Semiárido ganha quase três vezes mais cisternas em seis meses de 2024 do que em todo ano 2022
A ação, promovida pela Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), tem cerca de 80 mil pessoas sendo beneficiadas com água potável para beber, cozinhar e produzir alimentos
Em apenas seis meses de 2024, o Semiárido brasileiro ganhou três vezes mais cisternas do que em todo o ano de 2022. A ação, promovida pela Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), em parceria com o Governo Federal, acontece através do Programa Cisternas, que divulgou que, no primeiro semestre deste ano, alcançou a marca de 16.365 novos reservatórios entregues nos nove estados do Nordeste e em Minas Gerais.
O balanço divulgado pela ASA revelou também que, por trás do número expressivo de reservatórios implementados, estão cerca de 80 mil pessoas sendo beneficiadas com água potável para beber, cozinhar e produzir alimentos.
Pernambuco foi o terceiro estado mais contemplado em números absolutos de cisternas construídas, com 2.267 novos reservatórios. Em primeiro e segundo vêm Bahia (3.911) e Ceará (3.852). Minas Gerais aparece em quarto na lista, com 1.755 implementações.
O resultado do programa está representado no cotidiano de agricultores familiares, além de pequenos criadores de animais, que juntos podem armazenar 300 milhões de litros de água da chuva, o equivalente a 600 mil caixas d’água residenciais. Uma dessas pessoas é Rosimeire Silva, moradora do Assentamento Solidão, em Mossoró (RN). Ela é produtora rural, e, com aa implantação do reservatório de 52 mil litros, vai poder ampliar ainda mais seu negócio.
“Agora tenho poucas galinhas, mas se Deus quiser, com essa cisterna vou aumentar a produção e aumentar a minha renda”, garantiu Rosimeire, que também investe na criação de caprinos e ovinos.
“Mais de 16 mil tecnologias já construídas trazem uma perspectiva maravilhosa para as famílias depois de um período grande de paralisação dos programas. É um momento que, apesar dos desafios, é de alegria por ver de volta todo esse contexto de atuação junto às comunidades, de fazer brilhar nos olhos das famílias a esperança em ter as condições básicas para permanecer no campo e viver com dignidade”, completou o membro da coordenação executiva da ASA Brasil, Valmir Soares de Macedo.
Programa Cisternas
O Programa Cisternas é uma política pública criada há 20 anos a partir da experiência das organizações sociais da Rede ASA. A iniciativa atua na democratização da água no Semiárido, por meio de organização em duas frentes: Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC) e Programa Uma Terra Duas Águas (P1+2).
O P1MC garante a implementação de reservatórios com capacidade para 16 mil litros destinados ao consumo humano - primeira água - das famílias, e de 52 mil litros para abastecer unidades de ensino por meio do projeto Cisternas nas Escolas. Já o Programa Uma Terra Duas Águas (P1+2) é responsável pela construção de tecnologias de 52 mil litros para irrigação e criação de animais - segunda água.
A rede articula as ações por meio de um modelo participativo que envolve os mais diversos atores da sociedade. De acordo com o coordenador Valmir, o Programa Cisternas precisa, de fato, ser uma política estruturante de acesso à água potável e de assistência para produção agroecológica.
“É fundamental que o governo brasileiro e os governos dos estados viabilizem a continuidade dessa política de estocagem de água, dando as condições que as famílias precisam para que, a partir daí, possam contribuir com a segurança e soberania alimentar e nutricional do país. O que se espera da sociedade, é que ela apoie a ASA nessa missão tão nobre e que tem muito ainda por fazer”, defendeu o coordenador.
Investimentos e monitoramento
A ASA afirma que, até o ano que vem, por meio de contrato assinado com o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), serão entregues 47.550 cisternas de primeira água e 4.073 de segunda água. O investimento é de quase R$ 300 milhões do Governo Federal e outros R$ 12 milhões de contrapartida dos estados.
Na parceria da ASA com a Fundação Banco do Brasil (FBB), e apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), estão sendo investidos R$ 46,4 milhões na construção de 1.400 reservatórios para a produção de alimentos.
Até lá, no entanto, muito trabalho ainda tem que ser feito. Isso já começa entre esta terça (17) e quinta (19), quando representantes da ASA e do Governo Federal se reúnem para avaliar o andamento do Programa Uma Terra e Duas Águas. A Oficina de monitoramento do P1+2 será em Camaragibe (PE), na Região Metropolitana do Recife.
Além de analisar as ações do programa, o evento também será uma oportunidade para debater temas urgentes do Semiárido. Está prevista a mesa “Em defesa do território”, que tratará das ameaças que afetam a região como os megaempreendimentos de energias renováveis. Em um outro momento, participantes e convidados debaterão sobre “Segurança alimentar e produção de alimentos no Semiárido”, destacando as práticas exitosas de cultivo sustentável e as perspectivas para a região.