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Como Israel teria explodido os pagers do Hezbollah?

Ainda não há um consenso sobre como a ação teria sido conduzida, embora a maior parte dos analistas concorde com a hipótese do uso de explosivos

Pager de integrante do Hezbollah que foi explodido no Líbano. - Reprodução/Redes Sociais

A explosão simultânea dos pagers — um dispositivo eletrônico usado para a recepção de alertas e mensagens curtas — de centenas de membros do Hezbollah nesta terça-feira levou à morte de nove pessoas e deixou mais de 2.800 feridas no Sul do Líbano.

A teoria mais lógica apontada pelos especialistas é a de que os dispositivos foram alterados ainda na cadeia de produção, o que sugere uma infiltração de alto nível e um novo sucesso para os serviços secretos de Israel, apontado pelo grupo e pelo governo libanês como agente do ataque — o país ainda não se pronunciou, mas fontes do governo israelense confirmam que a ordem veio do premier Benjamin Netanyahu.

Ainda não há, entretanto, um consenso sobre como a ação teria sido conduzida, embora a maior parte dos analistas concorde com a hipótese do uso de explosivos.

 

Ao Wall Street Journal, um integrante do Hezbollah afirmou que os aparelhos que explodiram provavelmente faziam parte de um mesmo carregamento recebido pelo grupo nos últimos meses. E que, pouco antes das explosões, os equipamentos esquentaram rapidamente.

— O dispositivo pode ter sido manipulado na fonte, antes de sua distribuição entre os usuários, e pode ter sido introduzido algum tipo de carga explosiva que, por meio de programação específica e remota, dá origem a explosões — disse Marc Rivero, chefe de pesquisa da empresa de segurança Kaspersky, ao El País.

Explosivos
Canais árabes afirmaram que a agência de inteligência externa de Israel, o Mossad, implantou explosivos nos compartimentos de bateria dos aparelhos. Segundo uma das redes, a agência "conseguiu acessar os dispositivos de comunicação do Hezbollah antes de sua entrega ao grupo", inseriu uma quantidade de PETN — ou tetranitrato de pentaeritritol, um explosivo altamente eficaz — nos pagers "e o detonou aumentando a temperatura da bateria". Um integrante dos serviços de segurança libaneses disse à al-Jazeera que cada equipamento poderia ter até 20 gramas de explosivo.

Segundo o New York Times, o material explosivo foi escondido numa leva de pagers importados pelo Hezbollah de Taiwan, alterados antes de chegarem ao Líbano. Uma mensagem teria acionado os explosivos.

A hipótese já havia sido levantada por um ex-especialista em munições do Exército britânico à BBC. A fonte, que pediu para não ser identificada, disse que os aparelhos provavelmente continham "entre 10 e 20 gramas cada" de explosivo de nível militar, "escondidos dentro de um componente eletrônico falso". Assim, ativados por um sinal (como uma mensagem de texto alfanumérica simultânea), seriam acionados e explodiriam quase ao mesmo tempo.

"De acordo com as gravações de vídeo [...], um pequeno explosivo do tipo plástico estava certamente escondido junto à bateria [dos pagers], para que pudesse ser ativado remotamente através do envio de uma mensagem", considerou na rede social X Charles Lister, especialista do Middle East Institute (MEI).

Ao canal catari al-Jazeera, o analista militar e político Elijah Magnier afirmou que o Hezbollah depende fortemente dos dispositivos e especulou que eles tenham sido manipulados antes mesmo de chegarem nas mãos do grupo. Magnier também afirmou que, pela forma como ocorreram as detonações, os pagers tinham ao menos "alguma quantidade de explosivos".

— Este não é um sistema novo. Foi usado no passado. Então, neste caso, houve envolvimento de uma terceira parte para permitir o acesso, para ativar as explosões remotamente — explicou.

Ele ainda levantou um ponto que preocupa não apenas o Hezbollah: o Irã fornece quase todos os itens eletrônicos usados pelo grupo libanês, e uma sabotagem desse tipo sugere uma infiltração de alto nível nas cadeias de suprimentos locais.

Malware
Para Michael Horowitz, chefe de inteligência da empresa de segurança Le Beck International, as explosões podem ter sido provocadas por um malware, um código ou programa instalado em equipamentos eletrônicos destinado a prejudicar o sistema ou seus usuários. Ele diz que o malware pode ter provocado o superaquecimento da bateria, levando à explosão, mas concorda com Magnier sobre a provável infiltração na linha de montagem dos pagers.

— De qualquer forma, este é um ataque muito sofisticado — disse o especialista ao Wall Street Journal. — Particularmente se for uma violação física, pois isso significaria que Israel tem acesso ao produtor desses dispositivos. Isso pode ser parte da mensagem que está sendo enviada aqui.

Para Emily Harding, ex-analista da CIA para o Oriente Médio, saber onde as vítimas estavam e se as explosões aconteceram exatamente todas ao mesmo tempo ajudaria a traçar um quadro mais claro sobre a forma como a ação ocorreu. Mas ela também aposta na hipótese de dispositivos alterados na cadeia de produção.

— Talvez o Hezbollah tenha feito uma atualização de seus pagers, e os novos foram alterados. Então o gatilho deve ter sido algum tipo de sinal — disse à BBC.

Outras hipóteses
Para Riad Kahwaji, analista de segurança radicado em Dubai, há ainda a teoria de que, como "Israel controla grande parte das indústrias eletrônicas do mundo, talvez uma das fábricas que possui tenha fabricado e enviado aqueles dispositivos explosivos que explodiram hoje".

— Seja se fazendo passar por fornecedor ou incorporando o equipamento manipulado diretamente na cadeia logística do Hezbollah através dos seus pontos de vulnerabilidade [caminhões de transporte, navios mercantes], eles conseguiram distribuir os pagers dentro da organização — disse Mike DiMino, especialista em segurança e ex-analista da CIA.

Ele também comentou que "organizar adequadamente uma operação dessa magnitude leva meses, senão anos".

Com agências internacionais.