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Saiba o que é o Mossad, apontado como arquiteto dos ataques a pagers e walkie-talkies

Oficialmente chamado de Instituto para a Inteligência e Operações Especiais, o órgão é responsável, desde 1949, por operações secretas e de espionagem fora de Israel

Soldados do exército libanês fazem guarda enquanto uma ambulância chega após a explosão de um pager ser relatada durante o funeral de vítimas do ataque sofrido no dia anterior - Fadel ITANI / AFP

"Agimos com engenhosidade e criatividade, de acordo com os valores do Mossad de integridade, sigilo e senso de vocação nacional." Assim é descrita a agência de inteligência israelense em seu site oficial. Cercado por uma aura de mistério, o órgão é apontado como arquiteto dos ataques a pagers e walkie-talkies do grupo xiita Hezbollah, no Líbano, deixando um total de 26 mortos, incluindo oito pessoas que o grupo apontou como seus integrantes, e mais de 3 mil feridos.

Oficialmente chamado de Instituto para a Inteligência e Operações Especiais, o Mossad é responsável, desde 1949, por operações secretas e de espionagem fora de Israel. Comparável à CIA dos Estados Unidos ou ao MI6 do Reino Unido, o órgão tem como principais objetivos evitar que inimigos adquiram e desenvolvam armas não-convencionais e prevenir ataques terroristas. A organização é comandada por um diretor, atualmente David Barnea, que responde diretamente ao primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu.

 

Trata-se de um dos principais braços da Comunidade de Inteligência de Israel, composta também pela Aman (Direção de Inteligência Militar, criada em 1950) e a Shin Bet (agência de inteligência mais voltada à segurança interna).

Recrutamento
Nem todos os recrutados pela agência se tornam espiões (ou "katsas"), há uma variedade de cargos possíveis: muitos trabalham em suporte operacional, análise de dados ou desenvolvimento tecnológico. E existem recrutamentos formais, onde pessoas podem se inscrever por meio do site oficial do Mossad, mas também há métodos mais sigilosos, onde potenciais recrutas (judeus e não judeus) são abordados diretamente.

Além da experiência militar, o Mossad busca pessoas com habilidades especiais em eletrônica, computação, linguística. Aqueles que são aceitos passam por um treinamento intensivo que abrange diversas áreas, como espionagem, combate, coleta de informações, vigilância, sabotagem e negociação.

Operações famosas
A operação mais famosa da agência é certamente a captura de Adolf Eichmann, um dos principais arquitetos do Holocausto, na Argentina, em 11 de maio de 1960.

Eichmann, que vivia na Argentina sob o nome falso de Ricardo Klement, foi pego após descer de um ônibus. A abordagem, relatam os arquivos da própria agência, foi feita com cuidado para evitar que Eichmann ingerisse cianeto (alguns nazistas de alto escalão carregavam cápsulas do veneno implantadas em seus dentes para se suicidarem e, assim, evitarem serem capturados e julgados).

Ele foi mantido em uma casa segura por nove dias, depois drogado e disfarçado como membro da tripulação em um voo para Israel. Seu julgamento, em 1961, incluiu depoimentos de sobreviventes do Holocausto, sendo condenado por crimes de guerra e enforcado em 1962, a única execução realizada por Israel.

Outro episódio famoso vinculado a agentes do Mossad está a "Operação Cólera de Deus". Dois episódios do documentário "O mundo da espionagem", na Netflix, detalham a missão. Ela serviu para vingar a morte de 11 atletas israelenses nas Olimpíadas de Munique, Alemanha.

O caso ocorreu em 1972, quando as delegações ficaram em vilas quase sem segurança, graças à crença das autoridades de que não havia riscos. Porém, os apartamentos dos atletas foram atacados e 11 israelenses foram sequestrados. Tudo terminou em tragédia, depois de um plano desastrado das forças alemãs, que recusaram a oferta de colaboração de Israel. Nos anos seguintes, o Mossad executou vários dos envolvidos no atentado.

Em 1965, a agência também teve destaque no noticiário policial depois que o egípcio Eli Cohen foi descoberto e morto ao se infiltrar na cúpula militar da Síria.

Outras operações famosas internacionalmente foram a Entebbe, em 1976, para o resgate de reféns israelenses em um avião sequestrado em Uganda; e a operação Ícaro, em 1981, para interromper o avanço do Iraque na ciência nuclear.

O diretor
Barnea, um ex-soldado de 58 anos, foi nomeado diretor do Mossad em junho de 2021. Segundo a imprensa israelense, ele estudou economia e finanças no Instituto de Tecnologia de Nova York, nos EUA.

Após retornar a Israel, trabalhou como economista em um banco, onde se destacou em fusões e aquisições. Sua experiência como investidor o ajudou a criar empresas fantasmas na Europa e no sudeste asiático, permitindo a infiltração de espiões no Irã.