opinião

Tardia providência

Que pena, que o país virou fumaça, de fogo e de decepção, pela morosidade no enfrentamento das consequências do maior desastre ambiental de nossa história, desta feita não causado pela inundação, restrita ao extremo sul do País, mas sim pelo fogo, que arde em todo território nacional, desprovido do toque de emergência, entregue-se ao salve-se quem puder.

Infelizmente evidenciou-se no contexto da falta de atitude de caráter emergencial por parte das autoridades, com tudo que estivesse de imediato ao nosso alcance na tentativa de mitigar os terríveis efeitos da tragédia, o que ficou foi a nítida impressão de que a estranha ausência de rápida atitude decorreu do risco de queimar a imagem pública junto com o ambiente de incineração nacional, o que restou dos incêndios, na versão dos antagonistas de plantão, foi que a fumaça encobriu injustificado atraso nas providências em escala compatível com a tragédia.

Observamos, que o receio de que o fogo pudesse comprometer os discursos do palanque eleitoral, parece estar na raiz da ausência de providências na escala e velocidade recomendável, e deveria pelo menos ter se atrelado ao desesperado esforço privado, suprindo o discreto e insuficiente esforço governamental, representado pelos minguados bombeiros convocados de última hora, para enfrentar o maior desastre ambiental da nossa história, com grandes repercussões em âmbito global, contrastando com a imediata reação do pequenino Portugal, com a convocação de mais de seis mil brigadistas no combate aos incêndios de lá.

No circo pegando fogo, reclamando a presença dos bombeiros, o que se viu roubando a cena na mídia, foi o grotesco combate dos pretensos candidatos a gestão da maior cidade do País, como uma amostra de onde chegamos e para onde estamos indo.

Como se não bastasse, resta ainda a suspeita de que os incêndios tenham sido em grande parte provocados, fruto da ação das organizações criminosas, que vem de forma avassaladora ganhando espaço no País.

A dimensão da tragédia que estamos assistindo ao longo dos últimos dias, já merecia pronunciamento governamental em cadeia de rádio e televisão, relatando as providências governamentais adotadas, na tentativa de mitigar os efeitos do desastre, que repercutirá ao longo dos próximos anos na saúde pública e na economia para a sociedade brasileira.

Mais uma vez recorremos aos sábios ditados populares para um alerta aos surdos carentes de bom senso, indiferentes ao aquecimento global, “quando vires a barba do vizinho arder, ponha a tua de molho”, no caso os vizinhos incinerados são os milhares de brasileiros do campo e da cidade sufocados, cobertos de telhados de palha e pedaços de pau pegando fogo! E muitos deles por incrível que pareça são também eleitores à espera de propostas capazes de apagar as chamas que os consomem, no gigante adormecido.

* Consultor empresarial (mgmaranhao@gmail.com)

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