Tripulantes do Titan sabiam que estavam em perigo? Audiência sobre o desastre derruba teorias
Dois dias de depoimentos de especialistas durante um inquérito da Guarda Costeira dos EUA desafiam a ideia de que os passageiros do submersível sabiam que estavam enfrentando a morte
Não está claro se os cinco mergulhadores do Titan sabiam que estavam em perigo mortal antes do submersível implodir 15 meses atrás. Especialistas, por muito tempo, responderam a essa questão afirmativamente. No entanto, os primeiros dois dias de uma audiência formal conduzida por um painel da Guarda Costeira, que começou na segunda-feira, levantaram dúvidas sobre essa conclusão sombria e trouxeram testemunhos detalhados que sugerem uma interpretação menos dramática.
"Durante toda a descida," afirmou o relatório inicial da Junta de Investigação Marinha, "a tripulação não enviou nenhuma transmissão que indicasse problemas ou emergência." Essa constatação se baseia no exame oficial das comunicações entre o submersível e seu navio de apoio, além da análise do último ato conhecido do submersível — o desprendimento de seus lastros.
Normalmente, o Titan dependia de um grande rack de pesos presos à sua parte inferior para torná-lo mais pesado e acelerar sua descida. Ao se aproximar do fundo do mar, o submersível soltava parte dos pesos para ficar neutro, ou seja, nem subia nem descia. No final da imersão, ele liberava mais pesos para se tornar positivamente flutuante e iniciar a lenta subida. Em caso de emergência, o submersível poderia soltar todos os pesos de uma vez, o que o faria subir rapidamente à superfície.
Logo após a tragédia, meios de comunicação e especialistas sugeriram um cenário de crise. Eles argumentaram que a soltura de pesos indicava que os tripulantes sabiam que estavam em perigo grave e tentavam fazer uma subida de emergência.
O oceanógrafo Robert D. Ballard, conhecido por descobrir o Titanic em 1985, afirmou à ABC News que a tripulação "começou a soltar os pesos para subir à superfície — mas nunca conseguiram". James Cameron, cineasta e especialista em submersíveis, também sugeriu que eles "tentavam gerir uma emergência".
Uma ação judicial de US$ 50 milhões, movida em agosto pela família de Paul-Henri Nargeolet, um dos mortos, alegou que a soltura de pesos indicava que a equipe estava abortando a missão e estava consciente de que iria morrer.
No entanto, a audiência da Guarda Costeira revelou detalhes que contradizem essa hipótese. Em particular, uma última comunicação entre o Titan e o navio de apoio mencionava que o submersível havia "soltado dois pesos". Tym Catterson, contratado pela OceanGate, testemunhou que os dois pesos — cerca de 70 libras no total — foram soltos para ajudar no controle da flutuabilidade enquanto o submersível se aproximava do fundo, e não para voltar à superfície.
Catterson afirmou que esse peso não era suficiente para fazer o Titan subir, já que o submersível normalmente carregava de 200 a 300 libras de lastro.
No fim de seu depoimento, Catterson criticou os meios de comunicação por terem especulado sobre o desastre. Em sua avaliação, a tripulação "não tinha ideia" de que uma implosão catastrófica era iminente.
James Cameron admitiu que não deveria ter repassado informações não verificadas sobre os pesos, mas destacou que o desastre do Titan foi uma "anomalia grotesca" considerando o histórico perfeito de submersíveis tripulados em profundidades extremas até então.
Jason D. Neubauer, que lidera a investigação, já havia desmentido em junho uma transcrição falsa amplamente divulgada que sugeria que os tripulantes lutavam para retornar à superfície.