CRÍTICA

"Agatha Desde Sempre": série do Disney + mostra como a Marvel pode reviver seus dias de glória

Spin-off de "WandaVision", produção estreia seus dois primeiros episódios nesta quanta-feira (18)

"Agatha Desde Sempre" - Disney/Divulgação

Agatha Harkness roubou a cena em “WandaVision” e, por isso, conquistou uma série para chamar de sua no Universo Cinematográfico da Marvel (MCU). A personagem interpretada por Kathryn Hahn agora brilha em “Agatha Desde Sempre”, que estreia nesta quarta-feira (18) com dois episódios.

O título chega ao Disney + em lançamentos semanais. No entanto, a Folha de Pernambuco teve acesso antecipado aos quatro primeiros episódios e adianta tudo o que o público pode esperar da produção, que já pode ser apontada como um grande acerto da Marvel Studios após algumas incursões desastrosas no streaming.  

Continuação
A trama é situada três anos após os acontecimentos de “WandaVision”, que culminaram na derrota de Agatha Harkness pela Feiticeira Escarlate (Elizabeth Olsen). Sem poderes e presa em um feitiço de distorção da realidade, a vilã vive como uma moradora comum e deprimida de Westview. 

Graças a um adolescente misterioso vivido por Joe Locke (“Heartstopper”), Agatha se vê livre do feitiço, mas ainda sem conseguir acessar sua magia. Ameaçada por antigos inimigos, ela se junta a um coven (grupo de bruxas) despreparado rumo ao Caminho das Bruxas, um desafio mágico que pode dar grandes poderes às vencedoras ou matar quem fracassar. 

Ousadia
Como spin-off de “WandaVision”, “Agatha Desde Sempre” consegue manter a qualidade e o caráter original de sua antecessora, mas chega a ser ainda mais ousada em suas escolhas. Abraçando sem pudores a estética camp, a série mistura terror, suspense, magia e humor propositalmente exagerado, com um capricho visual digno de obra cinematográfica. 

Essa mescla de gêneros ocorre de forma muito orgânica na produção. Não estranhe se você levar um baita susto em determinado momento e, poucos minutos depois, estiver rindo de uma cena digna de uma comédia pastelão. É essa falta de compromisso com cânones (incluindo das HQs) que torna a série única entre outras adaptações dos quadrinhos para o formato. 

Parte do resultado exitoso da nova obra deve ser creditado ao envolvimento de Jac Shaeffer, uma das mentes por trás de “WandaVision”. É ela quem dirige o episódio piloto, repetindo a “brincadeira” de referenciar outros formatos de séries experimentada em seu trabalho anterior. 

Bruxaria e mistério
Referências, aliás, também estão presentes nos episódios seguintes. Neste caso, elas vêm de filmes de horror, contos de fadas e outras produções da cultura pop em que as bruxas aparecem. 

“Agatha Desde Sempre” também é uma boa pedida para aqueles que gostam de um suspense bem construído. Com personagens que escondem segredos do passado, a série mantém o clima de mistério, gerando expectativas no público a cada final de episódio.

É óbvio que a série não seria a mesma sem o elenco escolhido. Com um indiscutível magnetismo em cena, Kathryn Hahn faz de sua infame personagem o centro das atenções. Mas também há espaço para o restante do grupo de bruxas - formado ainda por Sasheer Zamata, Ali Ahn, Patti LuPone e Aubrey Plaza - brilhar. Destaque também para a volta de Debra Jo Rupp com a destrambelhada Mrs. Hart, simplesmente hilária. 

Uma série "queer"
Não seria surpreendente se, mesmo após tantos elogios, “Agatha Desde Sempre” desagrade um nicho específico de fãs da Marvel. É que a série é, sem dúvidas, uma produção “queer”, protagonizada por personagens LGBTQIAPN+ e que, por vezes, utiliza a figura da bruxa como uma metáfora para falar especificamente dessa comunidade. 

Com base em experiências anteriores, é certo que a intolerância pode acabar fazendo com que a série acumule um número significativo de “haters”. Por outro lado, é preciso levar em conta parte do público da Marvel que não se interessa tanto por suas narrativas mais místicas. 

Deixando de lado intolerâncias ou gostos pessoais, o fato é que “Agatha Desde Sempre” entrega uma aventura divertida e instigante. É a prova de que, ao apostar na ousadia, o MCU pode, sim, tal qual certa bruxa, encontrar um caminho para retomar seus dias de glória.