Parrington, cientista do observatório europeu Copernicus. Incêndios em todo o mundo emitiram entre 10 e 15 megatoneladas no mesmo período.
"Isso reflete o grande número de incêndios no Brasil, sua intensidade e persistência durante o último mês, à medida que atingimos o auge da temporada de incêndios", explicou o especialista.
- "A fumaça, a escuridão" -
Grande parte dos incêndios no Brasil, cuja fumaça já se espalhou para países vizinhos como Uruguai e Argentina, tem origem criminosa, muitas vezes ligada à atividade agrícola, de acordo com as autoridades.
Pressionado para oferecer respostas à emergência, o presidente Lula instou a população a denunciar os responsáveis.
O governo anunciou na quarta-feira a criação de uma força-tarefa que, entre outras medidas, reforçará as sanções contra aqueles que causarem danos ambientais por meio de queimadas.
O avanço das chamas é facilitado por uma seca histórica, que especialistas atribuem às mudanças climáticas, e pela baixa umidade do ar.
O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu um alerta de "perigo" nesta sexta-feira para áreas do sudeste e para o centro do país, devido a níveis de umidade entre 12% e 20%.
"Quando cai a noite, em vez de o solo ficar mais úmido para apagar a brasa, agora não está ficando úmido, só baixa um pouco a temperatura", explicou o capitão Roberto Farina, porta-voz da Defesa Civil de São Paulo, à Folha de S. Paulo.
"Parece que o incêndio foi apagado, mas a brasa continua queimando, imperceptível. No dia seguinte, começa a esquentar e a brasa volta a acender", acrescentou Farina, destacando as dificuldades no combate aos incêndios nessas condições.
Em Mangaratiba, na Costa Verde do Rio de Janeiro, a visibilidade estava reduzida devido à fumaça dos incêndios que queimam há dois dias nas montanhas ao redor.
Com temperaturas crescentes e nuvens de fumaça em todo lugar, Gilberto de Oliveira Santos, um morador de 79 anos, afirmou que não se trata de um "fenomenozinho".
"A gente vê na televisão que falam muito em Amazônia, até no Paraná. Mas a gente sabe que está no Brasil todo", disse à AFP.
"A gente sente no ar. É visual. É visual a fumaça, a escuridão, a narina tem problema", acrescentou.
Outra moradora, Marta da Conceição da Silva, de 49 anos, relatou que sua família está com dificuldade para respirar devido à nuvem tóxica.
"Eu nunca imaginei que iria acontecer aqui em Mangaratiba", afirmou à AFP.